Descrição de chapéu Afrofuturismo já

Policiais assassinados no Brasil são negros na maioria

Relatório mostra que 7 a cada 10 mortes ocorreram fora do horário de trabalho

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Rio de Janeiro, Salvador e São Paulo

No ano passado, 194 policiais foram assassinados no país, e 63% deles eram negros.

Para Samira Bueno, diretora-executiva do Fórum Brasileiro de Segurança Pública, a ideia de que policiais são heróis os deixam mais vulneráveis e contribui para o aumento no número de mortes.

“Eles tendem a reagir a qualquer situação por causa da ideia fantasiosa de que se é policial 24 horas por dia.”

Mesmo em um ano com menor circulação pessoas nas ruas, devido à pandemia, a quantidade de mortes de agentes de segurança pública cresceu 13% no país em relação a 2019.

Operção da Polica Militar, na favela do Jacarezinho, zona Norte do Rio, depois de intensa troca de tiros - Tércio Teixeira/Folhapress

Segundo o último anuário do Fórum Brasileiro de Segurança Pública, 7 a cada 10 mortes ocorreram fora do horário de trabalho dos policiais. Eles foram mortos em passeios, no trajeto de ida e volta da corporação ou quando faziam serviços paralelos, os ‘‘bicos’’, ilegais, mas realizados para complementar a renda.

A reportagem ouviu um policial militar que atua no Rio de Janeiro há 20 anos.

“Entrei por querer estabilidade, depois me apaixonei pela profissão”, diz ele, que pediu para não ser identificado.

O PM criticou o treinamento dado pela corporação: ‘‘O policial acaba aprendendo na rua’’, diz. E reclamou da falta de apoio jurídico, do Estado, da sociedade e dos superiores ao trabalho do policial.

Sobre o fato de negros serem as maiores vítimas da violência, ele descarta preconceito. Na sua visão, ocorre porque a maioria da população é de pessoas negras. “Policial não escolhe criminoso.”

Para a socióloga Paula Poncioni, pesquisadora da Ufrj (Universidade Federal do Rio de Janeiro), falhas de formação são um dos fatores que explicam o desempenho policial. “Muitas vezes, há um currículo ajustado à matriz nacional, mas não há professores qualificados, as aulas são recheadas de preconceitos”, diz a autora de “Tornar-se Policial’’ (editora Appris).

A letalidade policial, para Poncioni, decorre de uma sociedade “muito violenta e muito hierárquica”. Ela afirma que a polícia mata mais no Brasil por representar o pensamento geral da sociedade, refletido na composição dos governos que administram as polícias.

“A formação profissional está eivada de crenças, valores e preconceitos de um sistema de representação sobre o que é polícia, o que é criminoso, o que é mulher, o que é o menor e o que é o negro”, aponta.

O ouvidor da Polícia do Estado de São Paulo, Elizeu Soares Lopes, diz considerar a formação da polícia muito boa, mas ressalva que é preciso reforço. “Insistimos na necessidade de ações formativas em direitos humanos. A qualificação e a requalificação permanente dos quadros da polícia são fundamentais, seja ela civil, militar ou técnico-científica.”

Hoje, a matriz curricular que define as regras para a formação de policiais no Brasil está em sua segunda versão, editada em 2014, no governo Dilma Rousseff (PT). Nela, o Ministério da Justiça orienta as ações formativas dos profissionais. Na grade dos cursos há, por exemplo, determinação para que os aspirantes tenham acesso a um módulo de 14 horas de aulas sobre diversidade étnico-racial.

Procurado, o Ministério da Justiça não respondeu.

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