Descrição de chapéu Folhajus

Policiais de SP são investigados sob suspeita de tentar livrar 'rei dos cassinos'

Nome de empresário havia sido omitido de boletim de ocorrência; delegado seccional foi substituído

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São Paulo

A operação policial que levou à detenção do empresário Reginaldo Moraes de Campos, 47, foi comemorada por integrantes da cúpula da segurança pública de São Paulo ainda na madrugada do último dia 15. Finalmente, depois de semanas de trabalho de inteligência, o chamado “rei dos cassinos” havia sido flagrado explorando uma casa de jogos de azar.

Cerca de 12 horas depois, porém, a mesma operação provocou uma crise interna na Polícia Civil de São Paulo, levando à queda da cúpula da 2ª Seccional (sul) e a uma série de policiais investigados sob a suspeita de tentar livrar o empresário das investigações.

Isso porque, mesmo flagrado no cassino clandestino, o nome de Campos de havia sido excluído do boletim de ocorrência elaborado ainda naquela mesma madrugada do dia 15, e, assim, seria deixado de fora de procedimento a ser instaurado pelo 14º DP (Pinheiros). O nome foi incluído posteriormente, quando a crise e as suspeitas de corrupção já estavam instaladas.

A omissão fragilizaria uma das principais provas do envolvimento do empresário no esquema de exploração de jogos de azar investigado em inquérito policial na 2ª Seccional. Essas novas suspeitas contra os policiais civis foram reveladas em reportagem da TV Record.

delegado conversa com suspeito de exploração cassino
O delegado José Carlos Carrasco conversa com o empresário Reginaldo Moraes de Campos; imagem ajudou na queda de policial do comando de seccional - Redes sociais

Campos é tido pela polícia como “rei do cassino” porque é apontado como dono de uma série de cassinos clandestinos na capital e na Grande São Paulo, como as duas casas de luxo fechadas em março deste ano, na zona sul de São Paulo —em uma delas, estavam Gabigol e MC Gui.

Em ambas as casas, porém, Campos não havia sido encontrado entre os frequentadores.

Nessas operações, os policiais tomaram conhecimento de que os cassinos recebiam proteção de policiais e políticos corruptos. Os nomes de algumas autoridades foram usados por funcionários para tentar evitar o fechamento das casas.

Nos dias seguintes, a polícia também soube que o empresário já havia aberto uma nova casa de jogos. Uma série de endereços foi checada pelas equipes de investigadores, até que conseguiram localizá-lo em uma casa em Alto de Pinheiros, na zona oeste.

A detenção de Campos foi anunciada pela Folha às 12h15 da quinta-feira (15). Um minuto depois de a reportagem ter ido ao ar, policiais do 14º DP iniciaram a elaboração de um boletim de ocorrência complementar para incluir o nome do empresário como o responsável pelo cassino.

No histórico da ocorrência, uma tentativa de explicação: “Uma vez que, por problemas de sistema, deixaram de constar no registro inicial. Diante disso, foi lavrado, em apartado, seu respectivo termo de declarações".

A justificativa não convenceu a cúpula da segurança paulista, que determinou a substituição de toda a chefia da 2ª seccional, entre eles o delegado titular, Jorge Carlos Carrasco, que aparece em foto tirada naquela noite conversando com o empresário suspeito.

Além da omissão do nome do empresário, os policiais que participaram da elaboração dos boletins de ocorrência também deverão explicar por que também deixaram de incluir o nome de dois agentes penitenciários que prestavam serviço de segurança para Campos.

O nome dos dois, Edson Massanobu, 37, e Marcelo Veron da Mota, 46, só foram incluídos na investigação quatro dias depois, no dia 19, após a elaboração de novo boletim de ocorrência complementar. Dessa vez, porém, sem uma justificativa para a demora.

Gabigol aparece em primeiro plano, de gorro e máscara. Atrás dele, há outros homens
O jogador Gabigol é detido em cassino clandestino em São Paulo no mês de março deste ano - Governo do Estado de São Paulo

Essas novas suspeitas de favorecimento ao empresário serão encaminhadas para o delegado responsável pela investigação de associação criminosa e lavagem de dinheiro, já instaurada. A Corregedoria já investiga outros policiais, inclusive do Deic.

Conforme a Folha revelou, suspeitas em poder da polícia e do Ministério Público indicam que policiais participavam de esquema proteção e recebiam pelos serviços uma quantia superior a R$ 1,5 milhão mensais. As suspeitas foram apresentadas por pessoa anônima ligada aos jogos de azar.

Procurada, a Secretaria da Administração Penitenciária informou que já determinou a imediata instauração de apuração preliminar dos fatos, “a fim de identificar a participação dos servidores, individualizar condutas e atribuir responsabilidades”.

“Ao final, estarão sujeitos às penalidades impostas pela legislação, podendo ser demitidos a bem do serviço público, sem prejuízo das consequências advindas do processo criminal”, diz nota.

A Secretaria da Segurança Pública informou que a Corregedoria da Polícia Civil já instaurou um procedimento administrativo para apurar eventuais irregularidades funcionais.

A reportagem solicitou um posicionamento do delegado Carrasco, mas ainda não teve resposta.

A Folha também tentou contato com a defesa de Campos.

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