Descrição de chapéu Obituário José Tadeu de Toledo (1945 - 2021)

Mortes: Driblou Chronos ao viver muitas vidas em uma só

José Tadeu de Toledo foi professor, empresário, apresentador de TV e médico após os 40 anos

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Gonçalves (MG)

José viveu muitas vidas em uma só. Parecia correr de Chronos para tirar do papel tudo o que planejava. E por 75 anos, o gaúcho venceu a divindade da mitologia grega que controla o tempo.

José se dedicou em várias áreas. Compôs músicas que exaltam a tradição gaúcha, tocou em banda, teve seu programa de TV, onde recebia personalidades sulistas; e foi dono de uma discoteca em Pelotas que copiava o estilo de Dancin' Days, a boate fictícia da novela de Gilberto Braga nos anos 1970.

O psiquiatra José Tadeu de Toledo
O psiquiatra José Tadeu de Toledo - Arquivo Pessoal

A paixão pela música veio de berço, conta a irmã Anna Maria de Toledo, 73. “Mamãe tocava piano e colocava a gente em volta dela em todos fins de tarde”, lembra a dentista aposentada sobre a infância com os seis irmãos na bucólica Rio Pardo(RS).

O piano, adquirido em 1924 pela mãe, foi parar na casa de José após um desafio: ganharia o instrumento, fabricado na Alemanha e transportado ao Brasil de navio, quem estudasse mais.

Com o piano em sua casa, reproduzia os recitais familiares tocando canções sabidas de cor. Sempre dedicado, começou sua formação como professor de literatura e fez seu nome ao trabalhar num cursinho universitário.

Dono de um português invejável, não suportava o mau uso da língua. “Ele corrigia mesmo”, diz a irmã.

O psiquiatra José Tadeu de Toledo, 75, ao lado de cartazes em homenagem à sua despedida dos plantões em hospital
O psiquiatra José Tadeu de Toledo, 75, ao lado de cartazes em homenagem à sua despedida dos plantões em hospital - Arquivo Pessoal

Inquieto, abriu uma empresa de reforma e construção de casas. Ainda não satisfeito, resolveu entrar na graduação de medicina, sonho adiado na juventude.

Em vez dos seis anos, José levou oito para virar doutor. “Ele demorou para se formar porque fazia muitas coisas ao mesmo tempo”, conta a irmã. Aos 40 anos, José partiu para mais dois anos de residência clínica e se especializou em psiquiatria.

Por mais de 30 anos trabalhou em hospitais do governo gaúcho e em sua clínica. Durante a pandemia de Covid-19, se afastou dos plantões por estar no grupo de risco para a doença causada pelo coronavírus.

Mas voltou à ativa e fez uma promessa no último Natal para si mesmo: não faria mais plantões a partir de 2021. Ganhou uma comemoração de despedida dos colegas com cartazes onde se lia: quem vai corrigir nossos erros de português?

Quando já estava longe dos hospitais, contraiu o coronavírus.

O calvário do médico durou um mês, entre transferência de hospital, intubação e traqueostomia. O gaúcho inquieto se viu vencido, pela primeira vez, no último domingo (21), em Novo Hamburgo, cidade onde tinha consultório.

O corpo de José Tadeu de Toledo foi enterrado ao lado dos restos mortais da mãe, como queria, em um cemitério de Porto Alegre. Deixou quatro filhos, quatro irmãos, duas ex-esposas, cuja amizade persistiu após os divórcios, e pacientes tornados amigos.

coluna.obituario@grupofolha.com.br

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