Estado do Rio é condenado a indenizar família do dançarino DG, morto em operação policial em 2014

Ele trabalhava no programa Esquenta, de Regina Casé, e foi encontrado baleado em favela da zona sul

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São Paulo

O Tribunal de Justiça condenou o estado do Rio de Janeiro a indenizar por danos morais e materiais a família do dançarino Douglas Rafael da Silva Pereira, conhecido como DG. Ele foi morto em 2014, aos 26 anos, durante uma operação da UPP (Unidade de Polícia Pacificadora) na favela Pavão-Pavãozinho, entre Copacabana e Ipanema, na zona sul do Rio.

DG era dançarino do programa Esquenta (Globo), apresentado por Regina Casé.

A juíza Aline Maria Gomes, da 10ª Vara da Fazenda Pública do Tribunal de Justiça do Rio, condenou o estado a pagar R$ 250 mil à família do artista. Desse total, R$ 100 mil serão destinados à mãe de DG, Maria de Fátima Silva, R$ 100 mil à filha de 11 anos e R$ 50 mil a uma sobrinha dele.

O dançarino morava com a mãe em um prédio de Copacabana e, segundo ela, ia para a favela ensaiar crianças. "Vocês tiraram a vida do meu filho. Aqui é uma mãe que está chorando, com o coração sangrando", ela disse em um protesto realizado após a morte.

O corpo de DG foi encontrado baleado nos fundos de uma creche no morro. O estado do Rio de Janeiro alegou que ele estava em um local usado como bunker de criminosos e de onde eram feitos disparos em direção aos policiais militares e que os "agentes de segurança agiram no estrito cumprimento do dever legal".

A decisão judicial, no entanto, afirma que “é relevante salientar que a hipótese dos autos sequer se enquadra em eventual legítima defesa ou estrito cumprimento de dever legal, como tenta induzir o estado do Rio de Janeiro".

De acordo com a sentença, nenhum dos documentos apresentados indicam que o dançarino estivesse armado ou na companhia de criminosos fazendo disparos.

Homenagem ao dançarino DG na favela Pavão-Pavãozinho, no Rio - Fabio Teixeira/Folhapress

Além da indenização, a filha do dançarino vai receber uma pensão de dois terços do salário que ele ganhava até completar 25 anos. Ela e a avó também têm direito a tratamento psiquiátrico/psicológico.

No programa seguinte à morte de DG, a apresentadora Regina Casé fez um discurso emocionado e em tom de protesto na abertura. "Eu faço um programa que era para ser só alegria. Mas mesmo num programa que é uma festa, a realidade foi me empurrando para temas terríveis como este que a gente está vivendo hoje", disse. Segundo ela, o dançarino era alegre e querido pelas crianças.

Nesta quarta (19), moradores da Cidade de Deus, maior favela da zona oeste do Rio de Janeiro, acusaram policiais militares de terem matado dois homens na noite de terça (18) durante uma abordagem, sem ter havido qualquer confronto.

Eles afirmam que os agentes balearam à queima roupa um mototaxista e um homem que estava na garupa de sua moto, na altura de um viaduto que dá acesso à Linha Amarela.

"Ele era trabalhador, trabalhava de mototáxi, não é bandido, não é traficante", disse Miriam Santos, viúva do mototaxista.

O caso aconteceu quase duas semanas após operação da Polícia Civil no Jacarezinho (zona norte), a mais letal na história do estado, que resultou em 28 mortos.

Esta semana, outra morte que voltou a provocar protestos foi a do adolescente João Pedro Pinto, baleado há um ano no Complexo do Salgueiro, em São Gonçalo (RJ). Ele havia ido jogar videogame na casa de um primo.

Três policiais civis, em operação conjunta com a Polícia Federal, rondavam a região de helicóptero e dispararam 29 vezes. Um dos tiros de fuzil atingiu a barriga de João Pedro, que morreu aos 14 anos.

Segundo a Defensoria Pública do Rio de Janeiro, as investigações sobre o caso João Pedro caminham devagar e não há sequer laudo da simulação do ocorrido.

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