Após ser socorrido por professora, bebê ferido em Saudades tem alta da UTI

Criança foi levada ao hospital por docente que estava em casa, em frente à escola

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Saudades (SC)

Quando a professora Aline Biazebetti, 27, ouviu os gritos de socorro vindo da creche Aquarela, em frente à sua casa e onde entraria para dar aula horas depois, pensou que alguma criança havia se machucado, sofrido uma queda ou um choque elétrico. Tudo passou pela cabeça da docente, menos um ataque a faca.

Ela só entendeu o que estava acontecendo em Saudades (SC) quando puseram em seu colo um bebê. Com o menino ensanguentado, rosto e pescoço cortados, ela pediu carona a quem passava de carro para chegar ao hospital, que fica a 300 metros da escola. Foi ignorada.

Bombeiros e moradores em frente à escola Pró-Infância Aquarela, alvo de ataque em Saudades (SC)
Bombeiros e moradores em frente à escola Pró-Infância Aquarela, alvo de ataque em Saudades (SC) - Jocimar Barbosa/Imprensa do Povo/AFP

O pai de Aline então tirou o próprio carro da garagem. Do pronto-socorro da cidadezinha, a criança foi levada de helicóptero ao Hospital Regional do Oeste, em Chapecó, a 70 km dali. Em estado grave, o bebê foi operado nesta terça-feira (4); um dia depois, teve alta da UTI e foi para a enfermaria clínica. Estável, ele foi transferido para o Hospital da Criança, também em Chapecó.

Foi só então que a professora Aline se deu conta que tinha salvado o menino, de 1 ano e 8 meses.

"Ele não chorava, não tinha reação nenhuma, estava pálido, assustado. Mas a boca dele borbulhava, só depois fui saber que era porque o pulmão dele tinha sido perfurado", conta ela. "Se eu não o tivesse levado, ele teria morrido nos meus braços. Ainda bem que deu certo. Me conforta um pouco."

Ela ainda não conseguiu falar com os pais da criança.

Sua casa virou o primeiro posto de acolhimento dos outros guris e profes, como os catarinenses os chamam carinhosamente. A família toda ajuda a acalmá-los.

Por minutos, conta, o ataque não deixou mais vítimas. Isso porque às 10h é o horário do lanche dos pequenos, que saem da sala e se reúnem num mesmo espaço.

Agora, Aline diz que sente uma mistura de tristeza e medo. Não quer retornar para a classe.

"Vai ser bem difícil voltar lá. Eu era amiga da Keli [professora de 30 anos que foi morta]. Se fosse à tarde, eu poderia ter morrido. Ele quebrou o vidro da sala em que dou aula. Eu tentaria salvar os ‘piázinhos’", diz ela.

No dia em que foi ao velório e enterro das colegas e crianças, Aline também conseguiu ir à universidade apresentar seu TCC para se formar em pedagogia, inspirada pela irmã, que também trabalha na área. O tema? "Ludicidade na educação infantil".

"Como eles são bebês, torço para que não lembrem do que aconteceu", diz a professora.

O presidente Jair Bolsonaro (sem partido) se manifestou nas redes sociais na noite desta quarta-feira (5) sobre o ataque na escola infantil.

"Difícil entender como um ser humano pode ser tão cruel a ponto de invadir uma creche e covardemente tirar a vida de inocentes crianças e suas professoras. Nesse momento, só Deus pode dar forças e confortar os corações daqueles que viveram esse terror na manhã de ontem."

"Que a fé, na certeza do amor de Cristo e da justiça divina, seja o combustível para suportar a dor da perda, e que os céus acolham esses anjinhos, bem como as professoras Keli e Mirla, que deram suas vidas para proteger todas as crianças e agora descansam ao lado de Deus", acrescentou.

O presidente pediu ainda que a justiça seja feita e que o autor seja punido pelo crime.

"Embora lamentavelmente nossa Constituição não permita penas suficientemente severas para esse tipo de crueldade, como prisão perpétua, em respeito aos familiares pedimos que a justiça seja feita e o autor desse ato covarde seja punido de forma exemplar."

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