Descrição de chapéu Rio de Janeiro Folhajus

Polícia identifica 7 dos 8 corpos achados em São Gonçalo (RJ) após operação policial

PM diz que abriu inquérito para investigar as circunstâncias da operação

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Rio de Janeiro

A Polícia Civil do Rio de Janeiro disse que identificou 7 das 8 pessoas encontradas mortas no Complexo do Salgueiro, na região metropolitana do Rio, após uma operação da PM (Polícia Militar) no fim de semana. Segundo a corporação, duas delas não tinham passagens pela polícia. Os nomes não foram divulgados.

De acordo com a polícia, um dos mortos que não possui anotações criminais também estava com roupa camuflada semelhante à do restante do grupo. Os corpos foram encaminhados ao IML (Instituto Médico-Legal).

As investigações das mortes estão em andamento pela DHNSG (Delegacia de Homicídios de Niterói, São Gonçalo e Itaboraí). Em nota, a PM disse que também instaurou um inquérito para investigar as circunstâncias da operação.

Os corpos das vítimas foram retirados de um manguezal por moradores na manhã desta segunda-feira (22). Segundo relatos, eles apresentavam sinais de tortura.

Policial próximo a corpos encontrados por moradores em área de mangue no Complexo do Salgueiro, em São Gonçalo, no Rio de Janeiro
Policial próximo a corpos encontrados por moradores em área de mangue no Complexo do Salgueiro, em São Gonçalo, no Rio de Janeiro - Ricardo Moraes/Reuters

O clima na favela tornou-se tenso no sábado (20), quando o policial militar Leandro da Silva foi morto a tiros durante um patrulhamento. A corporação diz que no dia seguinte o Bope (Batalhão de Operações Especiais da PM do Rio) efetuou uma operação na comunidade após receber informações de que uma das pessoas que atacaram o agente estaria ferida na região.

No Twitter, a PM afirmou que as ações "foram desencadeadas após o início de ataques inconsequentes cometidos por criminosos, utilizando armas de guerra, que vitimaram fatalmente o SGT Leandro no momento em que o militar assumia o serviço".

A corporação disse, ainda, que equipes do Bope foram deslocadas para a região para "estabilizar o terreno e cessar os confrontos", mas que também foram atacadas "por armamentos de grosso calibre" em área de mangue da comunidade.

Em seu perfil no Twitter, a FAFERJ (Federação das Associações de Favelas do Rio de Janeiro) afirma que já seriam 14 pessoas mortas, três delas meninas. "A prática da Polícia Militar no Complexo do Salgueiro em São Gonçalo foi a mesma dos traficantes que mataram o sargento. Executaram 14 pessoas, inclusive três meninas. Alguns, sem passagem. Isso é uma operação bem sucedida? Existe constituição nas favelas do Rio", questionaram, marcando o perfil do Supremo no Twitter.

Vice-presidente da Comissão de Direitos Humanos da OAB-Rio, Nadine Borges está acompanhando o caso e diz que foram encontrados 11 corpos, dos quais nove estão no IML. A Polícia Civil ainda não confirmou esse número.

A Rede de Observatórios da Segurança já registrou neste ano 27 chacinas policiais no Rio de Janeiro, com 128 mortes.

Em junho do ano passado, o ministro Edson Fachin, STF (Supremo Tribunal Federal), proibiu operações em favelas do Rio de Janeiro enquanto durasse a pandemia —em agosto, a maioria da corte manteve a decisão. Em casos excepcionais, caso a polícia precise fazer operações, é necessário avisar ao Ministério Público com antecedência.

Segundo o Ministério Público do Rio, a polícia avisou que faria a operação no Complexo do Salgueiro. Em nota, porém, a Defensoria Pública afirmou que a corporação descumpriu a decisão do STF. Isso porque moradores relataram que a ação teve início no sábado pela manhã, logo após a morte do sargento, diferentemente do que disse a PM em nota. A comunicação ao Ministério Público só foi feita à tarde. "Segundo a liminar, a operação precisa ser justificada imediatamente ao MP", diz o texto.

A Defensoria também aponta preocupação por "não ter havido comunicação imediata por parte da Polícia Militar à Polícia Civil e ao Ministério Público da existência de corpos na comunidade". "Além disso, não houve acautelamento do local, fundamental para a realização da perícia."

Em nota, o Ministério Público do Rio de Janeiro informou que instaurou um Procedimento Investigatório Criminal próprio para investigar a operação. Um perito também foi designado ao IML para acompanhar o exame dos corpos.

Durante a ação, uma idosa foi baleada e encaminhada para o hospital estadual Alberto Torres, em São Gonçalo. Segundo o Instituto Fogo Cruzado, neste ano, 25 idosos já foram baleados na região metropolitana no Rio e 9 deles morreram.

A polícia diz ainda que, durante a operação, os agentes foram atacados em uma área de mangue, na qual ocorreu troca de tiros com suspeitos.

Os policiais apreenderam munições de fuzil, cinco carregadores e uniformes camuflados. Os corpos encontrados pelos moradores estavam perto da área em que houve o suposto confronto. ​

Vice-presidente da Comissão de Direitos Humanos da OAB-Rio, Nadine Borges diz que ação pode ter sido uma represália à morte do PM. "O que nós sabemos dos moradores é que há muita tensão e muito medo. Ao que tudo indica, foi uma represália à morte do policial no sábado. É um caso muito grave", diz ela.

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