Descrição de chapéu Coronavírus

Equipes de ambulâncias privadas dizem não conseguir se imunizar em SP

Etapa iniciada dia 9 contempla todos os profissionais de saúde, mas aqueles abaixo de 60 relatam ter sido barrados

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São Paulo

Há um ano, médicos socorristas e enfermeiros cruzam a capital paulista em ambulâncias privadas levando pacientes graves de Covid-19 que precisam ser transferidos de hospitais públicos e particulares. Mais recentemente, passaram a buscar também os doentes vindos em UTIs aéreas da colapsada região Norte do país. Mas o título de profissional da saúde na linha de frente contra o vírus, no caso deles, não garantiu prioridade na fila da vacinação em São Paulo.

Ao contrário dos socorristas do serviço municipal, o Samu, que já foram imunizados, as equipes médicas que atuam em ambulâncias privadas têm recebido negativas ao tentar se vacinar.

Questionada, a Secretaria Municipal da Saúde informou que as prioridades foram definidas conforme o PNI (Plano Nacional de Imunização), além do plano estadual e municipal. Uma nova etapa de vacinação, iniciada na terça-feira (9), contempla, segundo a pasta, todos os profissionais de saúde, incluindo biólogos, dentistas, psicólogos, profissionais de educação física e médicos veterinários.

Na prática, no entanto, o médico Luciano Martins Kaneto, 28, que está todo dia transportando pacientes infectados nas ambulâncias, conta que foi até o ponto de vacinação do Pacaembu, mas ouviu que só médicos com mais de 60 anos estavam recebendo a dose.

"Tenho colegas mais novos que já foram vacinados, mas eu não consegui. Isso que está confuso. Dizem que por ser de empresa privada não tem prioridade, mas no auge da pandemia a gente fazia o transporte dos hospitais de campanha, agora parece que o esforço era em vão, ninguém olha para a gente", diz.

Já o enfermeiro Genilton Nunes, 36, tentou nos hospitais em que busca pacientes diariamente. "Perguntamos sobre a vacina, mas disseram que a quantidade é só para os funcionários, não para os terceirizados", diz. Em uma das empresas em que ele trabalha, a Starex, morreram ao menos 12 profissionais ao longo da pandemia.

A CON7, onde Kaneto dá plantão, presta serviços para o SUS transportando doentes de hospitais como o Hospital Regional de Cotia, Hospital das Clínicas, Hospital Municipal de Parelheiros e o Hospital Municipal da Brasilândia —os dois últimos referência em Covid-19. O serviço privado auxilia o Samu, que é sobrecarregado.

Ainda realiza recepções de cerca de três voos por dia de Manaus e outros estados que buscam atendimento em São Paulo.

Ao buscar informações com a prefeitura, empresários do ramo contam que foram informados que os socorristas não estão na lista de prioridades.

Email da pasta municipal à CON7 afirma que "o município prevê no planejamento de distribuição da vacina, assim que tiverem doses suficientes, contemplar os serviços de saúde federais, estaduais, municipais e os serviços privados".

Na quinta-feira (11), Kaneto disse que recebeu um paciente de Porto Velho vindo de transporte médico aéreo. Eles chegam no aeroporto e são levados em ambulâncias privadas para os hospitais de referência da capital paulista.

De Manaus, calcula, já socorreu mais de dez doentes desde que começou a faltar oxigênio —a cidade enfrentou dois colapsos hospitalares e viu surgir uma variante preocupante do vírus

"A gente tem muito medo, porque são pacientes em estados que a gente nunca tinha visto, e um fluxo enorme. Antes, a gente atendia vítimas de infarto, AVC, depois virou tudo Covid. Veio a segunda onda e parece que não vai ter fim. Não tem como não se imaginar intubado", diz o médico.

O enfermeiro diz que a rotina de trabalho desde março de 2020 inclui em média oito viagens em ambulâncias sem ar condicionado (o aparelho ligado pode contaminar mais o veículo), manuseando doentes por vezes entubados e entrando nos hospitais.

"Você fica cara a cara com o paciente. Com a falta de vagas, percorre grandes distâncias, como sair de Palhereiros [extremo zona sul] para o hospital de campanha do Pacaembu [zona oeste, a 37km]. A gente não se contaminar é Deus, porque o contato é muito próximo", diz Nunes.

O que protege, afirma, são os EPIs (Equipamentos de Proteção Individual): touca, avental, máscara N95, óculos, luva e face shield.

"Eu também tenho filho pequeno, esposa, pai e mãe, sogros. Chego em casa todo dia com medo, a tensão psicológica não para e a agora a gente se sente desprezado. Achamos que seríamos grupo prioritário", diz o enfermeiro.

O Programa Nacional de Imunização orienta que todos profissionais de saúde sejam vacinados. Parte das cidades têm priorizado apenas aqueles que estão na linha de frente do combate à Covid, mas vários municípios da região metropolitana de São Paulo, incluindo a capital, estão vacinando veterinários, educadores físicos e nutricionistas.

Nas redes sociais é possível ver fotos de jovens professores de educação física e psicólogos sendo imunizados, embora outros profissionais na linha de frente contra com o vírus não consigam as doses.

Para o público-alvo, é necessária a apresentação do CPF, Documento do Conselho de Classe ou comprovante de profissão (certificado ou diploma) e comprovante de endereço. Eles devem se dirigir à UBS (Unidade Básica de Saúde) mais próxima ou um dos postos volantes.

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