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Coronavírus Hábitos e Consumo no Segundo Ano da Pandemia

Mulheres mantêm tarefas em casa e perdem lugar no mercado de trabalho

Tendência de aprofundamento de desigualdades segue marcante no segundo ano de pandemia

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Alessandro Janoni

Diretor de Pesquisas do Datafolha

Uma primeira leitura dos resultados da pesquisa atual do Datafolha sobre os hábitos dos paulistanos na pandemia traz a ideia de que poucas mudanças são observadas em relação aos dados do ano passado.

As atividades ainda se concentram em maior grau dentro dos domicílios. A frequência das tarefas domésticas se mantém, em uma rotina que encontra alento em hábitos culturais e religiosos.

A tendência de aprofundamento de desigualdades que a pandemia provocou já no primeiro ano de isolamento continua marcante.

As mulheres, por exemplo, de maneira mais expressiva mantêm a lida no lar após perderem participação no mercado formal de trabalho.

A taxa de queda de assalariadas registradas no segmento feminino é o dobro da verificada no masculino (13 contra 6 pontos percentuais). Cozinhar e cuidar da casa fazem parte da realidade da maioria, mas são atividades mais frequentes para elas do que para eles, com diferença média de dez pontos percentuais.

No entanto, apesar do recrudescimento da pandemia no primeiro semestre do ano, o início da vacinação, mesmo que em ritmo lento, combinado à flexibilização do isolamento e reabertura do comércio, já produz retomada da dinâmica econômica.

O diagnóstico se dá pela queda de 13 pontos percentuais no índice de entrevistados que declaram trabalhar em casa (entre os mais escolarizados e de maior renda chega a 20 pontos) e no crescimento da circulação de pessoas, especialmente no transporte público (saltou de 45% no ano passado para 73% agora), na visita às lojas de rua (subiu de 56% para 75%) e a supermercados (de 90% para 96%).

Mas o perfil da retomada é desigual —66% dos homens estão trabalhando fora, taxa que cai para 48% entre as mulheres. Ao contrário do segmento feminino, há aumento importante de 14 pontos percentuais no índice de jovens que ingressaram na população economicamente ativa.

As dificuldades financeiras geradas pela pandemia, reveladas pela maioria dos entrevistados, podem ter determinado a necessidade de maior participação dos jovens no mercado e potencializado a evasão escolar —no estrato, a taxa declarada dos que só estudam caiu 12 pontos percentuais em relação ao período pré-pandêmico, assim como o índice de matrículas em escolas particulares.

Sobre consumo, a internet mantém-se como ferramenta principalmente para transações bancárias, mas oscila negativamente como meio para aquisição de produtos e serviços. Produtos de limpeza e alimentos congelados são categorias em destaque no segundo ano de quarentena.

As marcas no entanto não são tão lembradas quanto no ano passado —há aumento significativo na dificuldade de associação dos nomes ao período. A queda da audiência concentrada na TV, hábito frequente no encasulamento de 2020, somada à mudança na comunicação das empresas, desvinculando-se agora da pandemia, são hipóteses para a baixa retenção.

Quanto ao futuro, sentimentos negativos como a tristeza, revelada por boa parte dos entrevistados, dão lugar a otimismo majoritário, especialmente entre os que aguardam pela vacinação. No estrato que ainda não recebeu nenhuma dose, a expectativa positiva para 2022 chega a 88%.

Para que o desejo se concretize, a imunização deve avançar principalmente na população economicamente ativa —só um terço do segmento já tomou ao menos uma dose contra quase 70% dos que não estão no mercado de trabalho.

Com a ampliação da campanha, os paulistanos esperam retomar não só a dinâmica econômica mas também a social. Um dos únicos tópicos que apresenta queda em relação ao ano passado e que mais provoca expectativa nos entrevistados é o que se refere a visitar parentes e amigos.

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