Quem vê fotos do mais importante esteta ótico do país, Miguel Giannini, ao lado de políticos e celebridades não imagina que por trás das imagens existiu a figura de uma pessoa simples e humanitária.
Os sonhos do paulistano, descendente de imigrantes italianos da região de Vêneto, custaram a entrega da sua juventude ao trabalho logo que completou 13 anos. O primeiro emprego foi como office boy da antiga Foto City, ótica famosa do centro da capital paulista.
Aos 23 anos, Miguel abriu sua primeira loja, a Ótica Fiore & Miguel, em parceria com o amigo e mestre na montagem de óculos, Fioravante Fernandes.
Aos 39 anos, convidou outro amigo, Alvaro Ferriolli, hoje com 64 anos, para ser seu sócio.
Miguel criou um estilo que atraiu de presidentes da República a astros da música e da televisão. Com habilidade criativa, olhar diferenciado e técnica, ele conseguia deixar uma armação mais adequada ao rosto do cliente.
A fama de inovador se espalhou após a apresentadora Cleyde Blota atribuir a Miguel o título de "esteta ótico", por transformar uma peça durante um programa de TV ao vivo.
"Miguel era exigente no trabalho e um ser humano de grandes virtudes. O que nos fez durar esses 40 anos foi essa relação de humanidade, também com os clientes. Aqueles que não tinham condições financeiras, ele deixava pagar conforme a possibilidade", conta Alvaro, que também era seu companheiro de vida.
De jeito simples, Miguel não fazia distinção entre as personalidades e os demais clientes. Atendia todos da mesma forma: educada, gentil, elegante e sempre com um sorriso fácil.
"Das muitas histórias marcantes tem a de uma senhora muito humilde que, durante 35 anos, levou doce de abóbora feito por ela todos os anos para o Miguel. Essa senhora fez isso até há dois anos e a data coincidia com o aniversário dele, em setembro", relata Alvaro.
"Na questão humanitária, Miguel fez mais do que a capacidade dele de ser", destaca também.
Foram muitos os projetos sociais de que participou com doação de óculos, como o Bandeira Científica, da USP, por exemplo.
Em 2021, Miguel foi um dos seis indicados pela International Opticians' Association para concorrer ao prêmio Ótico Internacional do ano.
"Isso sintetiza o que Miguel representou e continuará representando para a ótica brasileira. Construímos uma respeitabilidade junto ao segmento oftalmológico", comenta Alvaro.
Além das lojas, em 1996, Miguel Giannini fundou o Museu dos Óculos Gioconda Giannini, nome de sua mãe, sediado em um casarão da década de 1920, no bairro do Bexiga (região central).
O local guarda uma coleção de cerca de 700 exemplares de óculos, do Brasil e de outros países, produzidos entre os séculos 17 e 20, além de réplicas de peças mais antigas.
Miguel morreu no dia 28 de outubro, aos 79 anos, de insuficiência respiratória aguda. Deixa o companheiro, dois irmãos e sobrinhos.
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