Descrição de chapéu Obituário Zygfryd Thalenberg (1928 - 2021)

Mortes: Administrador e piadista talentoso, brindou à vida até o fim

Zygfryd acreditava que a vida valia a pena se pudesse ser usufruída

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São Paulo

Mesmo sem ter tido a oportunidade de cursar uma universidade, Zygfryd não passou pela vida sem mostrar seus talentos.

Curioso, autodidata e administrador nato, nas empresas em que trabalhou era sempre o homem de confiança que dominava as normas e os procedimentos.

Ele nasceu na Alemanha, dentro de uma família judaica tradicional. Com a ascensão dos nazistas ao poder em 1933, mudou-se com os pais e três irmãos para a Bélgica e, dois anos depois, a família chegou a São Paulo.

Zygfryd Thalenberg (1928-2021) e a esposa Cilka
Zygfryd Thalenberg (1928-2021) e a esposa Cilka - Arquivo pessoal

Como os pais eram poloneses, seu registro no consulado mudou a grafia original de Siegfried para Zygfryd —e ele virou Ziggy para os íntimos.

No Bom Retiro (região central de São Paulo), onde morava, conheceu Cilka, filha de imigrantes poloneses e dez anos mais nova. Do casamento de 62 anos, nasceram três filhos. Com o tempo, a família se mudou para Higienópolis (centro).

Além do amor e carinho, Ziggy passou aos filhos o gosto pelo trabalho e estudo. Os três se formaram em universidades públicas, em medicina, administração e engenharia.

"Ele era uma pessoa correta, organizada e de muito bom humor. Piadista inveterado, que contava piadas em iídiche, um dialeto judaico baseado no alemão. Mesmo quem já conhecia as piadas, ria do seu jeito", diz o médico clínico José Marcos Thalenberg, 61, um dos filhos.

Ziggy realizou todos os seus sonhos e jamais deixou de aproveitar a vida. Em plena pandemia de Covid-19 comprou um carro novo e levou algumas vezes a esposa para passear. "Muito unidos, sempre brindavam à vida, até o final", afirma José.

Há três décadas, Ziggy fez tratamento contra um linfoma e livrou-se do cigarro. A doença voltou mais agressiva. Em fevereiro de 2020, quando percebeu que não haveria melhora, redigiu uma carta aos médicos e revelou o desejo de não ter sua vida esticada artificialmente.

"...A morte não me assusta, mas só aquela que o brasileiro descreve como ‘foi dormir e acordou morto’, ou na fala de Hamlet, ‘to die, to sleep’...", escreveu.

"...Enquanto tiver qualidade de vida, liberdade de locomoção, lucidez etc, vale a pena, caso contrário PAREM O MUNDO QUE EU QUERO DESCER!", diz outro trecho da carta.

Zygfryd Thalenberg morreu dia 21 de outubro, aos 93 anos. Partiu em casa, da forma que escolheu. Deixa a esposa, três filhos, sete netos, muitos amigos e várias lições de vida.

coluna.obituario@grupofolha.com.br

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