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Concessionária quer formalizar ambulantes do Ibirapuera, mas trabalhadores temem perda de renda

Regularização será feita por meio de franquias, que exigirá repasse de 7% sobre as vendas

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São Paulo

A Urbia, empresa responsável pela gestão do Parque do Ibirapuera, quer formalizar os vendedores autônomos que trabalham no local. Os ambulantes, porém, temem perder renda quando concluída a regularização.

Essa é uma das formas que a empresa encontrou para cumprir o que está determinado no contrato de concessão do parque, que determina o "cadastro, regularização e integração" dos ambulantes, 169 à época.

A proposta da concessionária é transformar os carrinhos de coco e bebidas em uma franquia de impacto social, onde os trabalhadores terão que fazer um repasse mensal de 7% do valor bruto das vendas.

Dois guarda-sol ao centro, embaixo deles um carrinho banco, atrás do carrinho uma mulher parada com blusa verde, sendo a vendedora, e na frente do carrinho outra andando com blusa branca e calça cinza. Ao lado do carrinho um cacho de cocos, pacotes de salgadinhos e um saco de lixo. Ao fundo a vista do parque, que consiste em grama e árvores
Retrato da ambulante Antonia Cileide Oliveira de Souza, 47, que tem seu carrinho de bebidas no Parque do Ibirapuera há pelo menos duas décadas - Marcelo Justo - 3.ago.2012/Folhapress

Atualmente a organização dos vendedores é feita por meio de duas cooperativas que não recebem porcentagem sobre o faturamento.

O diretor da Urbia, Samuel Lloyd, afirma que antes de tomar a decisão, a empresa realizou pesquisas durante um ano. O objetivo, diz ele, é conseguir associar melhor a experiência dos visitantes a produtos de boa rentabilidade para os vendedores.

O diretor afirma ainda que existe demanda por alimentos e bebidas de mais qualidade no parque. ''Nós estudamos diversos modelos [de negócio] possíveis em que a gente privilegiasse a história dessas pessoas, a formalização do trabalho dessas pessoas e a experiência do usuário do Ibirapuera", afirma.

A empresa oferecerá aos franqueados a substituição dos carrinhos por modelos novos; modernização dos equipamentos; cursos e capacitações; e a administração dos resíduos recicláveis e orgânicos, que hoje é cobrada dos ambulantes.

A Urbia encara a mudança como uma oportunidade de negociação dos ambulantes com grandes empresas e parceiros. Mas para conseguir receita, a concessionária tem fechado patrocínios que já obrigam os trabalhadores a vender só produtos da Ambev, por exemplo.

A Folha foi até o parque conversar com os vendedores para entender os benefícios e prejuízos do modelo oferecido pela concessionária. Por medo de retaliação, os trabalhadores não aceitaram dar entrevistas, mas compartilharam como se sentem diante da proposta. O principal receio é pela diminuição da renda e pela perda do ponto caso não aceitem fazer parte da franquia.

Os vendedores serão obrigados a se tornar um MEI (microempreendedor individual) e assinar a carteira de trabalho de seus funcionários, normalmente filhos ou cônjuges, o que pode aumentar os custos de operação.

Os seus horários também deixarão de ser flexíveis, o que significa que terão que ter equipe para cobrir todo o horário de funcionamento dos seus carrinhos –a ser definido pela franquia– e ir todos os dias, mesmo em dias chuvosos e sem movimento, quando consideram que as vendas não superam os custos.

Há também uma grande preocupação em relação aos trabalhadores idosos. Muitos deles trabalham apenas aos finais de semana, como complemento da aposentadoria, e temem ser deixados de lado pelo novo modelo.

Os vendedores dizem ainda que estão sem opção e que precisam aceitar a proposta para se manter no parque, pois a empresa é a única autorizada a explorá-lo comercialmente. Muitos afirmam que não tem informações suficientes sobre como será o negócio, uma vez que a comunicação é feita por meio das diretorias das cooperativas.

Por outro lado, vêem como positiva a modernização dos carrinhos e equipamentos, que vai permitir que os vendedores não tenham que se deslocar com materiais de trabalho de suas casas –muitas vezes na periferia da cidade ou na Grande São Paulo– até o Ibirapuera.

A renovação também vai ajudar a manter os cocos, principais fontes de renda, gelados. É um desafio para os vendedores conseguir mantê-los em uma temperatura agradável. A saída, na maioria das vezes, é vender sua água engarrafada.

Em resposta aos questionamento dos vendedores, a Urbia afirma que o modelo de negócio eliminará despesas que permitirá que os trabalhadores se dediquem mais às vendas, como o descarte dos cocos, que, segundo a empresa, representava cerca de 10% do seu custo. Além disso, o valor repassado será revertido em investimentos, manutenção e melhorias das condições logísticas.

Sobre a falta de flexibilidade, a concessionária afirma que está fazendo um mapeamento que cruze as necessidades dos usuários com os desejos dos ambulantes, mas que será necessário cumprir os horários acordados em contrato. Os novos carrinhos não serão doados, mas emprestados gratuitamente.

Lloyd afirma que a expectativa é que o processo de formalização seja gradual, com término no final de 2022. "Não é um trabalho rápido de ser feito, é um trabalho que consome tempo, consome muita conversa, para que essas pessoas sejam de fato integradas de forma autônoma", declara o diretor.

Exploração comercial do parque

A Urbia também tem planos de cobrar uma tarifa das empresas, treinadores e assessorias esportivas que promovem atividades físicas no local.

Ainda não há um modelo de cobrança definido, mas é provável que as empresas esportivas passem a preencher uma autodeclaração indicando o número de alunos, o valor cobrado e, sobre esta quantia, faça um repasse entre 3% e 5% à concessionária. A expectativa é que as cobranças comecem no início de 2022.

"Mas esse modelo está em discussão, nós não temos nenhum modelo estabelecido. Nós chegamos a conclusão que temos que ter modelos híbridos, pois para algumas [empresas] pode fazer sentido pagar por alunos, outras pagar por espaço", diz Lloyd.

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