Monumento a Marighella amanhece coberto de tinta vermelha em São Paulo

Vandalismo ocorre dias depois de grupo atear fogo à estatua de Borba Gato

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São Paulo

O monumento ao líder da ALN (Ação Libertadora Nacional), Carlos Marighella, amanheceu coberto de tinta vermelha nesta sexta-feira (30), na alameda Casa Branca, nos Jardins (zona oeste de SP).

A pedra em memória ao guerrilheiro foi instalada no local em 1999, durante um ato que marcou os 30 anos do assassinato do líder organização que pregava a luta armada contra a ditadura militar.

Até o momento, não se sabe quem foi o responsável por jogar a tinta vermelha no monumento. Procurada, a Polícia Civil informou que até o momento, nenhum boletim de ocorrência havia sido registrado. Mas que, diante das informações obtidas, instaurou inquérito policial e atua para identificar e responsabilizar os autores.

A Prefeitura de São Paulo disse que o DPH (Departamento de Patrimônio Histórico) já encaminhou a limpeza do Memorial Carlos Marighella. Segundo a administração municipal, um boletim de ocorrência foi registrado pela Polícia Militar.

O monumento a Marighella foi criado pelo arquiteto Marcelo Ferraz. Trata-se de uma peça de granito bruto, onde se lê: "Aqui tombou Carlos Marighella em 4/11/69, assassinado pela ditadura militar - São Paulo, 4 de novembro de 1999".

O faxineiro Jair Ferreira, 52 anos, trabalha há 30 anos no prédio que fica em frente ao monumento e diz que atos de vandalismo não são incomuns no local, e que isso acontece desde que a pedra de granito foi instalada por lá. “Uns 15 dias depois que colocaram, chegou um cara pela manhã, amarrou uma corda e puxou com um Chevette”, diz.

Segundo o porteiro, o monumento ficava, originalmente, 20 metros acima do ponto onde está hoje. Ele conta também que em todo 4 de novembro, data da morte do líder da ALN, há pessoas que vão até o local para homenageá-lo. E, como resposta, outros passam de carro xingando.

Ao longo de toda a rua há câmeras que podem detectar quem praticou o ato contra o monumento a Marighella. Uma delas está logo acima da pedra de granito. Outra, bem mais acima, pode mostrar quem lançou a tinta vermelha. Há ainda uma terceira, no lado oposto, na esquina com a alameda Lorena, que pode também ter identificado o responsável —ou responsáveis pelo ataque.

A morte do líder da ALN foi reconhecida como assassinato em 11 de setembro de 1996 pela Comissão de Mortos e Desaparecidos da Câmara, e a família de Marighella foi indenizada. Agentes do governo brasileiro, sob o comando do delegado Sérgio Fernando Paranhos Fleury, mataram o terrorista.
A ALN teve participação no sequestro do embaixador dos Estados Unidos Charles Burke Elbrick, em setembro de 1969, e do então embaixador da Alemanha Ocidental Ehrenfried von Holleben, em junho de 1970 —ano seguinte à morte de Marighella. A organização justificava os sequestros como forma de conseguir, em troca, a libertação de presos políticos.

Os assassinatos do executivo dinamarquês Henning Boilesen, que financiava ações do DOI-Codi, o órgão repressor do Exército, de um militante da própria ALN, Márcio Leite de Toledo, e de um capitão infiltrado das Forças Armadas são atribuídos à organização.

No Twitter, o jornalista Mário Magalhães, biógrafo do guerrilheiro, afirmou: "Os fascistoides gastaram tinta à toa: sem querer, evocaram o sangue de Marighella derramado no passado por fascistas, nazistas e integralistas".

Magalhães lembra que Marighella foi torturado em 1936, baleado em 1964 e fuzilado sem portar armas na noite de seu assassinato.

​O ataque ao monumento a Marighella ocorre na mesma semana em que o grupo Revolução Periférica ateou fogo à estatua de Borba Gato, em Santo Amaro (zona sul). Paulo Roberto da Silva Lima, o Paulo Galo, e a mulher dele, Géssica, foram presos acusados de envolvimento.

Lima assumiu ter participado do ato, mas sua mulher diz que nem estava presente. Especialistas consideram que a prisão foi ilegal.

O ataque à polêmica estátua de Borba Gato reacendeu o debate sobre as homenagens feitas por tais monumentos.

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