Yanomamis dizem que duas crianças morreram durante ataques de garimpeiros

Meninos teriam se afogado ao fugir de tiroteio; corpos foram encontrados na quarta (12)

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Rio de Janeiro

Lideranças yanomamis dizem que duas crianças morreram durante ataques de garimpeiros na Terra Indígena Palimiu, em Roraima, no início da semana. A denúncia foi feita pela Hutukara Associação Yanomami em reunião com o Ministério Público Federal neste sábado (15).

Em nota, a associação diz que, após o início do tiroteio, os moradores da área saíram correndo para tentar se proteger. Na confusão, afirma o texto, "muitas crianças se perderam no mato e ficaram desaparecidas, sozinhas junto ao rio Uraricoera".

O primeiro ataque ocorreu na segunda (10) e teria terminado com três garimpeiros mortos, segundo os yanomamis — a Polícia Federal diz não ter encontrado corpos. Um novo tiroteio ocorreu na terça (11), quando agentes da PF se preparavam para deixar a aldeia.

Polícias federais em ação em comunidade indígena
Policiais federais em ação na comunidade Palimiu, em Roraima - Polícia Federal

Na nota divulgada neste sábado, a associação Hutukara diz que os moradores da aldeia foram em busca das crianças, encontrando a maior parte delas na terça. Na quarta (12), segue a entidade, foram encontrados corpos de dois meninos, de um e de cinco anos, que teriam morrido afogados.

"Nós estamos muito preocupados com nossos parentes do Palimiu, que estão sofrendo ameaças contra suas vidas", diz a nota, denunciando a ausência de serviços de saúde com a remoção dos profissionais da área após os tiroteios.

"Também não tem nenhuma força pública de segurança permanente do local, e os garimpeiros continuam diariamente amedrontando a comunidade", continua o texto. "Os garimpeiros estão circulando ao redor da comunidade armados em barcos."

A associação denunciou nova invasão por garimpeiros na sexta (14), mas disse que os moradores haviam fugido para o mato para se proteger. "Nós, yanomami, queremos viver em paz na nossa terra, com a floresta", afirma, cobrando atuação das autoridades.

Segundo a Hutukara, a tensão na região cresceu desde o dia 27 de abril, quando yanomamis interceptaram uma lancha de garimpeiros e apreenderam 990 litros de combustível.

A presença de cerca de 20 mil garimpeiros, segundo estimativa das organizações yanomamis, contribui para a explosão de casos de malária na Terra Indígena Yanomami, além da Covid-19 e de outras doenças.

O garimpo é ilegal em terras indígenas, mas esse crime tem crescido desde o início do governo Jair Bolsonaro (sem partido), em meio a promessas de legalização e à disparada do preço do ouro. Em 29 de abril, durante a live semanal ele prometeu visitar um garimpo ilegal para “conversar com o pessoal, como eles vivem lá”.

Os yanomamis também reclamam da atuação do Exército em outra região, na Terra Indígena Yanomami, no Amazonas. Em carta enviada no início de maio, duas associações yanomamis exigem a saída do comandante do 5º PEF (Pelotão Especial de Fronteira), sob a acusação de agir de forma autoritária contra os indígenas.

O documento acusa o tenente Castilho de entrar em aldeias com homens armados sem autorização das lideranças, de submeter indígenas a revistas truculentas e de ameaçar atirar contra yanomamis.

O Comando Militar da Amazônia (CMA) afirmou que a denúncia causa estranheza e que o tenente Castilho exerce a função há 15 meses sem ter sido questionado pelos yanomamis. Por outro lado, afirma que “todos os esforços estão sendo envidados para apurar rigorosamente o descrito no documento das associações indígenas”.

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