'Seu moleque. Irresponsável', diz prefeito de SP em bate-boca sobre IPTU no WhatsApp

Ricardo Nunes discutiu com assessor de vereador do PT sobre o reajuste do imposto

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São Paulo

O prefeito de São Paulo, Ricardo Nunes (MDB), discutiu com um apoiador dos vereadores Jair e Arselino Tatto, ambos do PT, em um grupo de WhatsApp. O bate-boca no grupo Zona Sul Notícias ocorreu no domingo (12) devido a críticas relacionadas ao reajuste do IPTU na cidade.

Enquanto governistas citam uma trava no reajuste pela inflação até 2024, a oposição bate o pé dizendo que, apesar disso, os mais pobres serão mais prejudicados. O assunto, sempre potencialmente desgastante à imagem do governante da vez, tem irritado Nunes.

Um assessor parlamentar de Arselino Tatto, Altair Gomes, conhecido como Bebezão, repetiu o argumento em um grupo de moradores da zona sul, causando a reação do prefeito.

O prefeito Ricardo Nunes visita obras no Estádio do Pacaembu
O prefeito Ricardo Nunes visita obras no Estádio do Pacaembu, em São Paulo, em novembro deste ano - Danilo Verpa/Folhapress

Nunes, então, respondeu ao homem dizendo que se tratava de mentira e que não haveria aumento do IPTU. "Seu moleque. Irresponsável. Mentiroso", escreveu o prefeito.

Ao ser perguntado pelo homem se o vereador Jair Tatto mentia em vídeo encaminhado por ele, Nunes respondeu: "Está mentindo. É um mentiroso. Vocês são distribuidores de fake news. Irresponsáveis".

Questionada sobre o assunto, a prefeitura citou a trava e que população mais vulnerável continuará tendo benefícios no cálculo do IPTU.

A reportagem conversou com o assessor parlamentar que participou da discussão. Ele disse que não sabia que Nunes estava no grupo em questão.

"Eu fiquei sabendo na hora em que ele me chama de moleque", disse. "Respondi para ele educadamente, não ofendi ele em momento nenhum".

Segundo o assessor, Nunes ainda conversou com ele no modo privado sobre o assunto. A reportagem teve acesso a um áudio que o assessor diz ter enviado a Nunes na conversa, em que afirma que o prefeito não aceita críticas.

Ao fim, porém, segundo ele, o prefeito baixou o tom e sinalizou positivamente para uma conversa no futuro.

No fim de novembro, a Câmara Municipal de São Paulo aprovou, em segundo turno, o projeto de reajuste da base de cálculo proposto pela gestão Nunes.

A nova regra prevê reajuste pela inflação até 2024. No entanto, a oposição argumenta que a lei é regressiva e prejudica mais a população da periferia.

Nesta segunda, Tatto reafirmou as críticas de regressividade que vinha fazendo ao projeto de Nunes. Ele exemplificou à Folha que a proposta diminui o valor pago em áreas nobres da cidade.

"Onde reduziram a correção da planta genérica de valores? Aí não tem trava, né?", disse. "Uma coisa é chamada de IPTU progressivo, e uma coisa é, que eles fizeram, [IPTU] regressivo".

O vereador também disse que, apesar da discussão sobre o tema, Ricardo Nunes é seu amigo e que não tem nada contra ele.

De acordo com nota técnica feita pelo PT e PSOL na época da aprovação do projeto, haverá crescimento de arrecadação do IPTU de 33% no centro, 36% no centro expandido e nas duas zonas que representam as regiões periféricas aumentos de 70% e 78%.

Questionada nesta segunda sobre o imbróglio, a gestão Nunes citou novamente a questão da trava.

"A Prefeitura de São Paulo esclarece que, justamente para não afetar as parcelas menos abastadas da sociedade, a nova legislação estabeleceu novo valor máximo para a isenção total, de R$ 230 mil, aumento de 43% em relação ao piso anterior (R$ 160 mil)", diz o comunicado.

A prefeitura também citou atualização para o valor do desconto, de R$ 320 mil para R$ 345 mil.

"Ou seja, as pessoas mais vulneráveis continuarão tendo benefícios no cálculo do IPTU. Em 2021 a cidade de São Paulo possuía 1,1 milhão de imóveis isentos de IPTU e outros 668 mil com descontos parciais do imposto. Ou seja, metade dos 3,5 milhões de imóveis do município têm isenção total ou parcial. A projeção é que esse patamar fique estável. A planta genérica de valores não sofre atualização desde 2013 e a nova lei prevê uma trava que impede reajuste acima da inflação", completa a nota da prefeitura.

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