Cinco personalidades negras ganharão estátuas na cidade de São Paulo

Obras serão 5% dos monumentos em homenagem a pessoas no município

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São Paulo

Carolina de Jesus, Itamar Assumpção, madrinha Eunice, Geraldo Filme e Adhemar Ferreira da Silva. São essas as cinco personalidades negras que ganharão estátuas em sua homenagem em parques, praças e avenidas da cidade de São Paulo.

O começo da construção das obras está previsto para setembro e deve durar seis meses. A Secretaria da Cultura do município não informou quem serão os autores das obras nem como eles serão escolhidos.

A pressão por mais monumentos que homenageiam personalidades negras na cidade de São Paulo é antiga e se intensificou após o incêndio na estátua do bandeirante Borba Gato.

O ato reacendeu o debate sobre a pertinência de monumentos que homenageiam pessoas ligadas à escravidão, colônia, ditadura e a outros períodos sensíveis no passado do Brasil.

Segundo levantamento do Instituto Pólis de 2020, a capital paulista tem 367 monumentos, dos quais 200 homenageiam pessoas. Desses, 137 são homens brancos, 18 são mulheres brancas, e apenas 5 homenageiam pessoas negras, sendo 4 homens negros e 1 mulher negra.

A promessa é de que o número de estátuas de pessoas negras suba para 10 até fevereiro de 2022, se as novas obras forem concluídas. Ainda assim, elas representarão apenas cerca de 5% dos monumentos que homenageiam pessoas na cidade.

Conheça as personalidades homenageadas

Carolina Maria de Jesus é um dos maiores nomes da literatura brasileira. Ela nasceu em 1914, em Sacramento, no interior de Minas Gerais. Em 1947, se mudou para São Paulo e se instalou na favela do Canindé, na zona norte. Levantou ali um barraco com as próprias mãos e viveu boa parte da vida com os três filhos, João José, José Carlos e Vera Eunice. Para sobreviver, catava e vendia papel.

Em 1955, iniciou um diário para relatar o dia a dia da favela. Três anos depois, o jornalista Audálio Dantas, que trabalhava na extinta Folha da Noite, um dos jornais que deram origem à Folha, a descobriu e passou a publicar trechos dos seus escritos no jornal.

Dois anos depois, em 1960, Carolina teve o seu primeiro livro publicado, "Quarto de Despejo". A obra foi traduzida para 13 idiomas e vendida em mais de 40 países. Em 1977, ela morreu em decorrência de crise de asma.

Localização: Parque Linear Parelheiros, onde se encontram o Centro de Cidadania da Mulher e o Ponto de Leitura Carolina de Jesus

Geraldo Filme de Souza foi precursor do samba paulista. Ele nasceu em 1927, nos Campos Elíseos, região central de São Paulo, e morreu em 1995, sem nenhum reconhecimento fora dos círculos locais em que se movia.

Aprendeu o samba em um dos núcleos de fundação do batuque paulista: o extinto largo da Banana, na Barra Funda. Um dos seus feitos foi ter ajudado a organizar os cordões e blocos que mais tarde se transformariam nas escolas de samba da cidade –foi o primeiro presidente da União das Escolas de Samba de São Paulo, diretor, conselheiro e compositor.

Localização: Praça David Raw, na Barra Funda, próximo ao antigo largo da Banana, muito frequentado por Geraldo e marca do samba paulistano

Adhemar Ferreira da Silva, atleta do salto triplo, conquistou dois ouros em Olimpíadas, em Helsinque- 1952 e Melbourne-1956, e disputou quatro edições dos Jogos.

Suas duas medalhas de ouro estão simbolizadas nas duas estrelas douradas do símbolo do São Paulo Futebol Clube, do qual foi atleta. Ele também bateu o recorde mundial do salto triplo cinco vezes.

Adhemar nasceu em 1927 na Casa Verde, zona norte da capital paulista. Formou-se em artes, educação física, direito e relações públicas. Foi adido cultural do Brasil na Nigéria após abandonar a carreira esportiva e participou do filme "Orfeu Negro", vencedor da Palma de Ouro em Cannes.

Provável localização: canteiro central da Avenida Braz Leme (Casa Verde), no bairro onde o atleta sempre morou e onde surgiram clubes de atletismo

Madrinha Eunice (Deolinda Madre) fundou uma das escolas de samba mais antigas de São Paulo, a Lavapés, no bairro do Glicério. Ela era uma mulher negra, pobre e filha de escravos, que vendia limões no centro da cidade.

Nos anos 1930, ela e o marido, Francisco Papa, eram figuras populares. Cantavam marchinhas no rádio nas semanas que antecediam o Carnaval. Madrinha Eunice e Chico Pinga –seus apelidos– conheceram as escolas de samba do Rio em 1936. Ficaram tão deslumbrados que decidiram criar em São Paulo algo parecido. Em fevereiro de 1937, fundavam a Lavapés. Os primeiros desfiles foram no centro antigo.

Localização: Praça da Liberdade, local sugerido pelos familiares

Itamar Assumpção foi um compositor, cantor e instrumentista precursor do afrofuturismo no Brasil. Ele nasceu em Tietê, no interior paulista, em 1949, e foi um dos principais artistas de música independente no Brasil.

Depois de se mudar para o Paraná, entrou em contato com o teatro, os festivais universitários e as efervescentes discussões políticas que marcaram o período da ditadura militar. Em 1973, passou a morar em São Paulo, onde se dedicou à carreira musical.

Seu disco “Beleléu Leléu Eu”, gravado de maneira independente em 1980, conquistou a crítica musical da época com suas letras em um tom satírico.

Localização: ainda não foi definida, mas localidades como a Casa de Cultura da Penha, onde Itamar gravou a trilogia "Bicho de 7 Cabeças", em 1993, e a praça Benedito Calixto estão sendo consideradas

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