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Ricardo Melo

A boiada contra os humanos

Episódios de ataques de ódio, feminicídios, assassinatos de vulneráveis se acumulam pelo país

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Ricardo Melo

Jornalista e apresentador do programa ‘Contraponto’ na rádio Trianon de São Paulo (AM 740), foi presidente da EBC (Empresa Brasil de Comunicação)

Está em curso uma ofensiva criminosa contra os direitos humanos no Brasil.

A ministra Damares Alves, seguindo os ensinamentos de seu companheiro Ricardo Salles, da metade do ambiente, resolveu passar a boiada enquanto a pandemia concentra as atenções de uma população simplesmente aterrorizada com o desgoverno que controla o país.

Damares é conhecida de todas e todos. Além de falsificar o currículo e invocar diplomas que ela nunca teve, é aquela que viu santidades numa goiabeira. Nada mais seria preciso para desqualificá-la.

Mas não. Ela continua firme e forte como ministra da destruição dos humanos.

Agora ela quer mudar a “política de direitos humanos”. Edita decretos, age na surdina e vai rasgando o pouco que foi feito nessa área nos últimos anos.

Um exemplo: entre outros tantos, a ministra da Mulher, da Família e dos Direitos Humanos indeferiu o pedido de anistia formulado por Markus Sokol. Ele é membro da Executiva Nacional do Partido dos Trabalhadores.

O processo foi aprovado há quase quatro anos em uma audiência no Salão Negro do Ministério da Justiça. Direito a parcela única como reparação pela Lei de Anistia. Quem abriu a sessão foi o então ministro da Justiça Alexandre de Moraes, hoje ministro do STF (Supremo Tribunal Feredal).

Ninguém precisa concordar com as opiniões de Sokol, um militante pela democracia desde a adolescência. Foi preso, torturado e mesmo assim até hoje continua lutando pelas suas convicções.

Merece reparações pelas atrocidades cometidas contra ele. Ou apenas o general Eduardo Villas Bôas merece ser tratado como humano apesar de ter ameaçado um golpe se o STF não obedecesse a suas orientações?

A situação é mais grave do que se pensa. Pela via de decretos, Jair Bolsonaro vai armando suas milícias, liberando a venda e posse de armas a torto e a direita. Sua bandeira é a dos “confederados” que tentaram invadir o Capitólio a mando do “Deus Trump”.

Erra quem imagina que tudo se esgota em canetadas para satisfazer fanáticos em redes sociais. Os episódios de ataques de ódio, feminicídios, assassinatos de vulneráveis se acumulam pelo país.

O “guarda da esquina” sente-se empoderado para fazer a lei pelas próprias mãos.

Vimos em São Paulo, há pouco tempo, um acontecimento tenebroso. A administração municipal resolveu plantar pedras debaixo de viadutos para impedir que se transformassem em dormitórios de sem-teto.

O padre Júlio Lancelloti escancarou o escândalo país afora. Solitariamente, apareceu em fotos mostrando o descalabro.

A prefeitura de Bruno Covas (PSDB) assoviou e fingiu que não tinha nada a ver com isso. Estamos combinados, então: qualquer um pode fazer o que quiser nas ruas da cidade com um crachá. Ou mesmo sem.

A pandemia, claro, é a preocupação de todo o povo —menos dos assaltantes do poder ora no Planalto. Mas a “fórmula Salles” vai se impondo nos bastidores, nos decretos, na escuridão das negociatas.

A prosseguir a apatia da sociedade que se pretende esclarecida, quando a luz se acender de novo o que se vai ver não será bom.

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