Descrição de chapéu Coronavírus

Público fitness ainda não se sente 100% confortável em voltar à academia

Muitos aguardam a vacinação contra a Covid para retomar treinos, enquanto outros criam protocolos particulares

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São Paulo

O público assíduo das academias ainda se encontra dividido sobre voltar a malhar, mesmo com melhora nos números da pandemia da Covid-19 e adequações dos estabelecimentos. Há desde aqueles que aguardam a imunização completa aos que só deixaram de ir quando o local fechou as portas. No meio-termo está quem age de acordo com protocolos particulares.

Nessa zona cinzenta se enquadra a gerente de redes sociais e corredora Gabriela Marques, 25, que já ensaiou algumas vezes a volta aos treinos em um local fechado, mas as tentativas não deram certo.

A razão? Ela estava esperando o retorno à normalidade pré-Covid. “Não vai voltar a ser como era antes, e a gente tem que se adaptar ao que é hoje”, avalia.

Logo no início da pandemia, ela ficou 75 dias em quarentena após familiares se contaminarem com o coronavírus. Na hora de voltar aos treinos, faltou disposição. “Na cidade onde morava [Franco da Rocha (SP)], tinha gente morrendo na fila, esperando vaga pra UTI. E não tinha onde correr, porque o parque estava fechado.”

A corredora Gabriela Marques, que descobriu na prática um auxílio para lidar com transtorno bipolar
A corredora Gabriela Marques, que retomou os treinos na academia recentemente - Arquivo pessoal

O desânimo para se exercitar fora de casa afetou também os treinos domésticos, de fortalecimento, e ela ganhou 13 quilos. Recentemente, percebeu que faltava uma meta como motivação e então retomou o plano de 2020, de correr a meia-maratona do Rio.

Agora moradora da capital fluminense, Gabriela voltou à academia a fim de se preparar melhor para a corrida, em outubro. Ela busca os horários em que tem menos pessoas no ambiente e até se surpreendeu com o uso da máscara pelos frequentadores. Mas, segundo ela, “o álcool em gel parece que já morreu, ninguém usa”.

Outra diferença que a corredora viu foi a disponibilidade das esteiras, com aparelhos ligados intercalando com desligados. “Até que me sinto bem, mas não consigo demorar muito pra treinar. Antigamente eu ficava mais tempo, mas hoje é no máximo meia hora e já vou embora”, afirma.

As academias paulistas tiveram que fechar as portas por semanas no primeiro semestre de 2020 e em julho, quando reabriram, passaram a adotar restrições, como operar com apenas 30% da capacidade, limite de funcionamento de seis horas diárias e necessidade de agendamento prévio pelos clientes.

Também era necessário manter uma distância mínima de 2 metros de outros usuários e utilizar máscaras o tempo todo.

Mesmo com esses protocolos, o dono de casa Franz Hermann, 44, ainda não colocou os pés dentro de uma academia. Maratonista, chegou a ficar de março a agosto sem sair de casa, se exercitando apenas com elásticos. E, em setembro, passou a correr em horários com pouca movimentação, como às 5h.

O hiato na malhação, porém, pesou na retomada da corrida, que exige muito fortalecimento físico. “Meu corpo mudou bastante. Perdi um pouco de massa muscular e ganhei gordura. Sinto que não é o suficiente [o exercício em casa] para o tanto que corro.”

A ideia é voltar a malhar em academia em outubro, após ele e a esposa estarem completamente imunizados. Por enquanto, ele segue correndo por ruas desertas de Jundiaí e sempre acompanhado da máscara. “É bem ruim. Mas você se acostuma porque não tem outra opção”, desabafa.

Hoje em dia os estabelecimentos paulistas estão com mais liberdade de funcionamento, como anunciou o governador João Doria (PSDB) na quarta-feira (28). A partir de agosto, as academias podem ter atendimento presencial das 6h à 0h e funcionar com 80% da capacidade.

O setor sentiu bastante o abre e fecha dos estabelecimentos, já que o retorno dos alunos ocorreu de maneira diferente pelo país e muitas vezes dentro da própria cidade.

A Cia Athletica, por exemplo, aponta que o movimento dos frequentadores voltou quase ao período pré-pandemia em suas unidades de Manaus e Recife. Brasília e São Paulo, no entanto, são as que mais sofreram, com um público que não chega a 50% do que era antes da Covid.

De acordo com o presidente da rede, Richard Bilton, as unidades paulistanas de áreas nobres, como Berrini e Faria Lima, estão com 35%, 40% do público antigo. Em contrapartida, as regiões onde as pessoas vivem e fazem home office estão com academias mais cheias.

“Tinha duas alunas que não vinham à academia desde março do ano passado, mais de 15 meses sem pisar aqui. Quando ligamos para os alunos, é muito forte a ideia de ‘eu vou aguardar até tomar a segunda dose’”, afirma.

Cia Athletica adota protocolos de biossegurança durante a pandemia da Covid-19
Academia Cia Athletica adota protocolos de biossegurança durante a pandemia da Covid-19 - Divulgação

A pandemia fez a rede adiantar um projeto de reconhecimento facial na entrada, antes previsto para um ou dois anos, e colocá-lo em prática em três meses. Os totens de álcool em gel também foram modernizados, com uso de célula fotoelétrica, o que dispensa o manuseio.

Bilton também diz que o uso da máscara é fortemente cobrado de quem malha em suas academias. Quem primeiro chama a atenção para o equipamento é o professor. Se não surte efeito, é a vez do gestor. A terceira instância é o administrador e, por fim, o próprio presidente da rede. E ele afirma que não se intimida com ameaça de rompimento de plano por parte do aluno.

Os protocolos de biossegurança foram adotados pelas grandes redes no geral, como medição de temperatura na entrada do prédio e controle no número de frequentadores. A Selfit, por exemplo, fecha as áreas para fazer a limpeza, enquanto a SmartFit adotou tapetes de higienização.

E não são só as academias voltadas à musculação que sentiram o impacto da pandemia. Matheus Marchioli, 27, viu o local onde treina parkour, em São José (SC), esvaziar no início da crise sanitária.

Quando estava fechado, o estabelecimento chegou a fazer lives para as pessoas treinarem em casa. Mas agora já voltou firme, com turmas de dez pessoas, além de tapetes para limpar os pés.

O estudante também malha na academia do prédio e adota horários alternativos para fugir da aglomeração. “De manhã cedo sei que tem bastante gente. Eu acabo indo mais no fim de tarde ou à noite, quando não tem tantas pessoas.”

Homem usa máscara enquanto se exercita na academia - Ann Wang - 13.jul.2021/Reuters

Assim como muitos pensam em voltar só após a imunização completa, há aqueles que mantiveram o treino sempre que possível. Vinicius Brites, 28, só parou de ir à academia quando ela fechou as portas, no início da pandemia, e por um mês, entre fevereiro e março de 2021, por causa da piora dos números da Covid em Florianópolis.

O advogado diz ter se surpreendido com o cuidado dos frequentadores dentro da academia. “Todo mundo sempre de máscara, usando álcool em gel, limpando os equipamentos”, afirma. “O que eu senti é que as pessoas que estão fazendo exercício são aquelas que gostam muito e acabam se cuidando para que o lugar não feche.”

O avanço da vacinação e os exemplos de outros países deixam Bilton, presidente da Cia Athletica, otimista com o futuro do setor e esperançoso de um aumento no número de frequentadores. “A pandemia foi um terror, mas mostrou a importância de se manter fisicamente ativo.”

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