Após ficar quatro meses sem medir a qualidade da água de nenhuma praia paulista devido à pandemia do novo coronavírus, o serviço de monitoramento voltou e mostrou a existência de mais praias boas que péssimas nos últimos três meses, mas também pontos não indicados para a balneabilidade a maior parte do tempo em oito cidades.
Devido à pandemia da Covid-19, não houve monitoramento da situação das praias entre abril e o final de julho, quando ele foi retomado de forma gradual pela Cetesb (Companhia Ambiental do Estado de São Paulo).
Entre setembro e novembro, 62 pontos em 12 cidades da Baixada Santista e do litoral norte já tinham registrado ao menos sete medições. Desses, 17 (27%) estavam próprios para banho em todas as medições, enquanto 15 (24%) estavam regulares. Houve ainda 17 pontos (27%) ruins e 13 péssimos (21%).
O monitoramento deixou de ser feito em 15 de março e foi retomado parcialmente no fim de julho. Hoje, os 177 pontos de antes da pandemia já são monitorados e o primeiro resultado incluindo todos eles será publicado no fim do mês.
Esses pontos péssimos, que foram considerados impróprios em mais de 50% das medições, foram identificados em oito municípios da Baixada Santista (7 praias) e do litoral norte (6).
Ubatuba tem três desses pontos, nas praias Perequê-Mirim e Itaguá e na foz do rio Itamambuca. A medição no rio surgiu de uma demanda dos usuários e da prefeitura, de acordo com Claudia Lamparelli, gerente do setor de águas litorâneas da Cetesb.
“Como o rio é grande e tem uma parte bem calma, as pessoas usavam e crianças nadavam lá. A chance de a praia ficar imprópria é menor que a do rio, porque há diluição, é uma praia de surfistas, tem bastante onda. Então a contaminação que chegava se dispersava.”
Em geral, as praias que ficam mais tempo impróprias no litoral paulista são as centrais, como Itaguá, em Ubatuba, que ainda tem o agravante de um rio desaguar nela.
As praias do centro das cidades são mais impróprias, segundo a gerente, justamente devido à maior concentração de pessoas. “Em geral, praias nos centros são classificadas como regulares, ruins ou péssimas e, quanto mais longe dessa região, mais melhora a qualidade.”
Ainda no litoral norte, entre setembro e novembro as praias de Porto Grande e Barequeçaba, em São Sebastião, foram classificadas como impróprias a maior parte do tempo, assim como a Indaiá, em Caraguatatuba --que já tinha sido qualificada como péssima no ano passado.
Na Baixada, Santos tem dois pontos péssimos, em Boqueirão e Gonzaga, mesmo total de Praia Grande (Vila Tupi e Boqueirão).
A pior situação geral, porém, é a de Santos, maior cidade do litoral paulista. Além dos dois locais péssimos, os outros quatro monitorados entre setembro e novembro estavam impróprios entre 25% e 50% do tempo, ou seja, ruins.
“Os canais que desaguam nas praias são responsáveis. Quando chove muito tem de abrir as comportas, aí a qualidade [da água da praia] cai bastante.”
Segundo ela, o monitoramento anual das praias dá uma indicação mais precisa sobre o comportamento do que num período reduzido, como o do retorno após a paralisação devido à pandemia.
“Há praias ruins ou péssimas nos últimos dez anos. O usuário pode consultar a situação de 2019 para ter uma noção do comportamento dela.”
Secretário do Meio Ambiente de Santos, o engenheiro Márcio Gonçalves Paulo disse que uma série de medidas diretas e indiretas foram tomadas para melhorar a balneabilidade, como a conscientização em condomínios (sobre coleta seletiva, por exemplo), o mapeamento de áreas com maior descarte incorreto de dejetos animais, a identificação da origem de resíduos sólidos que chegam às praias e instalação de barreiras flutuantes para contenção de resíduos nos 12 canais de drenagem que cortam a cidade.
Eles, segundo a secretaria, foram identificados como uma das fontes de origem do resíduo que chega às praias. “Os canais de Santos nunca foram problema para a cidade, foram a solução. Em 1890, era considerada cidade pestilenta, até peste bubônica teve, era encharcada, um pântano. Saturnino Brito veio, fez trabalho de sanidade e a cidade cresceu graças a isso”, afirmou.
Ele disse que entre os problemas que contribuem para a impropriedade de praias estão ligações de esgoto rompidas, sujeira varrida para o canal --como fezes de animais (são 150 mil na cidade)-- e para as praias durante as chuvas e moradias ilegais em palafitas.
“As palafitas não têm fornecimento regular de água e energia nem esgoto. O material é lançado direto no mangue que, com a maré, é lançado no mar.”
Não há solução única, segundo ele, mas ela passa por fiscalização constante, melhoria das condições de habitação das pessoas e recuperação de áreas de mangue.
Os outros pontos péssimos estão em Itanhaém (Centro), Mongaguá (Vera Cruz) e Peruíbe.
Se banhar em locais sem condições adequadas amplia a chance de contaminação por vírus e bactérias. A doença mais comum é a gastroenterite, que provoca enjoo, diarreia, dor de cabeça e febre. Também há casos de micoses e infecções nos olhos e ouvidos.
Para o verão 2020/21, a recomendação da Cetesb é que os turistas não relaxem em relação aos cuidados de segurança devido à pandemia, mantendo o uso de máscaras e o distanciamento.
“Essa é a época em que as praias têm o maior número de impropriedade, com maiores valores de contaminação fecal, em razão de população e chuva. A chuva é um fator que influencia muito a qualidade das praias, porque ela carreia tudo e isso termina no mar”, afirmou Lamparelli.
De acordo com ela, se chover, ainda que a praia esteja própria para banho, a recomendação é para que as pessoas não se banhem nelas e esperem o dia seguinte.
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