Descrição de chapéu Obituário Janaina Lima (1975 - 2021)

Mortes: Inspiradora, lutou pelos direitos da população LGBTQIA+

Janaina Lima foi a primeira travesti a assumir a presidência do Conselho Municipal de Atenção à Diversidade Sexual paulistano

  • Salvar artigos

    Recurso exclusivo para assinantes

    assine ou faça login

São Paulo

“Alguns resolvem sofrer para depois se assumirem. Eu resolvi me assumir logo, já que iria sofrer. Sou negra, forte, nordestina, brasileira e sou travesti”. A frase é de Janaina Lima, ativista e importante referência na luta pelos direitos da população LGBTQIA+.

Força e coragem ela tinha de sobra para levantar a bandeira da diversidade na luta contra a discriminação e a travestifobia.

“Por trás de uma guerreira, estava uma mulher companheira, humana, que se doava às pessoas. Janaina era inexplicável", afirma a gerente de loja, Maria Lucenilda de Lima Pontes, 48, sua irmã.

Natural de Araruna, na Paraíba, antes de se assumir publicamente, chamava-se Edson Rodrigues de Lima. Quando decidiu pela mudança, preparou a família. Começou pela mãe.

“Ela era delicada ao ponto de tomar cuidado para não machucar as pessoas. Aos 17 anos, Janaina saiu de casa e resolveu morar sozinha. Após três meses, ligou para a minha mãe e marcou um encontro. Na ocasião, descreveu a forma como iria vestida e disse a ela que o Edson não estaria ali, mas alguém transformada. O amor de mãe foi tão importante que a partir daquele dia minha irmã nunca mais deixou de ser Janaina ”, conta Maria Lucenilda.

Janaina Lima (1975-2021)
Janaina Lima (1975-2021) - Karime Xavier - 17.mar.2014/Folhapress

Ao lado da família, Janaina deixou a Paraíba aos dois anos de idade. Mudou-se para Salto (a 101 km de SP), onde permaneceu até os 12, e depois para Campinas (a 93 km de SP). Lá, começou a trabalhar como profissional do sexo. Formou-se em pedagogia e entrou para a militância nos anos 2000 ao integrar o grupo Identidade, no município.

A ativista trabalhou no Centro de Referência e Defesa da Diversidade Brunna Valin, coordenou o Programa Transcidadania, da Prefeitura de São Paulo, e atuou na coordenação de Políticas para LGBT e na Rede Trans Brasil.

O servidor público Felipe Oliva, 38, lembra da amiga como uma pessoa independente, mas muito presente. “Ativa nos grupos da sociedade civil, Janaina mantinha boa interlocução com o poder público. Dona de consciência crítica, exigia respeito e que a população LGBT fosse ouvida. Janaina era inspiradora”, diz.

Em 2012, ela foi eleita representante da população travesti no Conselho Municipal de Atenção à Diversidade Sexual paulistano. Durante seu mandato, exerceu a presidência —primeira vez que o conselho foi presidido por uma travesti.

“Nós éramos muito amigas. Ela me ensinou muito pessoalmente. Foi defensora árdua da identidade travesti, dos direitos e das conquistas”, diz Symmy Larrat, 43, presidente da ABGLT (Associação Brasileira de Lésbicas, Gays, Bissexuais, Travestis, Transexuais e Intersexos).

“Janaina foi uma das pioneiras na organização política das mulheres transexuais e travestis e abriu portas para militantes e ativistas que vieram depois. Ela é a simbologia de que travestis podem ocupar cargos políticos e têm algo de qualidade a apresentar para a sociedade”, completa Symmy.

Janaina morreu dia 3 de setembro, aos 45 anos, após sofrer um infarto. Deixa cinco irmãos.

coluna.obituario@grupofolha.com.br

Veja os anúncios de mortes

Veja os anúncios de missa

  • Salvar artigos

    Recurso exclusivo para assinantes

    assine ou faça login

Tópicos relacionados

Leia tudo sobre o tema e siga:

Comentários

Os comentários não representam a opinião do jornal; a responsabilidade é do autor da mensagem.