Descrição de chapéu Coronavírus casamento

Com avanço da vacinação, casais voltam a disputar datas para festas de casamento

Imunização dá esperança aos noivos, que remarcam celebrações com menos convidados

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São Paulo

O momento do “sim” foi um dos diversos afetados pela pandemia da Covid-19. Agora, o avanço da vacinação reacendeu a chama de casais que aguardam ansiosamente por essa oportunidade. Com cada vez mais pessoas imunizadas, saem de cena as remarcações e voltam as disputas por datas para festas de casamento.

Em uma segunda-feira de novembro, a gerente comercial Gisele Brito, 39, pretende dizer um certeiro “sim” ao empresário Diogo Pereira, 41. O que em outros tempos seria conhecido como amor de Carnaval hoje é chamado de amor de pandemia.

Eles se conheceram em um aplicativo de encontros e, por causa das restrições do início de 2020, só se viram pessoalmente após um mês e meio e noites inteiras de conversa. O pedido de casamento veio em três meses. Em julho, bateram o martelo para a festa no fim de 2021.

Gisele Brito, 39, e Diogo Pereira, 41, visitam o espaço onde se casarão na capital paulista
Gisele Brito, 39, e Diogo Pereira, 41, visitam o espaço onde se casarão na capital paulista - Adriano Vizoni/Folhapress

O que motivou a escolha por uma segunda-feira foi a agenda concorrida. “Muitos estavam remarcando os eventos do ano passado para agora. Ou a gente conseguia essa data ou ficava para 2022”, diz Gisele.

De acordo com ela, cerca de 90% dos convidados têm mais de 30 anos, o que deve garantir a vacinação completa até a cerimônia. A Covid, porém, deixou suas marcas. Ela perdeu o sogro e o pai.

O analista de negócios Guilherme Sisti e a vendedora Gabriela Duarte, ambos de 29 anos, também marcaram a boda. Eles se conheceram em janeiro de 2020 e agendaram a festa para agosto deste ano.
Os dois cogitaram alterar a data à medida que o número de mortos cresceu. “Para mudar, seria coisa de um ano, e para a gente ia ficar muito longe”, afirma Guilherme.

Durante a pandemia, eles entraram em divergência com as assessoras, que exigiram procedimentos como distanciamento social e uso de máscara. “A gente vai seguir os protocolos, mas não terá nenhum tipo de fiscalização. Vai ser pelo ‘feeling’ de cada um.”

Para o infectologista Jamal Suleiman, do Instituto Emílio Ribas, quem organiza um evento grande precisa entender que ainda não é possível controlar tudo, já que novas variantes, como a delta, e restrições estaduais podem surgir e obrigar casais a reorganizar a agenda.

“Nossa expectativa é de que a vacina possa alcançar o objetivo dela e reduzir a transmissibilidade dentro da comunidade de tal forma que as aglomerações em grande eventos possam ser retomadas”, diz. Para ele, o importante é estar imunizado. “Se você vai convidar pessoas que não querem tomar vacina, saiba que o risco é muito alto. Não é pra ter pessoas desse grupo.”

O monitoramento da imunização alheia é feito com rigor pelo publicitário Caike Bueno e por seu noivo, o nutricionista Edson Oliveira, ambos de 26 anos. “Quem toma a primeira dose a gente anota, e quando algum convidado recebe a segunda já é marcado como imunizado”, explica o publicitário.

Sem ver a luz no fim do túnel, eles quase desistiram da festa de casamento. A data original era novembro de 2020 e foi adiada para o mês seguinte.

“Cancelar ia contra nosso sonho, ainda mais por sermos um casal homoafetivo e termos um carinho enorme da família. Muita gente aguardou esse casamento”, conta Caike, que namora Edson desde 2013. Recobrada a esperança, partiram para as remarcações e reduções na lista.

O “casamento real” deles virou uma cerimônia menor, marcada para dezembro deste ano, com 150 convidados.

A ideia era casar em um sábado, mas a remarcação exigiu jogo de cintura com os fornecedores. A prioridade foi a agenda do reverendo.

“Para casamento homoafetivo é um pouco mais difícil você conseguir a celebração religiosa. Geralmente é um celebrante ou cerimonialista, e a gente conseguiu um reverendo da Igreja Anglicana. Foi o match perfeito.”

Com o matrimônio agendado desde o fim de 2019, o advogado Marlon Monteiro, 29, e a esteticista Baltira Velasco, 36, acompanharam de perto a propagação do coronavírus no país, ainda mais quando Mato Grosso do Sul chegou a ficar com UTIs lotadas por semanas.

“Em março de 2020 começou a soar o alerta. A gente pensava que tinha um ano ainda pela frente e que daria tempo de todo mundo estar vacinado”, diz Marlon, que se casou em julho, antes de ser imunizado. A pandemia também afetou a data do casamento. Por causa das restrições em Campo Grande, eles adiaram a festa de sexta para domingo, a fim de fazer a celebração mais cedo.

Juntos desde 2010 e atuantes na Igreja Apostólica da Santa Vó Rosa, o casal teve trabalho para adaptar o número de convidados aos tempos pandêmicos e cortar nomes do círculo religioso. “Infelizmente, tivemos que tirar algumas pessoas que morreram por Covid”, explica. Dias antes do casório, pessoas cancelaram a presença e, no fim, cerca de 250 foram ver o “sim” dos pombinhos.

Após uma redução na procura por casamentos durante a pandemia, Victor Luz, presidente do Grupo Calzone, diz que o avanço da vacinação fez crescer 60% a busca nos últimos três meses. De olho nessa demanda represada, a rede abriu mais um espaço na capital paulista, já se adequando às demandas pandêmicas.

Para o Buffet Evento Perfeito, a procura cresceu cerca de 30%, diz a design de interiores Dori Baltokoski. Por ter 14 espaços, a rede conseguiu acolher casais que viram falir suas escolhas originais de salão. Como os locais comportam centenas de pessoas, a redução da capacidade imposta pelo governo João Doria (PSDB) não afetou os casamentos, que têm recebido até 200 convidados.

Já Miriam Catib, do Espaço Fiorello, vê a demanda crescer não para agora mas para o ano que vem, inclusive de pessoas que planejavam se casar ainda em 2021.

“Estamos na terceira fase de remarcação. Por nosso espaço ser fechado, eles têm um receio a mais de fazer”, diz. Tanto é que, nos últimos 15 meses, o local recebeu apenas um casório, para 130 pessoas.

A coordenadora de atendimento Rafaela Blacutt, 30, e o gerente de franquias Jorimar Lorenzi, 35, fazem parte do grupo que mudou a data duas vezes. Inicialmente, o “sim” seria dito em outubro do ano passado. A pandemia fez eles adiarem a festa para o fim deste ano; em junho, a remarcaram para outubro de 2022.

Muitos convidados têm de 30 a 35 anos e, como vivem em Santa Catarina, ainda não foram vacinados. E não lhes agrada a ideia de uma proteção parcial até o casório. “A gente não quer colocar ninguém em risco e jamais iria se perdoar caso acontecesse alguma coisa com alguém no nosso casamento”, afirma ela.

A expectativa dos dois é que, até outubro de 2022, tudo melhore no país e no mundo. “Esperamos que esteja numa normalidade 100% segura”, diz Jorimar. “A gente quer fazer uma festa do jeito que é para ser, sem pandemia”, completa Rafaela. Nós também.

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