Descrição de chapéu Obituário Gessner Augusto Daré Júnior (1965 - 2021)

Mortes: Imitava o Incrível Hulk e era presença marcante nas festas

Gessner Augusto Daré Júnior tinha síndrome de Down e ficou conhecido pela parceria com o irmão

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São Paulo

Até domingo (23), quando pensava no futuro, o jornalista Miguel Daré, 51, imaginava envelhecer ao lado do irmão mais velho, Gessner Augusto Daré Júnior, 55.

Os dois viviam juntos o tempo todo, em casa, nas atividades profissionais de Miguel e nos momentos de diversão, como baladas, restaurantes e teatros. Desde que a mãe deles morreu, o jornalista cuidava de Júnior, que tinha síndrome de Down.

"Eu cuidei da minha criança durante 17 anos", ele diz. "Foi a maior bênção e missão da minha vida. Não tenho nem palavras para resumir a alegria que nós dois tivemos juntos".

O sonho de ficarem velhos lado a lado foi interrompido pela Covid-19. Os dois foram contaminados pelo coronavírus e chegaram a dividir o mesmo quarto do hospital em Bauru (SP), onde moravam.

Júnior, no entanto, precisou de cuidados especiais, e eles foram separados. Miguel conseguiu se recuperar, mas o irmão mais velho não resistiu às complicações provocadas pela doença. Morreu após 20 dias de internação.

Homem desfila em bloco carnavalesco
Júnior no dia em que foi destaque no bloco carnavalesco Pé de Varsa, em Bauru (SP) - Reprodução

A alegria que o jornalista menciona era uma característica conhecida de Júnior, uma personalidade marcante em Bauru por causa da presença entusiasmada em eventos sociais e filantrópicos.

Ele gostava de dançar e fazer amigos. Tinha alguns focos na vida. Um deles eram os artistas da década de 1980. Entre os personagens da ficção, o preferido era o Incrível Hulk, na versão antiga, que gostava de imitar, com direito à fantasia, aos gestos e às caretas.

"Eu chamava ele de criança, ele não gostava", lembra Miguel. Não só não gostava, como xingava o irmão inseparável e saía de perto por alguns minutos, quase verde de raiva. Mas logo passava e ele perguntava: "Cadê o Miguel?".

Antes da pandemia, Júnior visitava com frequência Francisco Guedes Bombini, conhecido como Super Chico, 4, que também tem síndrome de Down e é famoso nas redes sociais por sua história de superação. Júnior chamava a criança de "Francisco, Fantástico, show da vida".

Com o irmão, ele conheceu teatros e restaurantes de São Paulo, além de vários pontos turísticos em diversas cidades. Em casa, pedia canetas e lápis coloridos para escrever em cima das letras de jornais. Além das fantasias de Hulk, costumava vestir camisas de times de futebol.

Nos últimos tempos, usava as camisetas ao contrário e dizia que estava bem quando era aconselhado a desvirar.

"Não teremos mais os momentos preciosos, com risadas à solta, com o amor mais puro do universo nos rodeando", lamentou Daniela Guedes Bombini, a mãe do Super Chico.

coluna.obituario@grupofolha.com.br

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