Mortes: Fundador do Ó do Borogodó, marcou a história do samba em SP

Leo Gola gostava de estar cercado de gente, e foi um elo firme entre os seus

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São Paulo

Para Leo Gola (1974-2021), o alemão da cuíca, o Leo Sem Vintém, o Leozinho do Ó, a vida era uma festa. Ele gostava de fazer uns torresmos carnudos e pururucados para a feijoada com batida, apimentar o peixe ao curry até o limite do suportável para atiçar a língua, preparar churrasco em dia de diversão —sua mãe era a grande anfitriã dos amigos em sua adolescência.

Seu amor pela comida era como o amor de Plutarco —sentamos à mesa não para comer, mas para comermos juntos. O que ele queria era estar cercado de gente, e foi um elo firme entre os seus.

Leo tinha uma alegria incontida nas mãos. Desembainhava a cuíca, sentava na roda de samba, batucava. Noutras horas, puxava o trombone, entoava mais um samba. Um dia, comprou um botequim e fez dele o Ó do Borogodó na atual configuração, com sua irmã Ste, uma parceira de vida, na alegria e na tristeza. Traçou, na Vila Madalena, a história do samba em São Paulo —e deixou a cidade mais festiva em dias de Carnaval. Levou o samba e as pessoas para a rua —e assim ia tentando mudar o mundo.

Leonardo Gola Piacentini (1974-2021)
Leonardo Gola Piacentini (1974-2021) - Leonardo Gola no Instagram

Ele ensinou o melhor pirão de que se tem notícia à sua amiga Gra, presenteou sua afilhada com um pandeiro, mostrou ao seu filho João como andar de bicicleta sem rodinha. Também o conduziu na manipulação das facas na cozinha —cozinhavam juntos.

Gostava de facas, em particular. Sabia afiá-las com perícia e as carregava protegidas em caixas quando saía de São Paulo. Comprou uma no Japão, onde comeu os melhores peixes de que tinha memória. Esteve no país para assistir a um jogo do Corinthians com o pai.

Com doçura e gentileza, Leo insistia em uma tríade delicada: falava de futebol, de religião e de política. Um amigo contou que nunca o viu tão ansioso quanto no dia em que fez uma pergunta ao ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT), em uma plenária.

Leo tinha o céu dos dias mais brilhantes nos olhos —o céu inteiro. E quando o azul reluzia no mar, era como se sua alegria infiltrasse no mundo. Construiu uma casa no Pouso de Cajaíba, em Paraty (RJ), à beira da praia. Lá, ganhou uns afilhados a mais, perdeu um barco naufragado, remou sua canoa em mares lisos e revoltos. Gostava dos peixes frescos, das pessoas e de dona Dita, a senhora mais resistente dessa vila de pescadores, que lhe foi como parte da família.

O Leo é o nosso Quincas Berro D'Água. Recebe ao fim da vida um samba com os amigos —uma festa para a morte, o gurufim que ele fez ao longo de sua trajetória em todas as nossas dores mortais e nos ajudou a seguir em frente.

Este texto foi escrito com a colaboração de amigos do Leo, que deixa pai, mãe, duas irmãs, um irmão e o João, seu filho de oito anos.

O velório será nesta quarta-feira (15) no Ó do Borogodó (R. Horácio Lane, 21) a partir das 19h até as 7h de de quinta (16). A cerimônia de cremação será na sequência, às 9h, no Memorial Santo André, na Avenida Queiroz Filho, 1.750, em Santo André (SP).

coluna.obituario@grupofolha.com.br

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