Eram 6 horas da manhã da última quinta (6) quando cerca de 200 policiais saíram da Cidade da Polícia e iniciaram o cerco à comunidade do Jacarezinho, na zona norte do Rio de Janeiro. Estavam a pé, em blindados e em dois helicópteros.
Como é comum em operações em favelas, tiveram que descer dos veículos para retirar barricadas feitas por traficantes. Ali se deu a primeira das 28 tragédias que aconteceriam naquele dia: o policial civil André Leonardo Frias, 48, foi baleado através de uma "seteira" (buraco) em um muro de concreto, segundo a corporação.
Chegou a ser socorrido para o hospital mas, atingido na cabeça, não resistiu. Enquanto isso, as equipes avançavam para dentro das vielas, e intensos tiroteios eram ouvidos em várias áreas. Homens armados com fuzis fugiam por lajes e por dentro de casas, e policiais corriam atrás.
A operação seguiu até a tarde daquele dia e terminou com baleados em 13 pontos diferentes (incluindo o inspetor) em um raio de cerca de 500 metros, sendo ao menos 5 deles casas, de acordo com os registros de ocorrência feitos pelos agentes. Um dos locais teve 7 mortos, outro teve 6.
Todos os agentes disseram que revidaram disparos de traficantes, e a Polícia Civil divulgou suas fichas criminais para justificar os óbitos. Já moradores relataram horas de terror com rastros de sangue e corpos pelas vielas, alegando que parte das vítimas foi morta mesmo após se render e que outras não tinham envolvimento.
A polícia afirmou inicialmente que a investigação que motivou a incursão tratava de aliciamento de menores, homicídios, sequestros de trem e roubo. Em um relatório feito após a ação, porém, não constam esses crimes, mas apenas o cumprimento de 21 mandados de prisão por associação ao tráfico de drogas.
Chamado de massacre, morticínio e chacina, o episódio agora é alvo de uma investigação da Delegacia de Homicídios e de uma força-tarefa do Ministério Público, que ouvem testemunhas. A Defensoria Pública e a Comissão de Direitos Humanos da OAB denunciam que diversas cenas de crimes foram desfeitas por policiais sob pretexto de socorrer vítimas, e também ouvem familiares.
Abaixo, entenda onde e quando ocorreu cada uma das mortes na favela, quantos agentes estavam envolvidos nelas e o que eles disseram. Veja também quem eram as vítimas e o que os parentes de cada um já disseram publicamente ou à polícia sobre aquela manhã.
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