Polícia Federal pede prisão de padre Robson, celebridade de Goiás

Superior Tribunal de Justiça ainda precisa analisar pedido; defesa diz que não há motivo para prisão

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Rio de Janeiro

A Polícia Federal pediu a prisão de Robson de Oliveira, padre celebridade de Goiás denunciado por suspeita de desvio de doações de fiéis à Afipe (Associação Filhos do Pai Eterno), fundada por ele. O Superior Tribunal de Justiça (STJ) ainda precisa analisar o pedido.

A defesa do religioso alega que os fatos usados pela PF são antigos e que não há motivo para a prisão. "A defesa compreende que a representação padece da falta de consistência jurídica, pois os fatos invocados são antigos e já foram inclusive divulgados pela mídia", afirmou a defesa ao UOL.

"Por ora, a defesa expressa sua confiança no Poder Judiciário. Não estamos nem sequer preparando o habeas corpus preventivo —entraremos com habeas corpus caso sejamos surpreendidos com o deferimento", completou. A Folha não conseguiu contato com o advogado Cleber Lopes, que representa o padre, neste sábado (20).

Padre Robson de Oliveira, que teve a prisão decretada pela Polícia Federal - Reprodução/Facebook @padrerobsonoliveira

A justificativa do pedido de prisão foi um áudio anexado ao processo com indícios de que Robson supostamente pagou suborno a desembargadores do Tribunal de Justiça de Goiás para obter sentenças favoráveis. Esse áudio foi divulgado em fevereiro pelo programa Fantástico, da TV Globo.

Depois disso, toda a investigação foi encaminhada ao Superior Tribunal de Justiça. Na época, a presidência do TJ-GO afirmou que não se podia presumir a ocorrência de irregularidades no julgamento de processos a partir da conversa mantida entre advogado e cliente.

Há também indícios de que o padre contava com a ajuda de autoridades da Polícia Civil de Trindade. A delegada Renata Vieira da Silva, titular no município, foi afastada das funções em fevereiro por suspeita de favorecimento ao religioso. Ela negou as acusações.

Essas gravações, encontradas em equipamentos eletrônicos do próprio padre, apontaram ainda o religioso supostamente tramando a morte de um membro da Afipe, Anderson Fernandes, suspeito de envolvimento em esquemas de suborno.

"Se você pudesse matar ele para mim, eu achava uma bênção. Acaba com esse cara, bicho. Isso aí só vai atrapalhar nossa vida. Para mim, até hoje, foi um atraso", disse ele em conversa com um advogado. Ele alegou que foi alvo de montagens e adulterações de mensagens.

A investigação contra o padre Robson de Oliveira começou em 2019, quando um grupo foi condenado por ter praticado extorsão contra o sacerdote. Na ocasião, o religioso pagou R$ 2 milhões a cinco pessoas que hackearam seu computador e seu celular e ameaçaram divulgar imagens e mensagens pessoais suas.

A partir daí, o Gaeco (Grupo de Atuação Especial de Combate ao Crime Organizado) passou a apurar a origem de parte do dinheiro que o padre usou para pagar os criminosos e descobriu "uma grande teia de movimentações financeiras", segundo disse à época o promotor Sebastião Marcos Martins.

Ele foi investigado pelos crimes de organização criminosa, lavagem de capitais e apropriação indébita. Em agosto de 2020, o grupo deflagrou a operação Vendilhões, cumprindo 16 mandados de busca e apreensão na sede das entidades, em empresas e em residências em Goiânia e em Trindade.

O município, a 23 km da capital, abriga a Basílica do Divino Pai Eterno, que atrai milhares de fiéis e tinha o padre Robson como reitor. Ele está afastado das funções desde então. As obras de uma outra sede com capacidade para 6.000 fiéis que seria construída com dinheiro das doações estão paradas desde 2012.

O caso teve uma série de idas e vindas na Justiça. Em outubro de 2020, o TJ-GO decidiu interromper a investigação criminal. Dois meses depois, a Justiça autorizou a retomada. Em seguida, o Ministério Público denunciou o religioso e outras 17 pessoas.

Depois, o processo subiu ao STJ, que ratificou a paralisação do processo novamente, em maio. O Ministério Público então recorreu da decisão, que ainda está em aberto.

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