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ONG oferece 'bolsa xadrez' a crianças carentes na Grande São Paulo

Cerca de 20 alunos recebem ajuda de custo e cestas básicas para frequentar as aulas de aprendiz de enxadrista

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São Paulo

Para entrar em um dos barracos da favela Recanto Suave, localizada entre condomínios fechados em Cotia, na Grande São Paulo, é preciso dizer a senha: "menos violência". Em resposta, quem está lá dentro permite a entrada com outro código: "mais amor".

Na casinha de madeira sobre o córrego que faz as vezes de esgoto, funciona cinco vezes por semana o clube de xadrez voltado às crianças carentes da favela. "Os jogos são um pretexto para ensinar uma série de coisas", diz Luciana Damásio, 54, fundadora da ONG Casa Bodisatva, que tem os torneios como a principal atividade social.

Crianças jogam xadrez
ONG Casa Bodisatva oferece aulas de xadrez para famílias da comunidade Recanto Suave, em Cotia - Mathilde Missioneiro/Folhapress

Uma das primeiras lições, segundo Luciana, foi a forma de comunicação não violenta, por isso o código criado para entrar no barraco. "Antes, era uma guerra entre eles. Quando um perdia a partida, os outros o agrediam verbalmente. Hoje eles se apoiam", diz a fundadora da ONG inaugurada em 2015. "Alguns não querem ir embora porque sofrem violência em casa, ou não têm o que comer", continua.

O nome da ONG é uma expressão do budismo tibetano que significa "quem dedica a vida à felicidade e a acabar com o sofrimento dos outros". "Somos aspirantes a bodisatva", diz Luciana.

Habituada ao voluntariado em asilos e orfanatos, Luciana decidiu se dedicar à favela perto de onde mora após um trabalho social feito no centro de São Paulo com um mestre tibetano e um grupo de amigos durante o Natal em 2013.

As primeiras aulas de xadrez eram dadas dentro da casa de uma moradora da favela, mas rapidamente o espaço se tornou pequeno diante da alta demanda. Os tabuleiros, então, passaram a ser montados em uma quadra próxima. Hoje, a Casa Bodisatva atende cerca de 30 crianças e distribuiu a "bolsa xadrez" a 20 delas, aproximadamente.

O auxílio é uma ajuda de custo mensal, além de cestas básicas e itens de higiene que são doados aos alunos mais assíduos. Para ser beneficiado, é preciso também frequentar a escola.

Durante a pandemia, os torneios de xadrez foram adaptados para as plataformas online e, há cerca de três semanas foram retomadas as aulas presenciais. "No primeiro dia de encontro, apareceram 40 pessoas. Foi quando decidimos comprar essa casinha de palafita na favela e dar as aulas ali", diz Luciana.

Além de Fábio Damásio, 56, marido de Luciana e amante de xadrez alçado a instrutor informal, as crianças têm a orientação de enxadristas profissionais que os visitam aos finais de semana.

​Entre os alunos de mais destaque, está Carla Cruz, 11. Diagnosticada com lúpus há um ano, a menina encontrou nas partidas de xadrez uma distração para os longos períodos de internação. "Ela joga com os médicos e enfermeiros", diz a mãe, a dona de casa Noares Cruz, 44. "Uma vez fui tentar jogar com outra criança e não consegui, é difícil", diz a mãe.

A fundadora da ONG conta que muitas das crianças nunca tinham saído do entorno da favela. "Algumas nunca tinham ido ao centro de São Paulo ou cruzado a ponte do rio Pinheiros", disse.

No ano passado, as crianças participaram de uma excursão ao litoral paulista para participar de um torneio. "Foi a primeira vez que muitas viram o mar", diz Luciana.

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