Reservatórios que abastecem a Grande SP têm nível inferior ao de 2013

Especialistas consideram que cenário é crítico; para Sabesp, situação é 'confortável no momento'

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São Paulo

Os reservatórios que abastecem a Grande São Paulo estão atualmente com níveis de armazenamento inferiores aos que tinham em 2013, um ano antes da pior crise hídrica do estado, que durou de 2014 a 2015.

Em alguns casos, a diferença do volume total armazenado supera 14 pontos percentuais, na comparação com o nível de com oito anos atrás.

Nesta quarta-feira (1º), por exemplo, o Sistema Cantareira, principal fornecedor da região metropolitana de São Paulo, tem 37% do volume operacional, com 363,07 hm³ de água. Em 2013, o nível era de 47,1% e 462,61 hm³ (um hectómetro cúbico equivale a 1 milhão de metros cúbicos).

Já o reservatório do Alto Tietê, outro sistema importante para a Grande São Paulo, apresenta 44,5% e 249,44 hm³, ante 58,5% e 304,70 hm³ em 2013.

Vista aérea da represa Jaguari
Represa Jaguari, em Piracaia, no interior de São Paulo, que faz parte do Sistema Cantareira - Bruno Santos- 27.ago.21/ Folhapress

A pior situação é a da represa de Rio Claro, que hoje tem apenas 43,8% da sua capacidade (5,98 hm³) —em 2013, ela operava com 98% e 13,39 hm³.

Em meio à crise de 2014 e 2015, São Paulo chegou a recorrer ao volume morto (reserva emergencial do fundo das represas) do Cantareira. Outras medidas também foram tomadas, como acelerar obras de interligação dos reservatórios, impor uma sobretaxa pelo consumo excessivo e conceder bônus para quem conseguia economizar água.

Para especialistas ouvidos pela Folha, o estado vive uma crise anunciada. “O risco é concreto, porque mesmo agora com a retomada das chuvas a partir da primavera, no final de setembro, todas as previsões apontam que os níveis de chuvas continuarão abaixo da média”, disse Roberto Braga, professor do Instituto de Geociência da Unesp de Rio Claro.

Segundo ele, a expectativa de recuperação dos reservatórios é bastante remota e esse alerta tem que ser acionado. “Nós temos uma chance muito grande de vermos repetida a crise de 2014, senão pior”, afirmou.

Para Silvia Regina Gobbo, professora de ecologia da Universidade Metodista de Piracicaba, se não tiver previsão e planejamento a longo prazo, São Paulo vai continuar trabalhando apenas para gerir crises, sem resolver o problema.

De acordo com ela, há outras formas de lidar com situações como essa além de obras, como aumentar a utilização da água de reuso e recuperar os mananciais. “São esses parques e reservas que estão pegando fogo que são as nossas caixas d’água. A água que esperamos que chova e de qualidade vem de nascentes que estão nesses locais”, disse.

Os especialistas afirmam também que, além do desmatamento, a crise climática global influencia na situação dos reservatórios. A previsão é de que nos próximos meses haja chuvas dentro do normal, mas o fenômeno conhecido como La Niña pode atrapalhar as expectativas, como revelado pela Folha.

Para Roberto Braga, medidas preventivas deveriam ter sido tomadas e, agora, só resta fazer economia de água. “Não está tão claro que essas chuvas ocorrerão dentro do nível normal. Dada a situação dos reservatórios, esse volume de chuva deveria ser bem acima da média para poder recompor. E essa recomposição é lenta”, explicou.

Já o diretor-presidente da Sabesp, Benedito Braga, afirmou que o estado vive uma situação "confortável no momento". "Em relação à crise hídrica [no período] anterior a 2014, hoje as pessoas consomem 12% a menos", disse.

Questionado sobre o que acontecerá se o próximo período chuvoso, a partir de dezembro, for mais seco que o normal, Braga evitou soar alarmista e disse que essa é uma "uma hipótese do apocalipse".

"Entendo a preocupação, mas não há nenhuma evidência. Não dá para fazer uma previsão de tão longo prazo", afirmou. "O que temos que fazer? Temos que pedir para a população, usar os meios de comunicação, para que as pessoas deem um degrauzinho a mais de colaboração economizando água. Por isso, a campanha de publicidade que estamos lançando nesta semana", completou.

Braga disse ainda que conta com a normalidade das chuvas de verão porque se baseia na série histórica. "Essas pessoas que falam que não se deve usar a série histórica não têm alternativa para você. Quando falarem isso, diga 'professor, o que eu faço, que número eu uso?' Por que para baixo?", questionou.

Ele disse ainda que a companhia tem implementado controle de pressão noturno como uma das formas de reduzir desperdício de água. Segundo Braga, são economizados 2.000 litros por segundo apenas com essa medida (equivalente a pouco menos de 10% de tudo que é produzido pelo Cantareira).

O diretor-presidente da Sabesp disse também que a companhia distribuirá caixas-d'água para a população carente como forma de evitar que ela sinta a redução de pressão.

Braga afirmou ainda que as obras realizadas nos últimos anos, interligando os sistemas, dão mais confiança para a empresa. Ele explicou, por exemplo, que na última crise mais de 9 milhões de pessoas dependiam exclusivamente do Cantareira e que hoje são apenas 7 milhões nesta situação.

Além disso, segundo o executivo, a companhia investiu R$ 6 bilhões para evitar as perdas de água na rede, que hoje são de 27% ( entre vazamentos e roubos).

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