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Flexibilização em SP contraria especialistas, e Doria dissolve Centro de Contingência

Governador diz que atual situação da Covid no estado demanda menos conselheiros e cria grupo menor

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São Paulo

O governador João Doria (PSDB) anunciou a dissolução do Centro de Contingência do coronavírus após manter as medidas de flexibilização no estado mesmo sem consenso entre os especialistas do grupo. No lugar da estrutura existente desde o começo de 2020, ele criará um comitê com menos membros.

Formado logo no início da pandemia, o grupo com 21 integrantes foi avisado na sexta-feira (13) sobre a reformulação. A partir de agora, o novo comitê passará a ter apenas 7 integrantes.

A mudança não pegou os especialistas de surpresa, já que, desde o fim do ano passado, muitas das decisões do governador não seguiam as recomendações e avaliações feitas pelo grupo sobre o quadro epidemiológico no estado.

A discordância, inclusive, ocorreu com a decisão de Doria de pôr fim a todas as restrições de horário e ocupação ao comércio e serviços em São Paulo a partir desta terça (17).

O governador não mencionou as divergências como motivo para redução do grupo, mas afirmou que o momento da pandemia no estado não exige mais orientação de tantos especialistas. "Não há mais necessidade de manter uma estrutura com tamanho tão expressivo", disse nesta terça.

Governador João Doria anunciou a dissolução do Centro de Contingência
Governador João Doria anunciou a dissolução do Centro de Contingência - Governo do Estado de São Paulo

A maioria dos integrantes aconselhou o governador a adiar as medidas ao menos até que 80% da população adulta do estado estivesse vacinada com as duas doses da vacina, o que deve ocorrer até o fim do ano.

Os especialistas defendem que, com o aumento da presença da variante delta no estado, é precipitado adotar medidas tão radicais de relaxamento. Para eles, a flexibilização deveria ocorrer de maneira gradual, como foi feito no estado em outros momentos durante a pandemia, para avaliar o impacto de cada medida no aumento da transmissão.

“A abertura nesse momento é muito prematura. A variante delta está avançando, e vimos o que ela causou em outros países. Nós alertamos que a vacina não protege 100% contra a delta, ainda mais com a maior parte da população só com uma dose”, diz o infectologista Marcos Boulos, que integrava o grupo agora dissolvido.

Mais transmissível e com escape imunológico, a variante viral levou outros países, como Estados Unidos e Israel, a retroceder no relaxamento das regras após o aumento de casos.

Além disso, estudos mostram que uma única dose de qualquer imunizante fornece pouca proteção contra a delta. Em São Paulo, só 28,6% da população adulta está completamente vacinada.

“Não foi uma dissolução litigiosa, mas, evidentemente, nossa preocupação com a delta não está na mesma frequência que a tendência de abertura do governo. A revisão, nesse caso, é natural”, diz o infectologista Carlos Magno Fortaleza, que foi integrante do centro.

Há semanas, Doria mantem a defesa de que o relaxamento das medidas é seguro já que estão mantidas a obrigatoriedade de duas medidas no estado: o distanciamento de 1 m e o uso de máscara de proteção facial.

No entanto, como é fácil constatar nas ruas e estabelecimentos da capital paulista, tanto o distanciamento como o uso de máscara não são adotados por toda a população.

Os especialistas do centro insistiram na manutenção de algumas regras, como limite de horário de funcionamento para bares e a continuidade de proibição de festas, por entenderem que o uso da máscara é quase inexistente nessas situações.

Apesar das recomendações, o governador insistiu em manter o plano de abertura a partir desta terça.

O centro de contingência sempre teve caráter consultivo, ou seja, o governo não é obrigado a seguir suas recomendações. Apesar da prerrogativa para a tomada de decisões contrárias à orientação dos especialistas, Doria, até mesmo para se contrapor ao presidente Jair Bolsonaro (sem partido), sempre afirmou seguir a ciência.

O anúncio de que o Centro de Contingência passará a ser um comitê foi feito na manhã desta terça pelo governador. “Amanhã [quarta] vamos anunciar os 7 nomes do comitê científico. Eram 21”.

Em nota, o governo de São Paulo informou que a redução do grupo ocorre "frente à queda de casos, internações e mortes pela doença" no estado.

Os sete nomes que serão anunciados já compõem o centro de contingência, acrescentou o governador, afirmando que não acrescentará nenhum nome novo ao grupo.

Colaborou Alfredo Henrique

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