Descrição de chapéu Coronavírus

Bares de SP desrespeitam fechamento às 23h e pedem ampliação de horário

Na boêmia rua Itapura, no Tatuapé, estabelecimentos não respeitam normas de segurança

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São Paulo

O governador de São Paulo, João Doria (PSDB), deseja que as portas de bares e restaurantes sejam baixadas às 23h, mas quem está na noite quer mais que isso. Para os boêmios de plantão, animados depois de um bocado de goles, não tem essa de virar abóbora à meia-noite –ou uma hora antes.

Passava da 0h30 de domingo (11) quando muitos bares ainda ensaiavam baixar as portas. Outros até o fizeram, mas mantiveram parte da clientela lá dentro.

"Vivo da noite", conta o percussionista Rodrigo Ribeiro, 27, que costuma tocar em bares do Tatuapé, zona leste da capital paulista. "Esse lance de horário restrito é uma hipocrisia. Aglomeração pode rolar ao meio-dia ou à meia-noite."

Ribeiro conta que teve Covid três vezes. No sábado (10), passava das 22h30 quando ele acabara de se apresentar em um bar de pagode.

Cinco dias antes, estava internado devido a complicações provocadas pelo coronavírus. "Tive trombose e insuficiência cardíaca, mas preciso trabalhar. Tenho um filho de seis anos para cuidar. Moro na zona sul, mas aqui no Tatuapé tem muita oportunidade."

Um dos bairros que mais crescem em São Paulo, o Tatuapé é um dos principais polos da boemia paulistana e, mesmo na pandemia, novos empreendimentos gastronômicos não pararam de pipocar na região.

A estudante Nayane Almeida, 25, saiu de Guarulhos para aproveitar a noite estendida até as 23h no bairro. "Queria explorar um pouco o Tatuapé. Aqui tem muita opção. Pena que, em pleno sábado, terei que voltar cedo para casa. Com essa limitação de horário, muita gente corre para pegar ônibus e metrô e acaba provocando aglomeração nas estações. Se voltasse para o horário normal, o fluxo poderia ser mais organizado", diz.

Desde a última sexta-feira (9), está valendo a ampliação do horário de funcionamento das atividades econômicas em todo o estado de São Paulo. Com a medida, o horário de bares, restaurantes e padarias, entre outras atividades do comércio, estendeu-se das 21h para até as 23h.

"Seria importante voltarmos para o horário da 0h30, 1h, para assim conseguirmos espaçar o fluxo de atendimento", explica Vitor Temperani, 35, sócio-proprietário do Macaxeira. Com a flexibilização, o restaurante voltou a trabalhar com a equipe pré-pandemia de 25 funcionários.

"O problema de aglomeração não ocorre nos restaurantes", afirma. "Quando os bares fecham, os jovens correm para as praças, como a Silvio Romero, e provocam aglomeração."

A flexibilização envolve também a capacidade de lotação permitida, que foi de 40% para 60%, desde que, é claro, as pessoas mantenham o uso de máscaras e medidas de higiene e segurança nos ambientes.

Quase vizinho do Macaxeira, também na rua Emília Marengo, o Uru Mar y Parrilla, com capacidade para 240 pessoas, pretende manter os 60% de ocupação no futuro. "Percebemos que o atendimento reduzido é melhor para o cliente", diz Guilherme Temperani, 34, sócio-proprietário, que defende, porém, um horário mais ampliado de funcionamento. "O paulistano costuma sair para jantar entre 21h e 22h. Seria importante termos uma margem mais ampla de atendimento."

Segundo o governo paulista, as novas regras estão previstas para até o dia 31 de julho, quando poderão ser revistas. A justificativa apresentada pelo governo para tomar essas medidas de flexibilização estão relacionadas com a queda dos indicadores da pandemia, nas palavras de Doria.

Na avaliação do chefe de infectologia da Unesp de Botucatu (SP), Alexandre Naime Barbosa, "dificilmente vamos encontrar locais onde a taxa de transmissão tenha caído a ponto de uma flexibilização geral, mais irrestrita". "Mesmo com a vacinação avançando e a queda de internações e óbitos, é necessário que se mantenha um pacote de prevenção que inclui uso de máscara, distanciamento e evitar aglomeração."

Essas recomendações básicas não foram seguidas por frequentadores e até mesmo por funcionários de alguns bares de pagode e com espaço para uso de narguilé da rua Itapura, localizada entre as estações Carrão e Tatuapé do metrô. Era comum ver gente aglomerada e sem máscara dentro e fora dos bares. Uma equipe de segurança do quarteirão, entre as ruas Emilio Mallet e Cantagalo, tentou evitar que a reportagem registrasse fotos desses ambientes.

"Entendo que as pessoas precisam trabalhar e que outras querem se divertir, mas tem gente que não respeita o distanciamento nem o limite de lotação dos lugares", afirma o fotógrafo Franco Amendola, 38. "Para piorar, existem bares com música ao vivo que fazem muito barulho sem respeitar o horário limite, principalmente aos fins de semana, mesmo com a reclamação de vizinhos", conta ele.

A Prefeitura de São Paulo informa que apoia as ações de fiscalização do governo estadual por meio do comitê de blitze com ações realizadas pela Vigilância Sanitária. A cidade segue em quarentena, e o toque de recolher continua entre 23h e 5h.

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