Descrição de chapéu Obituário José Tarcísio Pereira (1947 - 2021)

Mortes: Vendeu livros e lançou famoso bloco de Carnaval

José Tarcísio Pereira foi dono da Livro 7, marco cultural no cenário recifense

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São Paulo

A livraria que José Tarcísio Pereira abriu no centro do Recife em julho de 1970, a Livro 7, foi muito mais do que um ponto de venda de livros. Com uma trajetória de forte engajamento cultural em três endereços distintos na rua 7 de Setembro, o livreiro morreu aos 73 anos, por causa da Covid-19.

o livreiro José Tarcísio Pereira
O livreiro José Tarcísio Pereira - Arquivo Pessoal

Os três endereços foram ocupados um na sequência do outro, durante os anos 1970, acompanhando o crescimento da loja e também da programação cultural que foi se desenhando em paralelo à comercialização dos volumes literários. A Livro 7, nos seus 30 anos de funcionamento, até o ano 2000, também abriu mais duas filiais no Recife e outras quatro em outras capitais nordestinas.

O fechamento da rede ocorreu por causa de uma crise financeira. A origem dos problemas foi a concorrência de shoppings e a desvalorização das ruas, especialmente aquelas do Recife antigo, segundo Suely Pereira, uma das irmãs de José Tarcísio. Ele teve nove irmãos, quatro deles livreiros. Mas até as portas da livraria baixarem definitivamente, muita coisa aconteceu.

Alceu Valença, conta Suely, tocou na porta da livraria antes de ser consagrado um dos grandes nomes da música brasileira. Os shows foram se tornando frequentes. A livraria ganhou um teatro. Os pintores de Olinda passaram a expor seus quadros nas paredes sobre as estantes de livros. A loja ganhou clientes como o dramaturgo Ariano Suassuna e o escultor e pintor Francisco Brennand.

A irmã de Tarcísio diz que a afinidade dele com a área literária se expressou muito cedo. Nascido em Natal (RN), o livreiro estava ainda na quarta série, diz ela, quando criou o projeto de uma biblioteca para a escola onde estudava. Até então não havia nenhuma. “Ele conseguiu o engajamento de outros alunos, pedindo a eles que percorressem suas ruas pedindo nas casas doações de livros. Aquilo tocou os professores”.

O livreiro também esteve no centro da criação de um dos blocos de Carnaval mais antigos da capital pernambucana, o Nóis Sofre Mais Nóis Goza. Ele estava com um grupo de amigos, e no Carnaval de 1980 eles decidiram pegar uma toalha da Livraria 7, pregá-la a um cabo de vassoura, formar com esse conjunto um estandarte e partir cantando pelas ruas, conta Suely.

Depois do fechamento da livraria é que Tarcísio e seus irmãos perceberam como o negócio da família foi, ao menos por um período, central para a vida cultural do Recife. “Acho que nós não tínhamos essa consciência tão forte”, diz. Tarcísio se casou duas vezes. Deixa mulher, quatro filhos e cinco netos.

coluna.obituario@grupofolha.com.br

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