É difícil encontrar uma autoridade pública do Paraná que não conhecesse Helia Loreta Correa. Dona Helia, para os chefes, e Helinha, entre os colegas, há 29 anos era quem melhor representava as portas de entrada do Palácio Iguaçu, sede do governo estadual.
A longevidade no cargo em comissão não só superou as diferentes posições políticas dos nove governantes com os quais trabalhou como a fez ganhar honraria geralmente concedida a autoridades: bandeira a meio mastro e luto oficial de três dias.
“O Estado perde uma grande servidora, mas o sorriso e os ensinamentos deixados por ela serão eternos”, afirmou Ratinho Jr. (PSD), o último chefe.
Não havia quem passasse por sua mesa sem ganhar esse sorriso acompanhado de fervorosos cumprimentos. Exagerada e atrapalhada, Helia logo tratava de providenciar café, água e até um ombro amigo para quem precisasse. Era comum vê-la em pé até que todos se sentassem. Com bom humor característico, questionava o porquê dos quilinhos extras, diante de tamanha correria.
“Ela era um patrimônio. Não tinha prefeito nesse Paraná que não conhecesse a bondade, a gentileza e o carinho da Helia”, resumiu a ex-colega Luiza Simonelli.
Enquanto não estava na recepção, estudava com afinco para não fazer feio. Não era raro flagrá-la folheando livros com fotos e dados de autoridades que ainda não conhecia. O plano era chamar cada um por nome e sobrenome, mesmo que precisasse decorá-los.
Chegava a incomodar os colegas mal-humorados com seu sonoro “bom dia” nas primeiras horas da manhã, quando também adorava compartilhar as fofocas dos corredores do poder.
A esta repórter —e a vários outros colegas— ensinou o trabalho. Aos 16 anos, fui sua estagiária. Me explicou tudo tintim por tintim e ainda me pagou alguns almoços para não pesar no auxílio de menos de R$ 300. Já como jornalista, quando visitava o Iguaçu, me abraçava forte e desatava a comentar com os novos aprendizes como sentia orgulho de me ver fazendo o que gostava.
A dedicação era ainda mais especial com a família. Deixava a própria saúde de lado para dar atenção à mãe, aos irmãos e ao pai, já falecido.
“Era maluquinha, doidinha, briguenta e bagunceira, cheia de ‘ais’ (dói aqui, dói ali), extrovertida, carismática, eficiente e radiante. Sorria mesmo quando estava triste e fazia amizades em todos os lugares”, resumiu a família em um texto enviado pela sobrinha Michele.
O filho Kevin, 18, era seu maior tesouro. Chorou, se desesperou, e fez promessa quando ele, ainda pequeno, contraiu meningite, que não deixou sequelas. Lutou para dar a ele tudo que a infância humilde no interior de São Paulo —da qual se recordava com muito amor— não proporcionou a ela.
“Com todo o pesar do mundo, me despeço daquela que me deu o dom da vida e também a vontade de viver. Quero que ela seja lembrada pelo seu sorriso, pela sua energia contagiante e por seu coração maravilhoso”, escreveu o filho.
Helia morreu na quinta-feira (22), de Covid-19, aos 57 anos. Deixou a mãe, Maria, os irmãos Wanderlei, Odete, Deja, Maria Alice, Cláudio e Vilma, o filho, Kevin, e 14 sobrinhos.
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