Descrição de chapéu interior de são paulo

País deixa de organizar 1.200 festas de peão em 2021 por causa da pandemia

Capital nacional do rodeio, Barretos realiza até domingo uma versão virtual de seu festival

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Ribeirão Preto e São José do Rio Preto (SP)

No primeiro mês, ele viveu com parte da renda obtida nas arenas. No segundo, porém, viu que as competições não seriam retomadas logo e a conta zerou. Teve de procurar outro emprego e foi ser ajudante em uma fazenda em Riolândia (SP).

O cenário enfrentado na pandemia pelo peão Adriano Aparecido Batista, o Kid, 36, é o mesmo de outras milhares de pessoas que trabalham em festas do peão no país, que com raras exceções não são realizadas desde março do ano passado. Meca do setor, Barretos realiza montarias com transmissão virtual até domingo (29).

Sem os cerca de 1.200 eventos do gênero existentes no Brasil, estimados pela CNAR (Confederação Nacional de Rodeio), peões deixam de amealhar polpudos prêmios nas competições, salva-vidas das arenas não têm quem socorrer, locutores ficam sem narrar e tropeiros deixam de receber os pagamentos pelas boiadas levadas para as festas.

“Comecei a procurar emprego e passei a trabalhar como ajudante em uma fazenda. Lá eu faço de tudo, alimento os animais, limpo a área em que eles ficam, ajudo no que for preciso. O que recebo dá para pagar as contas do mês e assim vamos nos virando. Parei de treinar e estou aguardando a retomada para voltar”, disse Kid.

Imagem mostra o peão Adriano Aparecido Batista, 36, de Riolândia (SP), durante montaria; ele está sobre um cavalo, que está pulando
O peão Adriano Aparecido Batista, 36, de Riolândia (SP), que precisou buscar outro emprego após a paralisação dos rodeios na pandemia - Arquivo pessoal

Além de quem atua dentro das arenas, lojas também não vendem moda country, empresas de montagem de estrutura de eventos ficam paradas, vendedores ambulantes não têm o que fazer e hotéis, restaurantes e postos de combustíveis perdem clientes.

“Foi extremamente frustrante quando a pandemia chegou, estávamos a pouco mais de uma semana do início das vendas dos ingressos, os contratos estavam fechados e tivemos de cancelar. Fizemos uma versão online, mas não tem o impacto e a emoção de um rodeio presencial. Neste ano optamos por não fazê-la”, disse o tropeiro Paulo Emílio Marques, organizador do Rio Preto Country Bulls, em São José do Rio Preto.

Dono do lendário touro Bandido —que virou astro de novela (“América”), morreu em 2009 e hoje tem uma estátua no Parque do Peão de Barretos—, Paulo Emílio possui outros negócios, como a criação e venda de gado, e disse que precisou canalizar o investimento na área para não sofrer o impacto financeiro da paralisação dos eventos.

O Country Bulls gerava 1.500 empregos em cada edição e atraía entre 120 mil e 150 mil pessoas, com faturamento estimado para a região de São José do Rio Preto em R$ 10 milhões.

A crise sem precedentes no setor atinge principalmente pequenas cidades, onde esse tipo de festa é a principal atração do calendário anual de eventos.

Imagem mostra homens em cavalos, ao lado de bezerros
Competidor disputa prova de Team Penning, em que um trio tem de conduzir bezerros para um curral sem encostar neles - Mateus Rios/Os Independentes

“A festa é o evento mais aguardado da cidade, atrai visitantes de toda a região e aquece todos os setores. Sem a festa, a cidade ficou morta”, disse José Fontes, presidente do Clube dos Cavaleiros de Bálsamo, cidade de pouco mais de 9.000 habitantes na região de Rio Preto que chega a ter 20 mil pessoas por noite de festa.

Morador da cidade, o peão Paulo Henrique Baesso Soler, o Espanhol, disse que a paralisação das provas fez com que ele se reinventasse.

Ganhador de rodeios no próprio município e em cidades como Fernandópolis e Jales, conquistou dois carros e oito motos na carreira, fruto de um trabalho que incluía ficar fora de casa entre quarta-feira e domingo, datas em que tradicionalmente os rodeios são realizados.

