São Luiz do Paraitinga, cidade que realiza um tradicional Carnaval de rua, cancelou nesta terça-feira (23) a edição de 2022 da folia de rua. A lista de municípios que não terão a festa chega a 58 no interior paulista, litoral e Grande São Paulo.
A principal justificativa das prefeituras é o medo de que a aglomeração intensifique a contaminação da Covid-19 e, assim, gere uma nova onda da pandemia.
No estado de São Paulo, 73,5% da população está com o esquema primário da vacina contra Covid completo, e 83,8% está com ao menos uma dose do imunizante contra o coronavírus.
O Carnaval de rua de 2022 na capital paulista ainda depende das aprovações dos órgãos de Saúde que avaliam o cenário epidemiológico da pandemia da Covid-19. A prefeitura recebeu 867 inscrições de desfiles de blocos de rua –os cortejos serão entre os dias 19 de fevereiro e 6 de março.
Em nota, a Prefeitura de São Luiz do Paraitinga afirmou que o atual momento ainda necessita de atenção e responsabilidade, não sendo propício para um evento de tamanha magnitude.
"É com pesar que se tomou essa decisão, já que não ignoramos o quanto nosso povo se identifica com essa manifestação cultural e ainda o quanto ela representaria para a economia local", informa a nota. "O Poder Público não pode se furtar de exercer sua função de zelar pela saúde pública, que é o bem mais importante de todos."
Em Sorocaba, a prefeitura afirmou que deixará de investir recursos públicos no Carnaval de 2022, mas não proíbe parcerias entre blocos e a iniciativa privada. A gestão Rodrigo Manga (Republicanos) promete aplicar a verba da folia em saúde, educação e segurança.
Numa reunião conjunta em Guariba (a 339 km de São Paulo), 12 prefeituras decidiram não realizar o Carnaval do ano que vem, entre elas Jaboticabal, Taquaritinga e Monte Alto.
"Foi decidido por unanimidade que as cidades não realizarão o Carnaval em respeito às vítimas da Covid-19 e também o receio de uma nova onda do coronavírus", afirmou o prefeito de Guariba, Celso Romano (PSDB).
Em Franca, o prefeito Alexandre Ferreira (MDB) anunciou nesta segunda-feira (22) que não haverá eventos promovidos pela prefeitura no Carnaval do ano que vem.
Ele alegou que o trânsito de pessoas de outros municípios para a cidade é uma preocupação, mesmo com a maior parte da população já tendo recebido duas doses da vacina contra a Covid-19.
"Atravessamos a pior fase da pandemia neste ano. Todos nós sofremos muito, perdemos muitas pessoas. [...] Depois de tanto sofrimento, tanta angústia, dor e esforço, não podemos mais correr riscos", afirmou o prefeito.
CIDADES QUE CANCELARAM O CARNAVAL
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Altinópolis
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Barrinha
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Borborema
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Botucatu
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Brodowski
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Cabreúva
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Caçapava
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Caconde
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Cajuru
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Cássia dos Coqueiros
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Cunha
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Descalvado
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Dobrada
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Dumont
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Franca
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Guariba
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Iacanga
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Ibitinga
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Itápolis
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Itupeva
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Jaboticabal
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Jarinu
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Jundiaí
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Lins
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Louveira
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Mogi das Cruzes
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Monte Alto
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Monteiro Lobato
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Natividade da Serra
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Orlândia
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Paraibuna
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Pitangueiras
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Pradópolis
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Poá
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Potirendaba
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Roseira
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Sales Oliveira
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Salesópolis
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Santa Cruz da Esperança
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Santa Ernestina
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Santa Isabel
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Santa Rosa do Viterbo
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Santo Antônio da Alegria
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Santo Antônio do Pinhal
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São Bento do Sapucaí
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São Joaquim da Barra
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São Luiz do Paraitinga
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São Simão
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Sarapuí
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Sorocaba
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Suzano
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Taquaritinga
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Taubaté
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Ubatuba
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Urupês
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Valinhos
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Várzea Paulista
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Vinhedo
Na opinião do infectologista Evaldo Stanislau de Araújo, assistente-doutor da Divisão de Moléstias Infecciosas e Parasitárias do Hospital das Clínicas, professor universitário e consultor em saúde pública e privada, é preciso aprender com a pandemia. O Carnaval desempenhou um papel muito importante na amplificação e na velocidade com que a Covid-19 se instalou no Brasil.
"Nós demos margem para que o Carnaval servisse como um grande disseminador. O segundo aspecto de lições aprendidas é a Europa, com novo aumento de casos em países onde a vacinação é menor, inclusive com gravidade. Onde a vacinação está mais consolidada, há casos, mas sem aumento de mortalidade", explica Araújo.
"Eu ressaltaria que pouco mais da metade da população mundial está vacinada contra a Covid. Isso significa que há possibilidade real de que, neste momento, em algum lugar do mundo, uma nova variante esteja sendo gerada e possa ganhar o mundo. Todas essas já seriam razões para parar e refletir."
O especialista ainda aponta outro fator: a qualidade da resposta imunológica. O Brasil tem uma população recém-vacinada e muito exposta ao vírus por infecção natural.
"Desta forma, a nossa memória imunológica na quantidade de imunidade que a gente tem é relativamente alta neste momento. Se a gente for olhar daqui a poucos meses, no Carnaval, pode ser que não tenhamos uma memória imunológica tão robusta", ressalta o especialista.
"Se por acaso cometermos algum deslize na nossa política vacinal, isso cobrará um preço, porque, com a circulação de brasileiros para fora do país e de estrangeiros no Brasil durante as festas de fim de ano e Carnaval, poderemos ter a introdução de variantes e um espalhamento de vírus", diz Araújo.
"Temos que ser bem claros. Não há máscara e nem distanciamento, e nós temos um ambiente bem propício para a disseminação do vírus. Por todas essas razões, o Carnaval 2022 é um equívoco. Se todas essas razões não bastassem, temos outra moral e ética, que é a lembrança de mais de 600 mil brasileiros que morreram de Covid-19", completa.
Para Renato Grinbaum, consultor da SBI (Sociedade Brasileira de Infectologia), a decisão é difícil e não é uma questão de sim ou não. "Se continuarmos do jeito que estamos hoje, pode manter, mas as pessoas precisam usar máscaras. Aliás, o Carnaval é uma ótima oportunidade para usar máscara. O país tem que voltar a funcionar. A pandemia não acabou, mas o Brasil precisa passar pelo risco", afirma.
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