No 2º ano da pandemia, paulistano sai mais para trabalhar, comprar e rezar

Visitas a amigos e familiares, no entanto, diminuíram em relação a 2020, afirma pesquisa Datafolha

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São Paulo

Os paulistanos estão menos confinados neste segundo ano de pandemia da Covid-19. Mas, ainda que cenas de aglomerações causem indignação nas redes sociais, a responsabilidade pelo abrandamento da quarentena na cidade de São Paulo não é dos encontros sociais, das festas ou das baladas.

A redução do isolamento, de acordo com pesquisa feita pelo Datafolha com moradores da capital a partir dos 16 anos, está ligada às necessidades econômicas, materiais e religiosas.

Em outras palavras, em 2021, na comparação com 2020, mais paulistanos estão saindo para trabalhar, fazer compras e ir à igreja. Por outro lado, é menor o número de moradores que quebram o confinamento para se encontrar com amigos e familiares.

Um dos principais motivos para o paulistano sair de casa é o trabalho. O levantamento, realizado em 1º, 2 e 4 de junho, mostra que houve uma queda acentuada no percentual dos que estão atuando em home office.

Se, no ano passado, 44% da população economicamente ativa fez o chamado trabalho a distância, agora o índice é de apenas 24%.

A maioria (76%) dos que tem ocupação profissional exerce suas funções no modelo tradicional, presencial, cuja taxa aumenta conforme as dificuldades econômicas.

Nas classes A e B, 61% trabalham presencialmente, enquanto nas classes D e E o percentual sobe para 94%. O tipo de trabalho exercido pelas pessoas mais pobres é a principal razão para esse fato, mas não é a única explicação. De acordo com a pesquisa, 12% dos paulistanos nem sequer têm acesso à internet em casa, o que obviamente inviabiliza o teletrabalho.

O dado é reflexo de uma desigualdade social que se aprofunda à medida que, nessas famílias, as crianças e os jovens ficam completamente desconectados do ensino a distância, imposto pelo fechamento das escolas na pandemia. Nas classes D e E, 47% não têm acesso à internet em casa, enquanto na A e B são 2%.

A queda de adesão ao confinamento do paulistano, além de estar relacionada com o aumento do trabalho presencial, acompanha o início da vacinação e a gradual redução das restrições ao funcionamento das atividades econômicas. ​

De 2020 para 2021, o morador da cidade de São Paulo passou a sair mais de suas residências para fazer compras em lojas (56% para 75%), ir ao banco (47% para 56%) e ao supermercado (90% para 96%). Não à toa, subiu muito o número de pessoas da capital paulista que passaram a utilizar o transporte público (de 45% para 73%).

Cresceu também a proporção dos paulistanos que está se deslocando para igrejas ou templos, de 38% em 2020 para 45% em 2021. Dentre os moradores que quebram o confinamento por motivos religiosos, é maior o número dos que têm apenas o ensino fundamental (65%) do que o daqueles que possuem ensino superior (36%).

No sentido contrário, um número menor de paulistanos tem se encontrado com amigos e parentes.
Se, na primeira edição do levantamento, em 2020, 53% diziam ter deixado o confinamento para esse tipo de reunião social, neste ano são 46%. Essa foi, aliás, a única atividade fora de casa, de todas as pesquisadas pelo Datafolha, que sofreu redução no segundo ano da pandemia.

A quebra do isolamento por essa razão é maior dentre os mais jovens: são 64% na faixa dos 16 aos 24 anos. Separados e divorciados saem mais (49%) do que os casados (41%). No time dos solteiros, o pulo é ainda maior, para 52%. Já entre os viúvos a taxa é bem mais baixa: 25%.

Nesta segunda edição da pesquisa, o Datafolha questionou os paulistanos também sobre as atividades que eles realizam em casa. O levantamento indica que os hábitos pouco mudaram de 2020 para 2021.

Muitos paulistanos fazem alguma tarefa doméstica (94%). Cozinhar é um afazer para 87%, sobretudo para as mulheres (94% contra 78% dos homens). Os paulistanos, em casa, escutam música (90%), principalmente os mais jovens (98% na faixa dos 16 aos 24 anos) e veem televisão (81%), em especial os com 60 anos ou mais (88%).

Ler livros (59%), fazer exercícios físicos (56%) e ajudar os filhos com tarefas escolares (50%), por outro lado, são atividades menos frequentes, assim como jogar vídeo game (20%). Neste caso, o índice aumenta muito entre os jovens de 16 a 24 anos (42%).

A pandemia gerou, naturalmente, muitos sentimentos negativos no paulistano, mencionados por 86% dos entrevistados. O mais citado deles foi a tristeza (27%), seguido pelo sentimento de perda (6%), o de angústia (5%) e o do medo de morrer (5%). O descontentamento com o governo foi destacado por 4% e a falta de liberdade para sair de casa é uma queixa apontada por 3%.

A despeito disso, 85% dos paulistanos seguem otimistas com o futuro, mesma taxa do ano passado, sendo que 61% afirmam estar muito otimistas. A expectativa por dias melhores é maior entre as mulheres (88% contra 81% dos homens) e dentre os que ganham entre três e cinco salários mínimos (91% contra 83% dos que ganham mais de dez salários mínimos).

O Datafolha realizou 815 entrevistas entre moradores da cidade de São Paulo. A margem de erro máxima para o total da amostra é de quatro pontos percentuais.

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