Ruth Costa Carvalho nasceu em uma tradicional família paulistana, filha de uma dona de casa e de um advogado. Apesar do desejo de estudar medicina, os pais decidiram que ela deveria parar no colegial.
Nas voltas que a vida dá, Ruth conheceu o pediatra José Carlos Soares Bicudo e antes dos 20 anos casou-se com ele. A nova vida trouxe mudanças, entre elas a troca do sobrenome Costa Carvalho para Soares Bicudo, e reacendeu a esperança de voltar a estudar.
Ruth viveu a medicina ao lado marido. Como dominava francês, inglês e espanhol, ajudava-o em alguns estudos. Com os cinco filhos adultos, seguiu o exemplo deles e ingressou na faculdade.
Em 1974, formou-se em fonoaudiologia na PUC (Pontifícia Universidade Católica) de São Paulo e logo iniciou a carreira em consultório próprio. Exerceu a fonoaudiologia com excelência na área clínica.
Além do conhecimento, a faculdade deu-lhe muitos amigos. Ruth conquistou e abriu novos espaços no diálogo. Apesar de tradicional, foi inovadora, segundo o sociólogo Marcelo Daher, 43, um dos netos.
Como fonoaudióloga colaborou por quase 20 anos para o projeto “Ser Em Cena”, organização sem fins lucrativos que tem o objetivo de reintegrar socialmente as pessoas afásicas por intermédio da arte dramática e da sensibilização do público à realidade do problema.
Além disso, publicou seis livros sobre a profissão e foi voluntária Hospital Sírio-Libanês, no atendimento a pacientes.
“Ela era uma pessoa formal e muito independente. Foi a primeira a mulher da casa a tirar carteira de motorista e parou de dirigir há poucos anos. A leitura a ajudou a manter-se ativa e atuante. Irrequieta, sempre procurava coisas novas”, afirma Daher.
Ruth venceu o câncer três vezes, mas deixou a resistência de lado quando o coração começou a dar sinais de que deveria descansar. “Estou indo tranquila”, disse aos familiares.
Ela morreu dia 20 de junho, aos 92 anos, em decorrência de insuficiência cardíaca. Separada, deixa quatro filhos —uma das filhas já é falecida —, nove netos e nove bisnetos.
Comentários
Os comentários não representam a opinião do jornal; a responsabilidade é do autor da mensagem.