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Falta de vaga em bicicletário da CPTM transforma até árvore em paraciclo em SP

Estações do Itaim Paulista têm muita procura e oferta insuficiente para deixar bikes

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São Paulo

O Itaim Paulista (na zona leste de São Paulo) é a penúltima entre as 32 subprefeituras no ranking de cobertura vegetal da capital paulista —tem apenas 6,86 m² por habitante, segundo dados oficiais. Mesmo assim, as poucas árvores do bairro têm servido para um propósito pouco usual: viraram paraciclos improvisados.

Na região, virou uma cena comum encontrar bicicletas penduradas e amarradas com correntes nas forquilhas ou nos troncos das árvores que ficam ao longo da linha 12-safira da CPTM (Companhia Paulista de Trens Metropolitanos).

Os veículos são de trabalhadores que, mesmo chegando bem cedo, não encontraram vaga nos bicicletários. Sem tempo para voltar para casa, eles se veem obrigados a improvisar e criam uma espécie inusitada: o "pé de bike".

Isso costuma acontecer com o vendedor Gilberto Alves Nascimento, 35. Para economizar com o ônibus da integração na jornada diária entre o bairro da zona leste e Itaquaquecetuba (na Grande São Paulo), ele tem duas opções: 45 minutos a pé ou 25 minutos de bike até a estação Jardim Helena-Vila Mara, onde toma o trem. Com a falta de vaga no bicicletário, resta o improviso. “Hoje, deixei de novo amarrada na árvore. Tem mais de 50 para o lado de fora”, afirmou o vendedor na última quinta-feira (19).

O pior é que a economia com a passagem de ônibus pode ir embora num piscar de olhos, quando a bicicleta fica exposta na árvore durante o dia inteiro à disposição dos ladrões. “Tem uns sete meses que roubaram a outra que eu tinha”, diz Nascimento. O furto fez o vendedor gastar R$ 650 na nova bicicleta, comprada de segunda mão em uma feira no bairro.

O autônomo Angelito Ferreira Leite, 48, também trocou 30 minutos de caminhada por 10 de bicicleta entre a casa e a estação do Jardim Helena-Vila Mara. Mas esbarra na deficiência do bicicletário. “É difícil encontrar vaga. Geralmente, fico de 30 minutos até uma hora esperando”, contou. “Tem espaço de sobra para ampliar”, disse.

Como as 256 vagas em cada um dos bicicletários das estações Jardim Helena-Vila Mara e Itaim Paulista são insuficientes, a vizinhança oferece um “bicicletário alternativo”. “Cobram até R$ 4 por dia”, diz Leite. É um dinheiro que come praticamente a metade da economia por não usar ônibus na ida e na volta.

Responsável pelo projeto Pedale-se, que promove passeios turísticos de bicicleta por São Miguel Paulista (zona leste), Rogério dos Santos Raimundo, 32, afirma que o uso da bicicleta na região para acessar a linha da CPTM extrapola os limites da capital. “Muita gente vem até de Guarulhos. Nos primeiros horários do dia, já encheu. Por isso, o cara amarra na árvore e, às vezes, tem a bicicleta roubada”, diz. “As pessoas são desestimuladas a pedalar”, afirma.

Na falta de vaga, Raimundo sugere inclusive a criação de um aplicativo por meio do qual a pessoa já saiba se o bicicletário encheu ou não, antes mesmo de sair de casa.

Insuficiente no Itaim Paulista, pior na vizinha Guaianases, onde nem bicicletário há na estação da linha 11-coral. O problema se repete na José Bonifácio, em Itaquera, embora um estudo da Ciclocidade (Associação dos Ciclistas Urbanos de São Paulo), mostre um grande potencial de uso para quem pega o trem nas duas paradas.

O levantamento apontou que 66% dos usuários da estação Guaianases e 60% daqueles que tomam trem na José Bonifácio estariam dispostos a usar a bicicleta para chegar até o trem.

Em média, eles deveriam pedalar apenas 3,7 km de suas casas até a estação, entre aqueles que hoje usam ônibus. Para quem atualmente faz o percurso caminhando, são 2,2 km. Benefícios para a saúde, economia de tempo e de dinheiro foram, pela ordem, alguns dos motivos para promoverem a mudança.

Diretora da Ciclocidade, Aline Cavalcante afirma que facilitar o acesso é fundamental. “Cidades como São Paulo têm uma escala muito grande. É realmente impossível imaginar que as pessoas consigam fazer seus deslocamentos 100% por bicicleta. Nesse sentido, os bicicletários são uma maneira de conectar o usuário ao sistema de alta capacidade. Todas as estações de trem e metrô deveriam ter.

A representante da associação diz que, com infraestrutura cicloviária, o que inclui bicicletários, esses bairros da zona leste estariam entre aqueles com maior índice de mobilidade ativa da capital paulista. “Garante que as pessoas tenham mais autonomia, mais alternativas, que não dependam apenas do ônibus, do carro, da moto. Que possam experimentar uma mobilidade mais limpa”, explica.

Procurada, a CPTM disse que incentiva o uso de bicicletas. A companhia afirmou que, no total, existem 36 bicicletários ao lado das estações, com 8.687 vagas. Destes, 33 são de responsabilidade dela. “Esses espaços contam com iluminação, piso de concreto e segurança para controlar os acessos. Para utilizá-los, basta fazer o cadastro mediante apresentação de RG e levar o próprio cadeado e corrente para prender a bicicleta”, afirmou.

Segundo a CPTM, outra forma de incentivo ao uso de bicicletas é a permissão do acesso de ciclistas nos trens, de segunda a sexta-feira, das 10h às 16h e a partir das 21h até o encerramento da operação, e aos sábados, domingos e feriados, durante todo período comercial, das 4h até meia-noite.

A companhia afirmou também que a Ciclovia Novo Rio Pinheiros atende cerca de 100 mil ciclistas por mês com 21,5 quilômetros de extensão, entre a avenida Miguel Yunes (entre as estações Jurubatuba e Autódromo) e a estação Villa-Lobos-Jaguaré, ao longo da linha 9-esmeralda. O funcionamento é diário, das 5h30 até meia-noite, com entrada permitida até 23h.

A ciclovia conta hoje com seis pontos de apoio com banheiro, bebedouro e atendimento, localizados ao longo do percurso: avenida Miguel Yunes, Santo Amaro, Vila Olímpia, Cidade Jardim, Cidade Universitária e Villa-Lobos/Jaguaré.

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