Descrição de chapéu Folha Verão férias

Em Guarujá, praias lotadas têm disputa de caixas de som entre turistas

Código municipal proíbe uso de equipamentos sonoros na praia; cidade do litoral paulista registrou 1.690 ocorrências do tipo desde dezembro

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Guarujá (SP)

Chamou atenção entre mais de uma centena de guarda-sóis espalhados por um dos movimentados trechos da praia da Enseada, em Guarujá, no litoral sul paulista, um raro registro de um grande grupo de pessoas sem a presença de uma caixa de som potente ligada.

Diferente de quase todos ao redor, a analista financeira Isabelle Medeiros, 27, tinha o item de 20 watts de potência pendurado –quase esquecido– em uma das hastes do guarda-sol alugado.

"Não queremos ligar, mas imagino que vamos ter que fazer porque é tanto barulho [de outras caixas] que fica insuportável. Digo que é a farofa da música", disse Isabelle à Folha. "Fica pior mais tarde, principalmente depois que bebem", completa

Acompanhada de amigos e familiares, todos vindos de São Paulo, o grupo de oito pessoas foi só um dos que lotou no sábado (22) a praia mais movimentada do município carregando um cooler com bebidas e, principalmente, aparelhada de som debaixo de calor escaldante.

amigos sentados em cadeiras de praia, embaixo de guarda sóis em um dia ensolarado no litoral. um deles ajusta o volume de uma enorme caixa de som preta no centro da roda
Na praia da Enseada, no Guarujá, banhistas levam além da tradicional cerveja, suas caixas de som para ouvir suas músicas favoritas. Na foto, o grupo de amigos do músico Michael Ferreira dos Santos, 28, (no centro, com a mão na caixa de som) turistas de Campinas - Jardiel Carvalho - 16.jan.2022/Folhapress

A poucos metros deles, por exemplo, era possível ouvir a voz do cantor Gusttavo Lima misturado à da dupla sertaneja Milionário e José Rico.

"Meu bem como é maravilhoso sonhar com você", cantava alto a empresária Daniella Chelinho, 40, apontando para o marido Amarildo Mariano Veronez, 53.

A declaração de amor, na verdade, é a reprodução de um trecho da música "Sonhei com você", uma das mais populares de autoria dos cantores.

O grupo de 14 pessoas chegou na última sexta (21) de Cuiabá para passar cinco dias na praia. Os estilos ouvidos são variados entre rasqueado, pagode e sertanejo. "Só não pode ter funk", explica ela aos risos.

As caixas vão desde modelos mais compactos a outros robustos, amplificadas por mais de 550 watts de potência e acompanhadas de carrinho para transporte pelo tamanho.

Na lista de artistas preferidos do músico Michael Ferreira, 28, estão Jorge e Matheus, Marília Mendonça e Gusttavo Lima. Ele diz nunca ter ouvido reclamações de vizinhos de guarda-sóis.

"Na sexta, nos pediram até para ficar, estavam gostando muito do som. Tínhamos chegado cedo, às 9h, então pedimos desculpas e saímos", diz Ferreira, morador de Campinas.

Situação completamente oposta viveu o comerciante Hueslel Rodrigues, 23, de Guarulhos, que recorda ter recebido de uma pessoa um pedido para baixar o som enquanto ouvia Wesley Safadão.

"Queríamos, na verdade, era ouvir o nosso rap: Filipe Ret, Matuê ou Orochi, mas isso chama atenção por aqui. Vamos de Safadão mesmo", explica Hueslel.

O médico Pedro Partata, 26, conta ter passado por constrangimento semelhante em Juquehy, no litoral norte. "Nos pediram para diminuir o som porque estavam tentando ler. O goiano evita confusões. Diminuí e pronto", relata.

Acompanhado do amigo e empresário Diego Baeza, 27, eles potencializaram o som com duas caixas sincronizadas da marca JBL. "Ela já fica no meu porta-malas. Brinco que faz parte do meu corpo, levo sempre", conta Baeza, que veio de Anápolis (a 59 km de Goiânia).

Em todo o período na praia, a Folha não registrou nenhuma fiscalização ou ouviu qualquer relato de ação por parte do município.

Ambulantes senegaleses foram figuras constantes nas areias oferecendo caixas de som que iam de R$ 70 a R$ 150, com três tamanhos diferentes. Nos melhores dias eles vendem seis delas. Outros também ofertam roupas.

Segundo o inciso quarto do artigo 100-A do Código de Posturas Municipal "é proibido o uso de equipamentos sonoros, caixas de som e instrumentos de percussão na faixa arenosa, jardins e calçadões". A infração pode resultar em orientações ou até mesmo multas.

"É rotina no fim de tarde a faixa de areia e o calçadão ficarem tomados por grupos com caixas de som. Muitas vezes são tantos misturados que não é possível ouvir nada com clareza, apesar do som alto. Há muitas brigas, também", relata Marcelo Yamaura, 48, dono de um estabelecimento comercial localizado bem em frente à praia.

Em nota, o município diz que desde o início da operação verão do governo estadual o maior número de ocorrências registrado é, justamente, referente ao som abusivo em praias como Guaiúba, Tombo, Astúrias, Pernambuco e Enseada, com maiores incidências e onde foram apreendidos dois equipamentos.

Entre 18 de dezembro e 1º de janeiro, a fiscalização apontou 4.577 irregularidades, sendo 1.690 por este motivo. Ao receber a denúncia, a fiscalização vai até o local e orienta o responsável a recolher o som. Em caso de reincidência são acionadas a Polícia Militar e a Guarda Civil municipal para realizar a apreensão.

O bom tempo aliado ao feriado municipal desta terça-feira (25), em comemoração pelo aniversário de São Paulo, atraiu ainda mais turistas às praias. Diversos carrinhos que alugam guarda-sóis e cadeiras já não tinham mais disponibilidade e cobravam R$ 160 reais pelo empréstimo até as 17h.

O DER estima que, até o dia 25, cerca de 201 mil veículos trafeguem para o litoral norte, 296 mil para o litoral sul, 113 mil na rodovia Mogi-Bertioga, 385 mil na Raposo Tavares, além de 51 mil na Oswaldo Cruz.

Erramos: o texto foi alterado

A reportagem afirmou anteriormente que médico Pedro Partata era cuiabano. Na verdade, ele é goiano.

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