Com seca extrema, água retirada do Cantareira é quase o triplo do que entra no sistema

Reservatório está prestes a atingir a faixa de restrição dois meses antes do previsto; nível já é o menor em 5 anos

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São Paulo

A seca extrema registrada na região metropolitana de São Paulo fez com que a água retirada do Cantareira pela Sabesp nos últimos meses representasse quase o triplo do volume que entra no sistema. O nível do reservatório já é o menor em pelo menos cinco anos.

De julho a setembro, segundo dados fornecidos pela empresa, a relação é de 22,7 m³ por segundo de água retirada a cada 8,5 m³ por segundo de água que entra no reservatório.

​Nos mesmos meses de 2013, período que antecedeu a crise hídrica na região metropolitana de São Paulo, a média de produção de água no Cantareira era de 15,5 m³ por segundo, quase o dobro da atual.

Nesse ritmo, o Cantareira, que abastece 7 milhões de pessoas por dia, está prestes a atingir a chamada faixa de restrição dois meses antes do previsto.

Foto aérea de represa que faz parte do sistema Cantareira
Represa Jaguari, em Piracaia, no interior de São Paulo, que faz parte do Sistema Cantareira - Bruno Santos/ Folhapress

Segundo contrato de outorga da Sabesp (Companhia de Saneamento Básico do Estado de São Paulo), quando o sistema entra na faixa de restrição –isto é, quando o volume de armazenamento chega a 30%–, a empresa é obrigada a reduzir a captação de água para evitar o desabastecimento.

Pelas previsões do Cemaden (Centro Nacional de Monitoramento e Alertas de Desastres Naturais), o patamar de 30% da capacidade do Cantareira seria atingido somente no fim do ano.

Nesta quinta-feira (30), porém, o reservatório já bateu 30,3% de sua capacidade, o menor volume de água armazenada desde o início de março de 2016, quando o nível do sistema estava em 30,2%.

De acordo com o presidente da Sabesp, Benedito Braga, a alta captação em comparação com a baixa produção de água é normal para o período de estiagem e não representa problemas.

"A lógica de funcionamento do reservatório é exatamente armazenar em tempos chuvosos para ter água nos tempos secos", diz.

Braga admite que a seca atual é extrema. De acordo com ele, a média de água que entrou no Cantareira em setembro deste ano está 32% abaixo da média histórica, mas não há iminência de uma crise hídrica.

"Não há perspectiva de crise hídrica até o final da primavera e início do verão. Está prevista uma semana chuvosa a partir de domingo", diz. "A situação é avaliada pela Sabesp semana a semana. "

​Segundo Pedro Cortês, professor de pós-graduação em ciência ambiental do Instituto de Energia e Ambiente da USP, a relação atual entre a quantidade de água retirada e produzida é preocupante. "Conforme os prognósticos climáticos alertaram, a crise hídrica está avançando em São Paulo", diz.

"Hoje, temos cerca de 21% menos água armazenada do que na mesma época em 2013, ano que antecedeu a crise hídrica", afirma Cortês.

O especialista alerta que os sistemas Cantareira e Alto Tietê, que abastecem grande parte da região metropolitana de São Paulo, serão ainda mais afetados até o verão, período em que está prevista estiagem.

A Sabesp tem captado água abaixo do volume permitido desde o começo deste ano como uma forma "de ter maior segurança", segundo o presidente da companhia.

Ao atingir 30% da capacidade do reservatório, a regra é reduzir a vazão de 27 m³ por segundo para 23 m³ por segundo, mas a empresa admite que tem retirado água em ritmo mais lento antes mesmo do marco definido pela outorga.

Em nota, a Sabesp afirmou que "a retirada atual tem sido de 23 m³/s, inferior ao limite máximo, o que é possível graças à integração com os demais sistemas".

A redução na captação de água afeta diretamente o abastecimento de algumas regiões da cidade. Há alguns meses têm sido recorrentes as reclamações de falta de água, principalmente à noite e durante a madrugada, quando habitualmente a Sabesp reduz a pressão nos canos.

Há cerca de duas semanas, a Sabesp aumentou o tempo de redução da pressão nos canos, estratégia adotada para evitar vazamentos durante a madrugada quando a demanda do sistema é menor.

A redução que antes ocorria a partir das 23h diariamente passou a ocorrer das 21h em diante. "É uma medida de precaução e não está ligada à crise hídrica", diz o presidente da Sabesp.

Para José Faggian, presidente do Sintaema (Sindicato dos Trabalhadores em Água, Esgoto e Meio Ambiente do Estado de São Paulo), o fato de a Sabesp não assumir o cenário de crise hídrica, apesar de tomar medidas de contenção, pode refletir uma preocupação com os investidores.

"A Sabesp é uma empresa que tem ações na Bolsa e, por isso, muito sensível a notícias negativas", diz.

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