“Apesar de eu ter uma certa estabilidade financeira, precisei me reinventar e buscar uma atividade para manter uma renda ativa para sustentar minha família. Passei a investir na compra e venda de gado e hoje vivo da pecuária. Desde o ano passado estou sem treinar e afastado da atividade de peão. Se no ano que vem as coisas melhorarem, aí volto a pensar e focar na profissão”, disse.

A maior parte das competições da temporada ocorre de março a agosto, culminando com a Festa do Peão de Boiadeiro de Barretos. Como são eventos a céu aberto, escapar da possibilidade de chuva é uma das tentativas dos organizadores ao escolher as datas.

Locutor da festa de Barretos há 29 anos, Adriano do Vale trabalhava em cerca de 30 rodeios por ano, o que lhe permitiu ter uma reserva financeira. Mas as incertezas fizeram com que investisse em um novo negócio: uma cafeteria no shopping da cidade.

“Há cerca de sete anos fiz alguns cursos sobre como investir na Bolsa de Valores, foi a minha sorte, porque com a chegada da pandemia eu tinha uma reserva financeira. Minha renda nesse período despencou, já que o setor de eventos ficou totalmente paralisado e isso era algo que eu nunca imaginei que pudesse acontecer.”

O café foi aberto no início deste mês e emprega seis funcionários. “Com a retomada gradual do setor de comércio, vimos que era uma área que a gente gosta. Vem dando um bom retorno financeiro. Aos 49 anos precisei me reinventar como profissional e, além de locutor, me transformei em empresário. A pandemia fez com que eu me redescobrisse, saísse da minha zona de conforto, e apesar de ser um universo muito novo para mim, estou muito animado com esse novo ramo de atuação.”

Ele participou de oito lives durante a pandemia e tem nove contratos fechados para festas de peão em 2022. Já narrou também eventos como os de Jaguariúna, Orlândia e Guaxupé, entre outras.

'Barretos está viva e voltará com tudo', diz presidente da festa

Já Barretos, a capital do rodeio e que recebia entre 900 mil e 1 milhão de visitas nos 11 dias de festa, está desde quarta-feira (25) realizando lives com provas, que seguem até domingo, e shows com artistas como Cesar Menotti e Fabiano e Wesley Safadão.

É, segundo Jerônimo Luiz Muzetti, presidente da associação Os Independentes, que organiza a festa, uma forma de mostrar ao público que “Barretos está viva e voltará com tudo”. O público atraído pela festa gera cerca de R$ 50 milhões em receita para a cidade e para municípios vizinhos.

“A mensagem é essa, queremos mostrar o que tem de melhor, os melhores cantores, os melhores do rodeio. Estamos otimistas, mais vivos do que nunca, e acreditando que não só Barretos, mas o segmento, voltará com tudo no ano que vem. Lançamos a venda do Carnaval de 2022 e está sendo um sucesso. O público está louco por poder participar de eventos, não vê a hora”, afirmou.

De acordo com ele, que também preside a confederação nacional da modalidade, a pandemia gerou perdas expressivas para o setor, mas o retorno trará de volta toda a cadeia envolvida com as provas.

“A maioria das prefeituras do Brasil celebra suas datas comemorativas com rodeios e shows. Hoje há muita gente desempregada, uma perda irreparável, peões esperando o segmento voltar. Acreditamos que há chances de explosão de público [em 2022], com recorde de visitantes nos dois finais de semana de realização da nossa festa. Isso vai se refletir em todo o país”, disse.

Muzetti afirmou ainda que as lives sem público no Parque do Peão se pagam com os patrocinadores, mas que o público é a alma da festa.

Nesta sexta (27) à noite, haverá provas de montarias em touros (transmissão Sportv3), team penning e três tambores (ambas com transmissão pelo canal da festa no Youtube) e show com César Menotti e Fabiano, com convidados (também pelo canal da festa).

No sábado (28), as mesmas provas e o show de Wesley Safadão e convidados serão transmitidos pelo canal da Festa do Peão, assim como toda a programação prevista para domingo (29).

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