Policiais da Rota passarão a usar câmeras 'grava tudo' na roupa

Sistema que grava abordagens sem interferência do usuário será expandido de 3 para 18 batalhões da PM

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São Paulo

​A gestão João Doria (PSDB) vai ampliar, a partir de maio, de 3 para 18 o número de batalhões da Polícia Militar integrados ao programa de câmeras portáteis “Olho Vivo”, que registra ações policiais, em áudio e vídeo por meio de equipamentos acoplados ao uniforme.

Entre as 15 novas unidades a serem atendidas, estão a Rota (Rondas Ostensivas Tobias de Aguiar) e três Baeps (operações especiais), de Campinas, de Santos, São José dos Campos, tropas de elite da PM paulista e com histórico de alto índice de letalidade policial.

Além da ampliação em número de equipamentos, de 500 para um total de 3.000, o programa também terá novo sistema de gravação que dispensa a necessidade do acionamento manual pelo usuário e, assim, consegue evitar eventuais perdas de imagens importantes.

Centro de operações da PM acompanha em tempo real imagens capturadas por câmera acoplada em uniforme de policiais - Rubens Cavallari/Folhapress

Um dos problemas detectados na utilização do sistema atual, e que também ocorre com outras polícias do mundo, é o policial deixar de ligar o equipamento em momentos cruciais e, assim, perder prova importante da ocorrência.

“Com o novo sistema, a gravação é involuntária. A partir do momento em que recebo a câmera, ela já está gravando”, disse o coronel Robson Cabanas Duque, gerente do programa.

“O turno todo é gravado. Um policial que se envolveu em uma troca de tiros, por exemplo, mas não acionou no momento dos tiros. Acionou logo depois. Você vê o indivíduo já baleado, mas não tem o que aconteceu. [Com o novo sistema], simples, volto lá no arquivo e está tudo registrado”, disse ele.

Segundo Cabanas, o modo de gravação involuntária é inédito no mundo. Ele afirma acreditar que a inovação se torne um modelo para outras instituições dentro e fora do país em razão da crise que polícias do mundo todo enfrentam com os questionamentos sobre racismo e violência policial.

Para aumentar a transparência desse sistema, segundo Cabana, a PM firmou parecia com universidades para que os resultados do programa sejam auferidos e estudados por acadêmicos.

Somente após esse estudo, segundo o coronel, será possível analisar os reais impactos do programa na redução da letalidade e outros benefícios. Já é perceptível nas ruas, porém, que o comportamento das pessoas muda quando estão sendo gravadas, inclusive obedecer ordens do policial, afirmou.

“Se você não tem a desobediência, você diminui o uso da força. Se você diminui o uso da força, isso é importante para o cidadão e para o policial.”

A PM também deverá divulgar vídeos de ações policiais, a exemplo do que a faz a polícia de Los Angeles, nos EUA, que publica em canais online imagens das câmeras dos policiais e dão detalhes da ocorrência.

Policiais militares de São Paulo demostram a instalação câmeras nos coletes - Rubens Cavallari/Folhapress

Isso também ajuda, por exemplo, a população a ter informações completas de um caso de violência policial e conhecer os detalhes da ocorrência que são muitas vezes omitidos pelas pessoas que divulgam gravações clandestinas.

“É importante para sociedade ver o que aconteceu antes para poder mensurar o comportamento de cada um e receber a punição na medida do que cada um fez. O policial abusou? Abusou, vai sofrer sua condenação. Mas o que esse cidadão fez antes? Ele cuspiu na cara do policial? Deu uma paulada? Isso tem acontecido”, disse.

De acordo com Cabanas, a ampliação do uso de câmera faz parte de um esforço da PM para tentar reduzir a letalidade policial, que inclui treinamento e compra de equipamentos —como armas menos letais, como as de eletrochoque e gás pimenta.

“Nós estamos dotando o nosso policial de equipamento e treinamento para que ele possa mitigar o resultado com morte. São movimentos que a instituição faz no sentido de apresentar uma polícia moderna, a polícia do próximo século”, disse.

Após aumento da letalidade policial no início do ano passado, que de janeiro a maio chegou a saltar 27% (de 349 para 443, ante igual período de 2019), São Paulo fechou 2020 com redução de 13% no número mortes decorrentes de intervenção policial. Foram 716 casos, em 2019, contra 622 no ano passado.

Até 2022, segundo a PM, serão implantadas outras 7.000 câmeras acopladas à roupa, que serão licitadas a partir do próximo mês. “Com essas 10 mil câmeras, conseguimos fechar toda a cidade de São Paulo e Grande São Paulo para que, no ano que vem, todos os policiais tenham câmeras”, afirmou.

Para o final de 2023, segundo o oficial, é esperado que todas as cidades grandes ou de criminalidade média e alta do estado recebam o programa. As 2.500 unidades adquiridas neste lote têm custo mensal de manutenção e servidor de R$ 1,2 milhão.

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