Queda na renda e aulas remotas levam pais a tirar filhos de escolas particulares

Proporção de pais com filhos na rede particular em São Paulo caiu nove pontos percentuais, segundo Datafolha

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São Paulo

A proporção de pais com filhos matriculados na rede particular em São Paulo caiu nove pontos percentuais de 2020 para 2021, de acordo com pesquisa Datafolha —de 22% para 13% dos entrevistados. O empobrecimento das famílias depois de praticamente um ano e meio de pandemia é o principal motivo por trás da mudança.

Foi o que aconteceu com Keila Regina Galera, 44, professora de educação infantil de Mauá e moradora de Santo André, ambas cidades da Grande São Paulo.

Funcionária pública, ela manteve seu rendimento, mas o marido, Fabiano, 41, perueiro, viu seus ganhos desaparecerem com o fechamento das escolas. “Ele conseguia mais ou menos R$ 10 mil (cerca de 80% da renda da casa) por mês e isso zerou. Aí foi ser Uber, entregador, e o salário caiu para R$ 1.000, mil e pouco por mês”, afirma.

Isso aconteceu no início da pandemia, mas a família ainda manteve Manuella, 8, na rede particular durante o ano passado. Neste ano, porém, para priorizar outras contas, optaram por cortar o gasto de R$ 950 da mensalidade.

“Tínhamos a prestação da casa e as contas da van (ferramenta de trabalho de Fabiano), aí achamos melhor tirá-la neste ano”, diz. Keila pretende rematricular Manuella na rede privada quando as coisas voltarem ao normal.

Já para Marivalda Maria Maximiano da Silva Fontanete, 63, moradora da zona norte de São Paulo e também professora da rede pública, além do dinheiro, o fato de o ensino ser online na pandemia contribuiu para a decisão de tirar Giulliane, 16, da escola privada.

“As aulas eram muito conteudistas, faziam os alunos ‘engolirem’ as apostilas e só. Quando é presencial, tiram suas dúvidas, interagem mais com o professor”, afirma.

Tal como Manuella, Giulliane só saiu da antiga escola, com mensalidades de R$ 900, em 2021, apesar de a família ter perdido renda já em 2020. Ela, que está no segundo ano do ensino médio, deve concluir o ciclo na rede pública independentemente de o que acontecer, diz sua mãe.

O marido de Marivalda, Jonas, 64, também professor, mas não efetivo, foi demitido. Aí foram embora cerca de R$ 5.000 mensais. Ele passou a fazer bicos como pedreiro e mecânico, mas os rendimentos ficam em pouco mais de um quinto do salário anterior.

Sua mulher manteve o emprego, mas sem receber adicional noturno, perda de cerca de R$ 1.200 por mês, calcula.

Marivalda tem outro filho, João, 9, que segue na rede particular, mas só até o fim do ano. “Já comprei apostila para 2021 inteiro”, justifica, mas ela também está insatisfeita com a escola do garoto. “Outro dia um professor faltou por ter pegado Covid e simplesmente jogaram um link para uma aula gravada”, reclama.

Na pandemia, a família perdeu cerca de 40% do rendimento. Na composição da renda, há ainda os vencimentos do filho mais velho de Marivalda, Raul, 38, funcionário dos Correios que passou a ser também motorista de aplicativo na crise para ajudar em casa.

Mesmo assim, a escola particular de Giulliane não foi o único corte. “O preço de tudo subiu. Da gasolina, do gás, da luz... Por isso, deixamos de fazer tudo o que era supérfluo, tipo viagens”, diz a professora.

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