Descrição de chapéu cracolândia

Ação de despejo na cracolândia deixa 30 pessoas desabrigadas

Hotéis e imóveis foram emparedados por agentes da prefeitura, que alegou perigo de desabamento; Defensoria Pública vê arbitrariedade

  • Salvar artigos

    Recurso exclusivo para assinantes

    assine ou faça login

São Paulo

O autônomo Erivaldo Ribeiro, 55, saiu de sua casa —um quarto de hotel na cracolândia, no centro de São Paulo— às 5h desta quinta-feira (21) para fazer um bico como camelô na avenida Paulista. Horas depois ele ouviu pelo rádio que uma ação da prefeitura estava desocupando e lacrando imóveis na região.

"Voltei correndo, mas não deu tempo de pegar nada, estou com a roupa do corpo", afirmou. Móveis, roupas e documentos do autônomo estão, agora, inacessíveis por uma parede de tijolos cimentada por agentes municipais na entrada do hotel onde ele morava.

A ação foi uma inciativa da Secretaria de Subprefeituras cumprir a reintegração de posse de oito imóveis na alameda Dino Bueno e na rua Helvétia. Com isso, pelo menos 30 pessoas estão desabrigadas.

Família de cinco pessoas em frente a porta emparedada com móveis na calçada
Família de Josimar e Fabiana da Cruz Moraes teve que tirar seus pertences de casa às pressas após ação de despejo da prefeitura na região da cracolândia - Mariana Zylberkan/Folhapress

"Acham que só tem nóia aqui na cracolândia, mas tem pessoas como eu que só consegue pagar um quarto de hotel para morar", disse o autônomo, usando um termo popular para se referir aos dependentes químicos que vivem na região.

A poucos metros do hotel, onde Fabiano pagava R$ 20 por noite, estava na mesma situação a família de Josimar da Cruz Moraes. Ele, a mulher e os quatro filhos estavam em casa quando os agentes da GCM (Guarda Civil Metropolitana) bateram na porta ordenando a desocupação —eles conseguiram ao menos tirar seus pertences do imóvel.

Com isso, a família ficou a tarde toda na calçada com móveis, geladeira, roupas e outros objetos pessoais empilhados. "Não temos para onde ir, meus filhos não comeram nada o dia todo e faltaram na escola", disse.

A família morava na zona sul e vivia da venda de garrafas d'água no semáforo, mas com a pandemia e a crise econômica, se mudou para o cômodo na região da cracolândia, onde pagava R$ 300 por mês de aluguel.

Antes, os seis chegaram a viver em um quarto de uma ocupação na avenida São João, também no centro, onde só cabia uma geladeira e um beliche, segundo Moraes. "Todos nós dormíamos em duas camas."

De acordo com a Polícia Civil, que deflagrou a ação em parceria com a Iope (Equipe da Inspetoria de Operações Especiais) da GCM, os imóveis interditados ofereciam risco aos ocupantes, segundo inspeção recente feita pela Defesa Civil.

Além disso, uma decisão judicial determinou a desocupação de parte dos imóveis da cracolândia para a construção de um projeto de habitação popular.

Entre os imóveis emparedados nesta quinta estavam bares e hotéis apontados pela Polícia Civil como pontos de uso e venda de drogas. Um deles, na rua Helvétia, cobrava R$ 5 por hora e era frequentado por usuários de crack.

Para a defensora pública Fernanda Penteado Balera, a prefeitura agiu com arbitrariedade porque não foi apresentado aos moradores um mandado judicial ou qualquer outra decisão administrativa que embasasse a ação.

"A operação foi feita sem avisar os moradores, nem a Secretaria de Assistência Social estava presente para ajudar quem não tem para onde ir. Nem o programa Redenção foi avisado", disse a defensora sobre o projeto municipal de combate às drogas na cracolândia.

A defensora ressalta que não houve nenhuma situação de urgência que justificasse a ação. "Esses imóveis estão degradados há muito tempo", completou.

Na notificação enviada para a prefeitura, a Defensoria ressaltou a vigência da lei federal que impede despejos durante a pandemia.

Em nota, a gestão do prefeito Ricardo Nunes (MDB) afirmou que a ação nos imóveis foi feita devido à falta de segurança dos imóveis e que "está realizando fiscalizações em estabelecimentos comerciais irregulares na região da rua Helvétia".

  • Salvar artigos

    Recurso exclusivo para assinantes

    assine ou faça login

Tópicos relacionados

Leia tudo sobre o tema e siga:

Comentários

Os comentários não representam a opinião do jornal; a responsabilidade é do autor da mensagem.