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Sem máscara, diretores da Anvisa aproveitam holofotes, falam de religião e citam trabalho árduo

Transmissão de sessão que aprovou vacinas da Covid-19 foi marcada por combate à influência política nas decisões da agência

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São Paulo

Órgão vinculado ao Ministério da Saúde, a Anvisa soube aproveitar neste domingo (17) a audiência de seu canal no YouTube, amplificada pela votação pública para aprovar a utilização emergencial de duas vacinas contra o coronavírus.

Foi a melhor chance da agência para tentar imprimir, durante as cinco horas da reunião exibidas digitalmente, a imagem de uma instituição que trabalhou muito e lutou para não ceder às pressões e negligências políticas e que manteve seu olhar crítico em relação às falhas do governo federal.

Brasília, 17 de janeiro de 2021. Diretor-presidente Antônio Barra Torres em Reunião extraordinária da Diretoria Colegiada da Anvisa de 17/1/2021, para discutir liberação de uso emergencial de vacinas contra a Covid-19. Foto: Divulgação Anvisa
Antônio Barra Torres, Diretor-presidente da Anvisa, em reunião extraordinária da diretoria Colegiada da agênciapara discutir liberação de uso emergencial de vacinas contra a Covid-19 - Divulgação

Precedida por relatórios didáticos e detalhados sobre o desenvolvimento das vacinas de Oxford e a CoronaVac, a transmissão terminou com votação unanimemente favorável ao uso emergencial da medida sanitária para barrar a pandemia.

Entre um voto e outro, os diretores da Anvisa enalteceram a boa aplicação da ciência e da medicina, em uma exibição marcada por discursos sóbrios, inflamada apenas na expressão de solidariedade à população e aos familiares dos 200 mil mortos pela Covid-19, marca atingida neste início de ano. A qualificação dos atributos da equipe da agência também foi uma tônica constante.

Em seu voto, Alex Campos, um dos diretores da agência, elogiou o ex-ministro da Saúde Luiz Henrique Mandetta, demitido em abril do ano passado por divergir de Bolsonaro sobre diversas medidas do governo federal em relação à pandemia.

Campos criticou a ineficiência do poder público, em todas as suas esferas, na gestão da crise sanitária e afirmou que a Anvisa se pauta por evidências.

“No nosso vocabulário não há espaço para negação da ciência. Verdadeiramente não há”, disse, em confronto direto com as manifestações contra a vacina.

O presidente da agência, Antonio Barra Torres, em duas oportunidades, adjetivou como heroico o trabalho da instituição, atribuiu a missão daquela equipe a uma escolha divina e falou sobre pressões de diversas origens que teria enfrentado na condução dos estudos para a aprovação da medida emergencial.

Não deu, porém, detalhes de possíveis embates com o ministro Eduardo Pazuello e o próprio presidente da República, que desde o início da pandemia têm minimizado não apenas os efeitos da Covid-19 na saúde pública, mas também a importância da vacinação.

A audiência do canal no YouTube da Anvisa superou 20 mil. Número baixo, porém amplificado com a replicação pelos principais programas jornalísticos dominicais de TV, com destaque para a cobertura da GloboNews, praticamente em tempo integral da votação.

Durante a sessão, houve cuidado para a descrição de como se dariam os protocolos de contenção do vírus, inclusive com a explicação da razão para não se usar máscaras durante algumas das falas. O uso foi considerado desnecessário em vista de outras medidas, inclusive de uma plateia esvaziada, mas era claro que os diretores não cumpriam o distanciamento mínimo —muitos estudos falam em 2 metros—, especialmente em um auditório fechado.

Para bons entendedores, ficou patente a insatisfação não apenas com o governo. A última provocação contra o populismo de direita também no exterior e os antagonistas das instituições que primaram pela observação científica veio em uma menção ao presidente americano John Kennedy. "Todos respiramos o mesmo ar", foi a frase atribuida ao democrata assassinado em 1963.

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