Cidade paulista se mobiliza para velar bombeiros mortos em desabamento de gruta

Profissionais eram conhecidos por todos em Batatais (SP); funerária doou caixões, e prefeitura cedeu sepulturas

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Batatais

O velório de seis das nove vítimas do soterramento ocorrido na gruta Duas Bocas, em Altinópolis (SP), começou por volta das 8h30 no ginásio Marinheirão, em Batatais (SP), onde elas viviam.

Os bombeiros civis que morreram durante treinamento eram conhecidos de toda a cidade e a despedida foi marcada pela tentativa de consolo mútuo entre familiares, amigos e companheiros de profissão.

O bombeiro civil Adriano Francisco Gabriel, 31 anos, chegou cedo ao velório e, com os olhos marejados, contou da dor de ter sido dos primeiros a receber a notícia da tragédia.

O avisou chegou por meio de um morador de Altinópolis, enquanto trabalhava em um evento na cidade no sábado. "Ele me perguntou ‘você conhece esses bombeiros?’. E me passou as informações que tinha recebido por WhatsApp. Não parecia real, mas uma brincadeira. Era toda a minha equipe. Todos meus irmãos de farda, meu comandante, em quem me inspirei. Hoje estou aqui por ele", conta.

Gabriel relata que à 1h50 de domingo já estava no local do soterramento, participando da tentativa de resgate ao lado de outros colegas. "Tinha pessoa na prancha, outros com pé e pernas machucados", afirma, a respeito do grupo como um todo e não apenas aqueles que estavam dentro da gruta.

A tragédia levou a Batatais bombeiros civis de outras partes do estado, comovidos com o que aconnteceu. "Antes de ser comandante, eu era amigo deles. Conhecia a todos. Dei aula para todos. Tenho eles como meus filhos", disse Bolívar Fundão Filho, presidente da Busf (Bombeiros Unidos Sem Fronteiras), entidade a qual eles eram ligados.

Foram velados em Batatais Celso Galina Júnior, José Candido Messias da Silva, Elaine Cristina de Carvalho, Rodrigo Triffoni Calegari, Jonatas Ítalo Lopes e Jenifer Caroline da Silva.

Também ligadas a Batatais, outras três vítimas foram veladas nas cidades onde têm familiares. São elas Natan de Souza Martins, de Altinópolis, Ana Carla Costa Rodrigues de Barros, de Sales de Oliveira, e Débora Silva Ferreira, de Monte Santo de Minas.

Em Batatais, os caixões foram doados pela funerária local. A prefeitura também cedeu as sepulturas para aqueles que não tinham jazigos familiares, segundo a assistência social do município. Por volta das 11h, a quadra do ginásio estava completamente tomada pela população. Enfileirados, os caixões fechados tinham sobre si a bandeira da cidade.

Distante cerca de 2 km do ginásio onde foi realizado o velório, o cemitério também recebeu uma pequena multidão de parentes, amigos e admiradores dos bombeiros civis. Os enterros se encerraram por volta das 17h.

Tio de Celso Gallina Junior, Olair de Jesus Gallina acompanhou o enterro ao lado do pai da vítima. "Ele fazia isso de coração, com muito amor. Dizia ‘eu faço isso porque é minha vida, porque ajuda a salvar e ajudar as pessoas’. É onde se sentia bem", contou.

Segundo o tio, Gallina não manifestava vontade de ser bombeiro quando criança, mas isso veio já na idade adulta de maneira irreversível. "Viu o trabalho e começou a se interessar", disse.

O bombeiro civil deixou uma filhinha que acabou de completar um ano de idade. "Deixou a semente dele plantada. É a nossa esperança, o nosso conforto. Estava sendo um exemplo de pai", afirmou.

Órfãos também ficaram os filhos de Elaine Cristina de Carvalho, 52, que era casada com José Candido Messias da Silva, 53. Trata-se de um rapaz de 25 anos, com necessidades especiais, e uma adolescente de 15. No primeiro momento, os bombeiros civis deram suporte aos dois, que agora seguirão sob a responsabilidade de um irmão de Elaine.


MORTOS NA TRAGÉDIA

Celso Galina Junior, 30

José Candido Messias da Silva, 53

Jonatas Ítalo Lopes, 28

Rodrigo Triffoni Calegari, 33

Ana Carla Costa Rodrigues de Barros, 28

Elaine Cristina de Carvalho, 52

Jennifer Caroline da Silva, 25

Natan de Souza Martins, 18

Debora Silva Ferreira (idade não informada)

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