Mortes: Foi o guardião de obras raras na Biblioteca Mário de Andrade

Por 32 anos, Rizio Bruno Sant'Ana cuidou da preservação do segundo maior acervo de livros raros do Brasil

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São Paulo

Por mais de três décadas, os 40 mil livros raros e especiais da Biblioteca Mário de Andrade tiveram um incansável guardião. Rizio Bruno Sant’Ana cuidou de todos os aspectos para a preservação e ampliação do segundo maior acervo de obras raras do Brasil.

Sant’Ana começou a trabalhar na biblioteca dois anos após se formar em biblioteconomia na USP, em 1987. Logo nos primeiros meses já demonstrou interesse especial pela seção de obras raras.

"Ele era encantado por livros raros. Quando os bibliotecários mais antigos da seção começaram a se aposentar, ele foi convidado para trabalhar na área e nunca mais saiu de lá", conta a coordenadora da seção, Joana Moreno de Andrade, colega de Sant’Ana por mais de 20 anos.

 Rizio Bruno Sant'Ana cuidou da preservação do segundo maior acervo de livros raros do país
Rizio Bruno Sant'Ana cuidou da preservação do segundo maior acervo de livros raros do país - Acervo/Biblioteca Mário de Andrade

Sant’Ana se envolvia em todo o processo de cuidado com as obras, desde a análise da importância histórica e a raridade do documento até a segurança física. Na seção, era responsável por selecionar, cuidar e catalogar livros, documentos, gravuras, periódicos e fotografias.

Tinha especial interesse pelas edições originais dos principais viajantes estrangeiros, como Debret e Rugendas.

"As obras dos viajantes eram as que mais despertavam seu interesse. Não apenas pelo conteúdo e pelo que retratavam, mas pela forma como foram produzidos. Ele analisava tudo da obra, as ilustrações, a forma de impressão, a tipografia. Era um interesse pelo objeto inteiro", conta a colega.

Pelo cuidado que tinha com as obras, Sant’Ana se dedicava diariamente a garantir a climatização certa das reservas técnicas, a higienização para evitar traças e cupins, manutenção das instalações elétricas e segurança contra roubos.

Em 2006, quando obras raras dos séculos 18 e 19 foram furtadas da biblioteca, entre elas uma das mais antigas do acervo, o "Livro das Horas", de 1501, Sant’Ana ficou tão abalado que chegou a emagrecer.

"Ele tinha um senso de responsabilidade enorme pelo acervo e ficou muito entristecido com o roubo. Lembro que, no meu primeiro de trabalho na seção, a primeira coisa que me ensinou foi como mexer no quadro de força da seção. Para ele, o mais importante era a preservação das obras", relembra Andrade.

Sant’Ana só se afastou da Mário de Andrade por dois anos de sua vida profissional na década de 1990, quando foi convidado para atuar na Biblioteca do Congresso dos Estados Unidos.

Em setembro de 2020, foi diagnosticado com um câncer no sistema linfático e, mesmo durante o tratamento, não se afastou dos trabalhos da biblioteca. Até quando estava de licença médica, continuou as pesquisas para a catalogação e aquisição de novas obras.

Inclusive, preparou uma lista com obras raras que encontrou em livrarias americanas e europeias para serem adquiridas para o acervo da Mário de Andrade. "Ele selecionou o que seria importante para nós. No ano que vem, vamos atrás desses livros. É uma parte do enorme legado que o Bruno nos deixou."

Sant’Ana morreu na manhã de 24 de dezembro, aos 65 anos. Deixa a mulher, Marisa Gross.

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