Ácido e corrosivo. Com a simplicidade que lhe era peculiar, Gilberto Antônio Ferreira, ou Gilberto de Esu —como grafado na língua iorubá —se intitulava desta forma. Isso porque era uma pessoa muito espontânea e direta quando discordava de algo.
“Com o Gilberto não tinha meio termo e ele não se preocupava com isso, mas era muito companheiro e sempre pronto para ajudar. Tinha sempre uma palavra para quem precisasse. Atendia qualquer pessoa, não importava o horário”, diz Oyá Folape Jiku, 57, sua esposa.
Curioso, também gostava de cozinhar e de todo tipo de literatura. Dizia: “se é boa, eu elogio e leio; se ruim, leio e critico.”
Gilberto nasceu em Santos (a 72 km de SP), foi criado no Recife e, aos 12 anos, mudou-se para o Rio de Janeiro. Depois, escolheu viver na capital paulista e em Guarulhos (na Grande São Paulo).
Com cerca de 12 anos, um amigo o convidou para uma festa de candomblé e, assim, se apaixonou pela religião.
Gilberto de Esu casou-se alguns anos depois e fundou o primeiro terreiro, na Casa Verde (zona norte da capital paulista), onde morava.
Após a separação, teve outra companheira e fundou mais um terreiro, em Guarulhos, onde vivia atualmente. Durante a pandemia, em 20 de dezembro de 2020, o casal decidiu formalizar a união de 12 anos.
Há 39 anos, Gilberto fundou o Afoxé Filhos da Coroa de Dadá, que participava da abertura do Carnaval de São Paulo. “Ele queria um grupo de cortejo de Carnaval onde homens e mulheres desfilassem com roupas coloridas”, explica a esposa.
Para o sociólogo, escritor e professor emérito da USP, Reginaldo Prandi, Gilberto foi um grande amigo e informante das suas pesquisas sobre o candomblé.
“Ele conhecia todo mundo do candomblé. Passou a vida inteira trabalhando com o candomblé. Dava aula de iorubá, cursos de mitologia e promovia excursões à Africa para visita aos templos de orixás existentes em diversas cidades da Nigéria. Tinha uma memória tão boa que era capaz de reconstruir a história do candomblé”, afirma Reginaldo.
Gilberto de Esu morreu dia 19 de outubro, aos 73 anos, por complicações da Covid-19 e de outras enfermidades.
Deixa a esposa, dois filhos e quatro netos. “Ele me ensinou a ser mais maleável e acolhedora com as pessoas, além da paixão pelos orixás. Meu amor por ele nunca vai morrer”, disse a mulher.
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