Prefeito fala em 'esquinas de macumba' e é acusado de intolerância religiosa

Na posse, Washington Reis (MDB) disse que adversários recorreram a despachos contra ele

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Rio de Janeiro

Prefeito reeleito em Duque de Caxias, município da Baixada Fluminense acossado por ataques contra terreiros tocados por traficantes que se dizem evangélicos, Washington Reis (MDB) começou seu segundo mandato acusando adversários de irem a "esquinas de macumba" contra ele.

O prefeito de Duque de Caxias, Washington Reis, do MDB - Mathilde Missioneiro - 9.dez.2019/Folhapress

Cinco entidades civis o denunciaram por intolerância religiosa para o Ministério Público do Rio após seu discurso de posse, realizado no primeiro dia do ano, na Câmara Municipal da cidade.

"É um Deus que não falha, é um Deus que desmoralizou todos os meus adversários. Eles foram no TRE [Tribunal Regional Eleitoral], no STF [Supremo Tribunal Federal], no STJ [Superior Tribunal de Justiça], foram na esquina da macumba, foram a tudo quanto é lugar. Mas Deus jogou por terra, porque o nosso Deus é maior", disse Reis na ocasião.

Ex-subsecretário no governo Sérgio Cabral e com pendências judiciais que em última instância poderiam torná-lo inelegível, Reis foi alvo preferencial dos rivais na corrida eleitoral.

É o mesmo político que, no começo da pandemia, pediu calma à população: "Nossa orientação desde a primeira hora foi manter as igrejas abertas, porque a cura virá de lá, dos pés do senhor".

A dele, um fiel da Assembleia de Deus que dias depois receberia o diagnóstico de Covid-19, veio de um hospital particular na zona sul da capital fluminense.

A representação contra Reis foi protocolada pelo advogado Gustavo Proença em nome do Centro de Articulação de Populações Marginalizadas, da Associação Scholem Aleichem, da Koinonia Ecumênica, do Movimento Intrarreligioso de União Afro e da União de Negros Pela Igualdade/RJ.

"Como pretexto de exaltar sua vitória eleitoral, o representado recorreu ao discurso de intolerância religiosa, como se sua luta de cunho meramente político-eleitoral fosse uma batalha na dimensão 'espiritual' estando ele do lado do 'bem' com a sua religiosidade e seus adversários políticos do lado do 'mal' por seguirem outras denominações religiosas que ele professa", afirma a ação.

"Já é um problema o homem público, no espaço público, fazer essa mistura de política com religião", diz o advogado à Folha. "Agora, o pior de tudo é utilizar esse espaço para defenestrar a fé alheia. Não apenas atribuiu a vitória ao Deus no qual ele crê, mas colocou sobre seus adversários políticos outra crença. 'Olha, eles foram lá na esquina da macumba, têm outra crença, mas meu Deus me concedeu a vitória'. Uma disputa política ele transforma em espiritual, numa fala enquanto prefeito de toda a coletividade. Isso fere a laicidade do Estado."

Em nota encaminhada por sua assessoria de imprensa, o prefeito afirmou que as acusações são feitas "de forma oportunista" e que "na gestão para a qual foi reconduzido, reiteradamente demonstrou respeito a todas as matrizes religiosas, tanto garantindo o direito de todo templo à imunidade tributária sem nenhuma burocracia".

Também disse: "Ainda, por decisão pessoal o prefeito determinou a manutenção do terreiro histórico de Joãozinho da Gomeia, desistindo da construção de creche no local e interrompendo desapropriação em curso. Logo, o direito à liberdade religiosa e à liberdade de expressão pessoal do prefeito jamais podem ser interpretados de forma jocosa, como tentaram alguns grupos diante de seu discurso de posse".

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