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Com K-Pop e cinema, cultura fortalece 'soft power' sul-coreano

Aproveitar as oportunidades criadas por esses ativos, sem prejudicá-los, deve ser prioridade da política externa de Seul

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Alexandre Uehara

Coordenador do Núcleo de Estudos e Negócios Asiáticos e professor de relações internacionais da ESPM

Você conhece as palavras Hallyu, K-Pop e soft power? Talvez não, mas elas são atualmente muito populares entre os jovens e, também, entre outros que já não são tão jovens.

O Hallyu é um fenômeno conhecido como onda coreana, termo cunhado na década de 1990, com o crescimento da popularidade no leste asiático de novelas produzidas para TV. Mas, que, com o passar do tempo, avançou para outras áreas, como a indústria da música (K-pop) e jogos digitais que, gradualmente, foram conquistando o mercado global.

Com toda essa expansão de consumo de produtos coreanos que se iniciou pela Ásia, passou pela América Latina, Oriente Médio e alcançou o mundo, ganha destaque o terceiro termo, soft power da Coreia do Sul.

O soft power ou, em português, poder brando, é um termo que foi apresentado pelo professor Joseph Nye Jr., que está relacionado ao poder de um país construir sua imagem positiva, atrair, influenciar e persuadir outros países à cooperação pelo poder das ideias, cultura e valores ao invés de usar a força.

Um exemplo que pode dar uma ideia da força atual da cultura coreana foi o faturamento do popular grupo de garotos sul-coreano chamado BTS, superior a US$ 70 milhões, segundo as informações da gravadora HYBE, na live de dois dias de comemoração de oito anos do grupo.

Mas o sucesso não é restrito às músicas e novelas. Em 2020 um dos grandes destaques internacionais das produções coreanas foi o Oscar ganho pelo filme Parasita, do diretor Bong Joon Ho. Esse resultado teve ainda maior relevância por ter sido a primeira produção em língua estrangeira a ganhar o prêmio de melhor filme.

Essa expansão da conquista de mercado e popularidade desses elementos da cultura coreanos até o momento é identificada como um crescimento que ocorreu com apoio, mas não direção do governo de Seul.

O governo sul-coreano tem, portanto, um grande ativo a sua disposição, pois todo esse sucesso poderá tornar mais fácil a conversão desses fatores, que, de maneira simplista, podemos chamar de “soft power potencial” para “soft power ativo”.

Portanto, são inegáveis a força e o sucesso global das produções coreanas. No entanto, ser o país de origem de bandas musicais, filmes e outras atrações e ter ídolos coreanos globalmente populares não é por si só sinal de soft power.

Com certeza, toda essa repercussão trouxe benefícios à Coreia do Sul, promoveu sua percepção positiva, inclusive influenciando o aumento do turismo e o do interesse de estudantes estrangeiros no país. Mas, voltando ao conceito de Nye Jr, o soft power implica em fazer com que o outro faça o que você deseja.

Essa relação entre a onda Hallyu e a política externa deve ser cuidadosa, para que eventuais problemas políticos não impactem negativamente a expansão desse ativo coreano, como ocorreu em 2017, quando a China, contrariada pela instalação de um sistema de defesa antimísseis pelos Estados Unidos na Coréia do Sul, restringiu o consumo de produtos culturais e o turismo coreanos.

Mas, por outro lado, o convite feito pelo governo sul-coreano aos cantores do grupo Red Velvet e Baek Ji-young para se apresentarem em Pyongyang, por ocasião da reunião entre Moon Jae-in e o líder supremo norte-coreano Kim Jong Un, foi avaliado como positivo, pois deu grande visibilidade ao evento de 2018.

Enfim, o Hallyu é sim um elemento importante de soft power, dada a sua popularidade internacional, mas também envolve interesses econômicos significativos, pois há um efeito multiplicador de consumo de produtos coreanos, decorrente do interesse pela cultura do país.

Encontrar o caminho para explorar o interesse autêntico dos admiradores do Hallyu e aproveitar as oportunidades criadas por esse ativo, sem prejudicá-lo, deve ser uma das prioridades da política externa sul-coreana.

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