Maria Antonieta Etzel De Mingo nasceu em São Paulo, poucos anos após a epidemia de gripe espanhola e muitas décadas antes de se falar em empoderamento feminino. Mas a história de Kika, como gostava de ser chamada desde criança, mostra que ela foi uma mulher empoderada.
Kika passou a infância na Casa do Administrador, no Parque da Luz (região central da capital paulista), pois seu avô Antônio Etzel era um dos administradores do local. Ao lado dele e do pai Arthur Etzel aprendeu a cuidar da natureza.
Educada para ser mãe e dedicar-se aos filhos e afazeres de casa, a vida não lhe deu a oportunidade de cursar uma faculdade, mas ela teve um emprego que adorava: foi bibliotecária na Biblioteca Infantojuvenil Monteiro Lobato, na Vila Buarque (centro).
Kika casou-se com o engenheiro químico Flávio De Mingo. Aos 34 anos, ao ficar viúva, sua vida virou do avesso. Sozinha, precisava continuar a criar as filhas Luiza e Cristina, com 12 e 8 anos na época.
Além disso, assumiu a direção administrativa da empresa do marido —em sua gestão, do ramo de embalagens— sem formação e experiência em negócios. Kika tirou de letra.
"Ela aceitou o desafio e as dificuldades; desbravou caminhos e venceu preconceitos com carisma e simpatia. Foi querida e admirada por todos", afirma o advogado Luiz Armando Badin, 49, seu neto.
A filha Luiza Beatriz De Mingo Badin concorda. "Minha mãe era uma pessoa superativa, objetiva, animada e alegre. Tinha empatia por todos, fossem eles amigos, parentes ou funcionários. Adorava bater papo. Nunca se queixava e não era rancorosa. Não guardou mágoas, apesar de tudo o que sofreu com a viuvez precoce, na flor de seus 34 anos. Só transmitiu para nós bondade, tranquilidade e muito amor", diz.
Kika parou de trabalhar com cerca de 85 anos e dirigiu o próprio carro até quando sua condição física permitiu. Ia do Jardins, onde morava, a Osasco (na Grande São Paulo), sede da empresa. Adorava caipirinha e não abriu mão de saboreá-la até pouco tempo antes de morrer.
Alegre, gentil, acolhedora e generosa, sempre demonstrou respeito, interesse, carinho e empatia pelas pessoas. Embora não tenha tido educação formal, gostava de viajar, ler e de cultura.
Participou da vida das filhas, dos netos e bisnetos, e deixou a todos boas memórias. Kika morreu dia 22 de novembro, aos 98 anos, por problemas causados pela idade avançada. Viúva, deixa duas filhas, cinco netos e seis bisnetos.
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