Centenário, Museu do Ipiranga será acessível

Em reforma e previsto para ser reaberto em setembro de 2022, museu quer ser exemplo de inclusão no país

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Vista aérea do museu e parte do jardim

Vista aérea do Museu do Ipiranga, em SP; espaço terá elevador, obras multissensoriais e entrada comum a todos   Divulgação

São Paulo

Um fosso com quase oito metros de altura está sendo cravado no coração centenário do Museu do Ipiranga, um dos mais importantes do país, em São Paulo, previsto para ser reaberto em setembro de 2022.

A delicada operação para a instalação de elevadores no patrimônio tombado é exemplo de um amplo processo que pretende tornar a instalação um exemplo de inclusão e acessibilidade.

Outra mudança de impacto inclusivo que está em curso no local é a de que todos entrarão pelas mesmas portas, iniciando a visitação pelo saguão principal. Em grandes museus antigos do mundo, a prática é fazer adaptações laterais e entradas específicas para cadeirantes e pessoas com mobilidade reduzida.

“A experiência vai começar igual para todo mundo, a partir das entradas pelo jardim, pelas mesmas portas. Isso é muito emblemático. Rico, pobre, preto, branco, mulher, homem, cegos, surdos, cadeirantes e autistas seguindo a mesma proposta”, afirma Denise Peixoto, educadora no museu.

Mais do que dispor de equipamentos que facilitem o ir e vir ao museu, a obsessão da direção do local foi dar condições mais amplas de exploração do acervo com cerca de 4.000 obras em 46 salas.

Para isso, 329 peças terão tratamento multissensorial de apreciação, que poderão ser tocadas, ganharão texturas, serão descritas em palavras mais simples, com legendas e Libras (Língua Brasileira de Sinais) ou transformadas em exibições multimídia e até exalarão odores.

Os visitantes poderão, por meio de celulares (a rede wi-fi será aberta e gratuita), baixar propostas específicas de experiências dentro da instalação —mais rápidas ou mais direcionadas, por exemplo, a pessoas com deficiência visual.

Também será possível visualizar áreas estratégicas do museu, como as escadarias ou o saguão principal, em formato 3D, e programar passeios com condições diferentes, com menos estímulos e informações mais objetivas, o que pode auxiliar pessoas com autismo e outras deficiências intelectuais.

“Nossa ideia não foi fazer uma adaptação das obras, algo específico para um ou outro, mas, sim, oferecer experiências de coexistências, nas quais todos podem desfrutar das informações e complementá-las. Não vão existir cantinhos específicos de acessibilidade, mas experiências compartilhadas”, diz Peixoto, que é também uma das lideranças do projeto de acessibilidade.

Os recursos podem não só dar condições de maior entendimento para pessoas cegas, surdas ou com deficiência intelectual, por exemplo, como ampliar a experiência para todos os visitantes. As mesas com objetos expostos serão de altura confortável para pessoas com nanismo, cadeirantes ou crianças.

“Elevamos nos últimos anos o nível de conscientização e engajamento dos professores da USP ligados ao museu na questão da acessibilidade e da inclusão. A nossa preocupação não foi apenas com o prédio, mas com o conteúdo das exposições. Temos um projeto inovador e um exemplo do poder público que visa estimular outras instituições a fazerem o mesmo. Estamos dando um passo de ousadia, causando um impacto com a acessibilidade para todos”, afirma Rosaria Ono, diretora do Museu do Ipiranga.

Com custo total de cerca de R$ 189 milhões, a reforma começou em 2019 e deve ficar pronta para as comemorações do bicentenário da Independência do Brasil, em 7 de setembro.

Todas as áreas foram revitalizadas, e áreas novas — uma de convivência e um espaço conforto para famílias, com mobiliário pensado para pessoas de todas as estaturas—, foram abertas. Um novo mirante também será apresentado ao público. Para acessá-los, pessoas com restrições de mobilidade usarão uma plataforma elevatória.

De acordo com Mauro Halluli, arquiteto da Fundação de Apoio à USP, também haverá acessibilidade com plataformas ou elevadores para a exploração de algumas salas com degraus e o auditório.

A obra mais famosa do museu, Independência ou Morte, de 1888, de Pedro Américo, teve atenção especial. Antes da reforma, a pintura estava em uma posição que não permitia acesso a todos.

A tela, com mais de 7 metros de largura e 4 metros de altura, terá uma réplica que poderá ser tocada completamente numa representação em autorrelevo para melhor entendimento da técnica usada, do detalhamento ou da intenção do artista. Três recortes da cena artística ganharam zoom.

Não haverá impedimento para que cadeirantes vejam de perto os quadros dispostos na escadaria principal do prédio monumental, como os Bandeirantes, por exemplo, já que o elevador da instalação dará acesso a esse ponto do museu também.

“Sabemos que tornar tudo 100% acessível é impossível, mas vamos avaliar periodicamente com o público o nosso compromisso com a mudança de olhar sobre a diversidade e como melhorá-la”, afirma a diretora do museu.

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