Pensei que eram fogos de artifício, não tiros, diz morador de Criciúma sobre assalto

Maior roubo a banco da história de Santa Catarina deixou habitantes sitiados nesta terça

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Criciúma (SC)

A madrugada desta terça-feira foi classificada como um "terror" e “típica de cenas de filme" pelos moradores de Criciúma, no interior de Santa Catarina, que residem próximo ao banco assaltado no centro da cidade na noite desta segunda-feira (30).

Nos relatos ouvidos pela Folha no local, as reações foram semelhantes, com as pessoas procurando abrigo no corredor e longe das janelas quando viram que a rua estava tomada por pessoas encapuzadas e portando armas de grosso calibre.

De acordo com o delegado Anselmo Cruz, da Deic (Diretoria Estadual de Investigações Criminais), esse foi o maior roubo em proporções da história de Santa Catarina.

Na tarde seguinte ao assalto que deixou a cidade de 210 mil habitantes sitiada, a rua onde fica localizado o Banco do Brasil que teve o cofre explodido pelos assaltantes estava isolada pela Polícia Militar e atraía a atenção das pessoas.

Uma delas é a advogada Aline Castelan, 42, que afirma ter vivenciado, a partir da meia-noite, duas horas de “terror” junto aos filhos de 8 e 15 anos.

“Eu tinha pensado que os barulhos eram de fogos de artifício, mas vi os homens embaixo do prédio, que gritavam ‘saiam das janelas, não queremos matar ninguém’”, disse à Folha. “Então peguei meus dois filhos e fomos para um corredor onde não havia janelas”.

A advogada também disse ter visto que quatros assaltantes estavam posicionados em cada esquina do quarteirão onde estava o banco. Segundo ela, os grupos tinham um líder, que dava as ordens.

“Sempre morei nessa região e nunca vi nada parecido. Foi aterrorizante. Estava rezando para que a polícia não viesse, porque tínhamos certeza que, se ela chegasse, a rua iria virar uma zona de guerra”, afirmou Aline Castelan.

A médica Fernanda Dal Toé, 36, também contou que teve medo de ficar em meio ao fogo cruzado com uma eventual chegada dos policiais ao local. Os moradores do seu prédio chegaram a desligar os elevadores com o intuito de evitar que os assaltantes invadissem os apartamentos.

“Estávamos à mercê do que pudesse acontecer, não tínhamos o que fazer se entrasse alguém. As informações que nos chegavam eram pelo WhatsApp e tinha muita coisa desencontrada”, disse Dal Toé.

Por volta da meia-noite, segundo diferentes relatos, os barulhos foram confundidos por parte dos moradores como de fogos de artifício. Quando viram que a rua estava cercada pelos assaltantes, desligaram as luzes dos apartamentos e procuraram abrigo.

Os carros que passavam nas ruas eram abordados e os motoristas obrigados a retornarem. Em um vídeo que viralizou nas redes sociais, os assaltantes ordenaram para que um veículo parasse em frente à praça do Congresso, uma das mais famosas da cidade.

O condutor não acatou e arrancou com o carro, que foi alvo de tiros. Pelo que se pode perceber pela continuação da filmagem, ele conseguiu escapar do cerco dos criminosos.

Os momentos de tensão só acabaram às 2h, quando os barulhos de tiros cessaram e começaram a circular, pelas redes sociais, imagens de um comboio com os carros dos assaltantes saindo da cidade em velocidade reduzida.

O advogado Luiz Fernando Milanese, de 24 anos, disse que nunca imaginou que iria vivenciar momentos como os da última noite na cidade onde nasceu.

“Você pensa que só vê isso nos filmes, mas não sua cidade. Foram momentos de pânico, eu conseguia escutá-los carregando as armas antes de dar os tiros para cima”, disse.

O engenheiro civil Massaro Oga Júnior, 26, chegou a sair de casa ainda na noite do assalto, cerca de uma hora depois que os barulhos de tiros cessaram.

Ele afirmou ter visto pessoas nas ruas recolhendo o dinheiro deixado pelos assaltantes. A Polícia Militar informou ter prendido quatro pessoas que furtaram R$ 810 mil em frente à agência bancária.

O policial militar Jeferson Esmeraldino, 32, foi alvejado no abdômen em uma troca de tiros com os assaltantes e, até a tarde desta terça-feira (1), estava em estado grave em um hospital da cidade, após ter passado por três cirurgias. ​

De acordo com o delegado Vitor Bianco, da Polícia Civil de Santa Catarina, as informações preliminares da perícia realizada nos carros abandonados sugerem que nove dos dez veículos são blindados e que também foram encontrados vestígios de sangue.

"O fato dos carros serem blindados foi uma surpresa. Em um dos veículos foi encontrado sangue, o que indica que um dos assaltantes teria sido alvejado por algum disparo"

O Banco do Brasil informou à Folha que não se manifestará sobre os valores roubados e disse que não houve nenhum funcionário ou colaborador ferido.

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