Descrição de chapéu assembleia legislativa

Integrante de mandato coletivo é destituída após posts sobre volta das escolas

Deputada eleita pela Bancada Ativista diz que colega desrespeitou outra pauta do grupo, contra transfobia; ela nega

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São Paulo

Uma codeputada integrante de um mandato coletivo na Assembleia Legislativa de São Paulo foi destituída do posto por seus colegas após publicações nas redes sociais sobre a reabertura das escolas em São Paulo.

A decisão gerou uma onda de críticas de eleitores nas redes sociais, que afirmaram ver seu voto deslegitimado pela medida.

Raquel Marques, da Rede, foi uma das nove integrantes eleitas pela Bancada Ativista em 2018, no mandato que tem a deputada Mônica Seixas (PSOL) como titular.

As divergências entre elas e outras integrantes já eram objeto de conflito há mais de um ano e se acentuaram com o debate sobre a volta das aulas presenciais.

O ápice, segundo as duas partes envolvidas no conflito, foram duas postagens feitas por Raquel nas redes sociais no final da semana passada.

Uma delas defendia a abertura das escolas para alunos vulneráveis; a outra dizia que a esquerda deveria se indignar com o desrespeito aos direitos das crianças tanto quanto se revolta com a transfobia.

As publicações foram postadas no dia 29, Dia da Visibilidade Trans. Uma das ex-integrantes do mandato da Bancada Ativista é a hoje vereadora Erika Hilton, primeira mulher transgênero a ocupar uma cadeira na Câmara Municipal de São Paulo.

Mônica afirma que brigas e divergências são rotina no mandato coletivo, mas que esse caso era diferente por rivalizar duas pautas importantes para o grupo, a da infância e a da população LGBT+.

Segundo ela, a primeira postagem de Raquel, sobre as escolas, gerou uma crise no grupo por ir contra o que havia sido discutido coletivamente “por horas” no dia anterior, que resultou na decisão de visitar escolas para conferir condições sanitárias in loco. A posição de Mônica é que a volta às aulas antes da vacina é uma “política genocida”.

De acordo com seu relato, a codeputada Paula Aparecida, que é professora, sentiu que a categoria foi ridicularizada por Raquel pelo fato de a publicação conter um meme que mostrava diversos setores da economia de mãos dadas e a educação, representada por um homem negro, de fora.

Já a segunda postagem, disse a titular do mandato, provocou indignação por se dar no Dia da Visibilidade Trans e em meio a ameaças a deputadas do PSOL, inclusive à própria Erika.

“Nos não vamos ter medo de defender aqui as causas que nos trouxeram. Nenhuma está em detrimento da outra”, disse Mônica em vídeo publicado nas redes sociais. “Mas também não podemos tolerar que, num cenário tão grave de ataque a nossas companheiras e lutadoras transexuais, a ofensa venha das nossas fileiras.”

Raquel afirma que a sua segunda publicação foi distorcida para colocarem nela a pecha de transfóbica, que ela não é. Ela apagou as duas postagens sob a justificativa de não se indispor mais com as integrantes do grupo, mas afirma não se arrepender delas.

Seu objetivo, diz, foi apontar a incoerência da esquerda em deixar de lado os direitos das crianças, muitas delas há quase um ano sem ir à escola. Ela afirma discordar da posição dos sindicatos dos professores, que pregam a volta das aulas presenciais só após a vacinação. "Todos sabem que o estoque de vacinas é limitado e que levará muito tempo ainda para que todos sejam imunizados."

O Brasil é um dos países com unidades educacionais fechadas há mais tempo. São 40 semanas, contra média mundial de 22, segundo a Unesco (braço da ONU para a educação).

Raquel afirma que não teve oportunidade de se defender na reunião convocada para debater o seu caso, já que estava em consulta médica para a investigação de um nódulo no seio.

Eleita com foco na infância e com o apoio de muitos movimentos de mães, que agora se manifestam contra sua expulsão, a integrante da Rede afirma que a esquerda tem errado no debate sobre as escolas, ao se alinhar unicamente aos sindicatos de professores, sem considerar os danos da suspensão das aulas para as crianças. "Crianças, mães e mulheres negras são as mais prejudicadas por esse quadro, manter as escolas abertas para quem precisa é uma atitude antirracista."

Em resposta a eleitores que criticaram a suspensão de Raquel, afirmando que seu voto foi deslegitimado, Mônica afirma que de fato trata-se de um desafio.

"Somos uma coletividade, e não uma soma de individualidades", diz. "Entendo que o eleitorado esteja confuso, foi complicado para nós também e entendo que a gente vai ter avançar na participação do eleitorado nessas situações. Mas está na hora de falar algumas verdades."

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